Economia

Habitantes das Malvinas por ora não pensam em independência

Apesar das reclamações de Buenos Aires e da perspectiva do dinheiro do petróleo, os kelpers querem continuar sendo britânicos

Vista da Igreja de Santa Maria em Puerto Mavinas/Stanley
 (Martin Bernetti/AFP)

Vista da Igreja de Santa Maria em Puerto Mavinas/Stanley (Martin Bernetti/AFP)

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Da Redação

Publicado em 2 de abril de 2012 às 12h33.

Porto Argentino - Os chamados kelpers, habitantes das ilhas Malvinas, são cidadãos britânicos desde a guerra entre a Argentina e o Reino Unido há 30 anos, mas agora não descartam pensar na independência ante as reclamações de Buenos Aires e a perspectiva do dinheiro do petróleo.

"No momento, queremos ser britânicos, mas pode acontecer que, na próxima geração, no exercício de sua autodeterminação, decida-se que o melhor é a independência", afirmou a legisladora local Jan Cheek à AFP.

Atualmente, as ilhas são um Território Britânico de Ultramar e Londres se encarrega de sua defesa e suas relações internacionais, e todo o resto fica a cargo da Assembleia Legislativa, da qual Cheek é integrante.

O custo da defesa das ilhas para o Reino Unido é de 180 milhões de dólares anuais, algo que facilmente poderia ser pago pelo governo local se as promessas de petróleo de ao menos 300 milhões se confirmarem.

Um breve passeio por Puerto Argentino não deixa dúvidas sobre o que querem ser os habitantes locais: boa parte dos volumosos veículos 4x4 estão adornados por bandeiras das Malvinas, com dizeres que afirmam "Ilhas Malvinas, britânicas até o tutano" ou "Somos britânicos e estamos orgulhosos".

Mas nenhum dos consultados pela AFP se animou a descartar a ideia da independência, em particular devido aos relatórios de uma milionária produção de petróleo.

"Agora somos britânicos e estamos contentes com isso, mas veremos o que acontecerá com o petróleo", ressalta um dos habitantes, Steve.

Se há algo claro é que não existe muita simpatia pela Argentina ou, pelo menos, desejam que a "Argentina abandone sua postura e reconheçam nosso direito de viver aqui como habitantes das Malvinas", afirma Stephen Luxton, diretor de Recursos Minerais do governo local.


Tanto Luxton como Cheek se referiram várias vezes às Malvinas como "nosso país".

E falar de "país", no caso das Malvinas, abre uma 'caixa de pandora' em termos de direito internacional.

Mas, segundo o jurista e consultor externo do governo argentino Eduardo Barcesat, nem seu país nem a ONU reconhecerão uma futura declaração de independência dos malvinenses.

"A ONU tem precedentes valiosos e aplicáveis (Ilhas Malgaches e Diego Garcia), que estabelecem que não há aplicação do direito de autodeterminação quando a população provém de uma conquista territorial colonialista".

Dessa forma, as Malvinas poderão terminar na posição de Kosovo, que se declarou independente da Sérvia em 2008 e hoje é reconhecido por 80 países, embora ainda não tenha reivindicado integração à ONU.

Washington Baliero, catedrático de Direito Internacional na Universidade da República, Uruguai, entende que "o Reino Unido pode consentir isso (a independência) em um acordo com o povo".

Baliero disse à AFP que o caso Malvinas é "sui generis" e que não se engloba 100% na esfera da descolonização, nem na da autodeterminação.

"Enquanto descolonização, não se trata de um povo não europeu fora da metrópole sujeito ao domínio colonial. Os kelpers são cidadãos britânicos e são de origem britânica", explicou.

"E a autodeterminação está pensada para um povo que foi colonizado. A opinião dos kelpers é de todas as formas importante, mas não é um tema de autodeterminação puro e simples", concluiu.

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