Economia

Guerra comercial EUA-China pode durar 20 anos, diz Jack Ma

As declarações do homem mais rico da China têm um peso especial porque ele é um ícone da inovação chinesa e é visto como um embaixador nos EUA

Jack Ma: "Se vocês querem uma solução de curto prazo, não há solução” (Aly Song/Reuters)

Jack Ma: "Se vocês querem uma solução de curto prazo, não há solução” (Aly Song/Reuters)

João Pedro Caleiro

João Pedro Caleiro

Publicado em 18 de setembro de 2018 às 16h21.

Última atualização em 18 de setembro de 2018 às 16h22.

O bilionário Jack Ma fez um alerta sério a respeito da guerra comercial entre os EUA e a China: a disputa será mais longa e terá um impacto maior do que a maioria das pessoas pensa.

O homem mais rico da China disse que a disputa pode durar 20 anos e continuar após a presidência de Donald Trump devido à batalha das duas maiores potências econômicas do mundo pela supremacia global.

A China precisa fortalecer sua economia para lidar com o conflito e transferir suas relações comerciais com os EUA para regiões como o Sudeste Asiático e a África, disse o presidente do conselho da Alibaba Group em discurso, durante conferência da empresa para investidores, em Hangzhou, na China.

“A curto prazo, as comunidades de negócios da China, dos EUA e da Europa terão problemas”, disse Ma, caminhando pelo palco vestido com uma camisa branca aberta e pontuando as observações com socos no ar. “Isso vai durar muito tempo. Se vocês querem uma solução de curto prazo, não há solução.”

Os comentários dele surgem horas depois de a China prometer retaliar o plano dos EUA de aplicar tarifas a cerca de US$ 200 bilhões em produtos chineses.

Ma disse que a Alibaba também será afetada pela escalada das tensões, já que seu negócio no atacado permite que comerciantes americanos comprem produtos da China. Mas ele também disse que o trauma oferecerá oportunidades sem precedentes para as empresas que forem capazes de aproveitá-las.

“Não devemos nos concentrar no lucro deste trimestre, do próximo trimestre ou do ano que vem. Esta é uma grande oportunidade”, disse. “Se a Alibaba não conseguir se manter e crescer, nenhuma empresa na China conseguirá crescer. Eu tenho 100 por cento de certeza disso.”

As declarações de Ma têm um peso especial porque ele é um ícone da inovação chinesa e é visto como um embaixador nos EUA. No ano passado, ele se reuniu com Trump e prometeu criar 1 milhão de empregos nos EUA até 2021.

Mas Ma, que anunciou há uma semana que pretende entregar a presidência do conselho ao CEO Daniel Zhang, não deixou dúvidas nesta terça-feira a respeito do seu apoio ao seu próprio país.

Se os EUA insistirem em aplicar tarifas aos produtos chineses, a China deve transferir seus negócios para o resto do mundo, disse.

“Quando surgirem problemas, aprendam a se esconder, aprendam a se capacitar”, disse. “Acredito que Daniel e sua equipe terão sabedoria para lutar pelo futuro.”

O discurso de Ma ressaltou o vazio que ele deixará quando deixar o cargo, daqui a um ano. O solilóquio foi acentuado por comentários sobre tudo, desde estratégias geopolíticas até a importância da autoconsciência dos limites individuais.

Ma disse estar confiante para deixar a empresa nas mãos de Zhang em um momento em que o CEO reforça as ambições da Alibaba no ramo do comércio eletrônico, o chamado novo varejo e entretenimento.

Essas iniciativas ajudarão a sustentar o crescimento de 60 por cento da receita no ano fiscal que termina em março, avanço revelado pela primeira vez em maio pela diretora financeira Maggie Wu. Esse tipo de crescimento provavelmente ajudará a Alibaba a ultrapassar seus pares globais, acrescentou.

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