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Haddad diz que 'primeira medida' para negociar tarifaço de Trump é tentar interlocução com EUA

Ministro afirma que governo já finalizou propostas de apoio a empresas, como uma linha de crédito aos setores mais afetados pelo tarifaço americano

Agência o Globo
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Publicado em 24 de julho de 2025 às 16h28.

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O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou nesta quinta-feira que mais de 10 mil empresas brasileiras serão afetadas pelas tarifas de 50% sobre produtos do Brasil importados pelos Estados Unidos, anunciadas por Donald Trump.

De acordo com ele, o governo estuda uma série de medidas como plano de contingência à tarifa, inclusive linhas crédito, e reiterou que o planejamento será apresentado ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva na próxima semana.

— São mais de 10 mil empresas brasileiras que seriam afetadas e os americanos também serão afetados, pagarão mais caro pelo café, pelo suco de laranja, pela carne — disse Haddad em entrevista à Rádio Itatiaia.

De acordo com o ministro, o governo já finalizou o plano de apoio aos setores que devem ser afetados pelo tarifaço americano. Ele afirma que as propostas serão levadas ao presidente Lula, que tomará a decisão final sobre qual medida será adotada.

— O plano de contigência está pronto, foi apresentado, a partir de segunda vamos preparar a apresentação apra o presidente. Tem medidas de todo gosto, para que ele, com toda a prudência e experiência que tem para negociar (decida). Tem propostas de todo tipo, inclusive linha de crédito.

Segundo Haddad, o governo brasileiro ainda aguarda retorno dos EUA de carta enviada em maio, que detalhava pontos a serem negociados após o presidente Donald Trump anunciar a primeira tarifa de 10% imposta a produtos brasileiros.

— Reiteramos as cartas que mandamos de maio para cá, enfatizando os pontos que estávamos dipostos a negociar e sabemos que são caros aos Estados Unidos, são vários temas que sabemos que são sensíveis para eles e estamos abertos a negociar, e para negociar, é preciso sentar à mesa, não há negociação.

De acordo com o chefe da equipe econômica, a prioridade do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva é tentar uma interlocução com os americanos para negociar saídas.

— A primeira medida que o governo está tomando é tentar uma interlocução com o governo dos Estados Unidos, em virtude do fato de que há brasileiros ligados ao ex-presidente (Jair) Bolsonaro que estão lá atuando para que as conversas não tenham início — disse o ministro.

Na entrevista, Haddad também criticou diversas vezes Bolsonaro e sua família. Na carta enviada ao Brasil em que anuncia as tarifas, Trump critica o andamento do processo judicial contra Bolsonaro no Brasil.

— Eu faço o apelo que as pessoas que tem amizade, respeito, admiração por essa família (Bolsonaro) podem fazer a diferença de sensibilizar. Ora, saiam do caminho, vocês perderam uma eleição, deixem o governo negociar. O governo assume bônus e ônus da negociação, mas saiam do caminho, desimpeça o caminho para que a mesa possa ser restabelecida, como estava há 60 dias atrás.

Pix

Em meio a investigações do Pix conduzidas por órgãos americanos, Haddad afirmou que o sistema de pagamentos instantâneo é superior aos métodos desenolvidos por empresas dos EUA.

— Nós desenvolvemos uma tecnologia melhor que a deles, e a gente não está cobrando nada por ela, ninguém está ficando rico com ela, ao contrário. O Pix não foi feito para enriquecer algum empresário, ele foi desenvolvido pelo estado brasileiro.

Minerais críticos

O governo dos Estados Unidos está interessado em realizar acordos com o Brasil para a aquisição dos chamados minerais críticos e estratégicos, como lítio, nióbio e terras raras. Essa mensagem foi transmitida a representantes do setor de mineração brasileiro, em reunião na quarta-feira, pelo encarregado de negócios da embaixada americana em Brasília, Gabriel Escobar. Ele é o principal representante dos EUA em Brasília, já que a representação americana no país está sem embaixador.

Conforme relatou ao GLOBO o presidente do Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram), Raul Jungmann, Escobar ouviu como resposta que qualquer negociação nesse sentido deve ser decidida pelo governo brasileiro, e não pelos empresários do setor. Afinal, esses minerais são bens da União.

— Foi demonstrado o interesse dos EUA nos chamados minerais críticos e estratégicos, mas deixamos claro que cabe ao governo decidir — disse Jungmann.

O caso foi levado em seguida por Jungmann ao vice-presidente Geraldo Alckmin. O vice do presidente Luiz Inácio Lula da Silva está no comando das negociações com os EUA, na tentativa de evitar que as exportações brasileiras sejam prejudicadas pela aplicação de uma sobretaxa de 50%, prevista para entrar em vigor no próximo dia 1º de agosto.

Informações concentradas

Nesta quarta, ao ser indagado sobre uma possível sinalização de recuo por parte do governo americano, respondeu que o Brasil tem feito tentativas de contato, mas que as informações estão concentrada na Casa Branca. A sua equipe chegou a procurar membros do Tesouro dos EUA, mas recebeu como resposta que as negociações estão com a Presidência.

— A informação que chega é que o tema está muito concentrado a assessoria da Casa Branca. Daí, a dificuldade de entender o movimento de lá — disse Haddad, acrescentando que o Brasil tem disposição em conversar, mas que é preciso vontade recíproca.

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