Fernando Haddad, da Fazenda: governo pode elevar alíquotas de JCP e CSSL caso compensações da reoneração não sejam suficientes (Hollie Adams/Getty Images)
Repórter especial de Macroeconomia
Publicado em 25 de fevereiro de 2025 às 10h20.
Última atualização em 25 de fevereiro de 2025 às 12h31.
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou nesta terça-feira, 25, o governo trabalha para arrumar as contas públicas sem que esse custo recaia sobre os mais pobres. Segundo ele, o desafio da equipe econômica é grande e parte dele passa por combater o patrimonialismo de grupos privilegiados que ainda possuem diversos benefícios tributários.
Na avaliação de Haddad, esse ajuste nas contas públicas deve ser calibrado para evitar uma desaceleração que reduza significativamente o crescimento econômico.
"Não acredito que o Brasil, sem crescimento, vai conseguir operar esse milagre que é fazer esse ajuste. E não vejo crescimento se a gente bombardear o andar de baixo. Penso que é um receituário que deveria fazer sentido para mais gente combater privilégios", disse o ministro, durante participação no CEO Conference, evento organizado pelo BTG Pactual (do mesmo grupo controlador da EXAME).
A mudança nas presidências do Senado e da Câmara não deve afetar a agenda fiscal do governo, afirmou Haddad. Segundo ele, tanto o senador Davi Alcolumbre (União Brasil - AP) quando o deputado Hugo Motta (Republicanos - PB) já sinalizaram que apoiarão o debate para reequilibrar os gastos públicos.
"Entendo que se recuperarmos os números pré-crise de 2015 e chegarmos em um patamar de receita de 19% e de despesa de 18%, eu acredito que teremos um horizonte de sustentabilidade", disse.
Haddad também avaliou que o momento no Brasil e mundo é de maior tensão do que em outros períodos. Segundo o ministro, o mercado está mais "tenso" e as pessoas estão com o "dedo no gatilho".
"O mercado está mais tenso do que em outros tempos. As pessoas estão mais com o dedo no gatilho para se proteger, para especular, dentro das regras do jogo. A situação é mais tensa. E eu penso que o contexto geopolítico é muito desafiador. Quando você vê uma turbulência na economia americana e falta de previsibilidade sobre o que as autoridades norte-americanas vão fazer, todos ficam tensos", disse.
Diante da turbulência global, Haddad afirmou que tem dedicado parte do tempo para conversar com autoridades de outros países para entender os efeitos nas economias emergentes.
"Rara a semana que não converso com uma autoridade de outro país. Converso com nossos pares como o México, Colômbia, China, Oriente Médio. No Oriente Médio há uma pressão enorme dos Estados Unidos para baixar o preço do petróleo, na marra. Isso vai comprometer investimentos, crescimento que tinham planejado até 20230", disse.
Segundo Haddad, a situação externa é desafiadora e é preciso serenidade nos momentos de maior turbulência.