Exemplares de ostras: herpes pode ter uma taxa de mortalidade de 100% (P.Lameiro/Wikimedia Commons)
Da Redação
Publicado em 15 de dezembro de 2014 às 20h39.
Melbourne - O herpes devastou 26 por cento da produção de ostras da França desde o verão de 2008. Do outro lado do mundo, na Austrália, o vírus matou 10 milhões de ostras em três dias.
Os pesquisadores suspeitam que a mudança climática pode agravar as perdas.
Para saber mais sobre como o vírus e a água mais quente do oceano afetam as ostras do Pacífico, pesquisadores da Organização Nacional de Pesquisa Industrial e Científica (CSIRO), da Austrália, e da Universidade da Tasmânia estão usando cola dental para prender monitores de batimentos cardíacos a meia dúzia delas.
Outras doze ostras do Pacífico são monitoradas em um laboratório interno, onde a luz e a temperatura são alteradas para medir modificações em suas reações fisiológicas.
“Você pode subir na cerca e observar suas vacas ou ovelhas, mas não dá para fazer isso com as ostras”, disse Nick Elliott, líder do grupo de pesquisas em agricultura da CSIRO, que está conduzindo o grupo de investigação em Hobart, Tasmânia. “Não dá para medir o desempenho pela cara delas”.
Elliott espera que a reação das ostras responda às perguntas que estão assolando um setor global de US$ 4,1 bilhões que luta contra um vírus do herpes que pode ter uma taxa de mortalidade de 100 por cento.
Os resultados também poderiam ajudar a esclarecer como mitigar os efeitos do aquecimento do oceano na indústria internacional da pesca e da aquicultura, responsável por até 16,5 por cento da proteína consumida pela população mundial, de acordo com a Organização Mundial da Saúde.
Matador de moluscos
O Ostreid herpesvirus-1, também conhecido como Síndrome da Mortalidade de Ostras do Pacífico, pode matar a maior parte do rebanho de uma fazenda marinha de moluscos jovens em um único dia e foi vinculado a mortes de ostras na Europa, na Austrália e na Nova Zelândia. Ele ataca principalmente ostras com menos de um ano de idade, de acordo com o Instituto de Pesquisa Francês para a Exploração do Mar.
Na Europa, o vírus começa a matar ostras quando a temperatura da água chega a cerca de 16 graus Celsius.
Cultivo de ostras
“Para cultivar ostras, você não as alimenta ativamente”, disse John McCulloch, engenheiro de pesquisa de produtividade digital da CSIRO. “Na verdade, como fonte de alimento a ostra depende da mistura natural de algas, que varia bastante mesmo com ínfimas mudanças do clima”.
O herpes da ostra não faz mal às pessoas, não tem a ver com o vírus que atinge os humanos e não é possível contrair a doença pelo consumo de ostras infectadas. Além disso, ninguém ia querer se aproximar delas: as criaturas marinhas comem a carne das ostras mortas e qualquer resquício que sobre quando o molusco é retirado da água fede a podridão.
"Algo mudou"
Os amantes de ostras na França já estão desembolsando mais para satisfazer seus desejos. Os preços atacadistas das ostras francesas aumentaram 36 por cento desde dezembro de 2008, de acordo com dados do Instituto Nacional de Pesquisa Econômica e Estatística, em Paris.
Embora infecções provocadas pelo herpes já tivessem ocorrido antes nos EUA, no Japão e na Europa, “algo mudou no verão de 2008 na França”, disse Richard Whittington, professor de saúde animal da Universidade de Sidney. “Parece que ocorreu uma mutação em algum dos vírus historicamente comuns, que o transformou de um incômodo eventual a um matador. E ele matou em proporções nunca vistas antes”.
A indústria de ostras da Austrália vale cerca de 100 milhões de dólares australianos (US$ 83 milhões) a cada ano, de acordo com o governo.
Embora ninguém saiba como o herpes viajou para a Austrália ou para a Nova Zelândia, ele pode se espalhar pelos alimentos.
“Se o vírus chegar à Tasmânia e à Austrália Meridional, a indústria nacional de ostras estará em grandes problemas”, disse Graham Mair, administrador do programa de inovação para a produção do Centro Cooperativo Australiano de Pesquisa de Frutos do Mar, com sede em Adelaide.