(Dario Pignatelli/Bloomberg)
João Pedro Caleiro
Publicado em 14 de julho de 2018 às 08h00.
Última atualização em 14 de julho de 2018 às 08h00.
Talvez a guerra comercial entre EUA e China e a queda adicional de 10 por cento nas bolsas de mercados emergentes não sejam o pior que pode acontecer na economia global neste ano, segundo Mark Mobius. O investidor com longa experiência em países em desenvolvimento também enxerga uma crise financeira internacional no horizonte.
“Não há dúvida de que teremos uma crise financeira mais cedo ou mais tarde porque precisamos lembrar que estamos saindo de um período de dinheiro barato”, ele afirmou durante entrevista realizada em Cingapura. “Haverá um aperto de verdade para muitas dessas empresas que dependeram do dinheiro barato para se manter.”
A redução da liquidez com a normalização da política monetária pelo Federal Reserve dos EUA e pelo Banco Central Europeu prejudicaram os mercados emergentes neste ano, juntamente com a valorização do dólar e a deterioração da conjuntura de comércio internacional.
A disputa entre EUA e China tende a se agravar, uma vez que as tarifas impostas pelos EUA dificilmente afetarão negativamente o presidente americano, Donald Trump, dado que o impacto inflacionário dessas medidas será compensado pela alta de salários nos EUA por causa do baixo nível de desemprego, argumentou o investidor.
Mobius, que deixou a Franklin Templeton Investments neste ano para montar a Mobius Capital Partners, prevê que o MSCI Emerging Markets Index cairá mais 10 por cento a partir dos patamares atuais. O indicador, que já recuou aproximadamente 16 por cento desde o pico atingido em janeiro, entraria então no território que caracteriza um mercado vendedor (bear market).
No câmbio, o MSCI Emerging Markets Currency Index perdeu aproximadamente 7 por cento desde a máxima atingida no final de março, forçando os bancos centrais de países como Turquia, Argentina e Indonésia a elevar juros para defender suas moedas.
Os aumentos de juros podem ser “uma solução de curto prazo”, mas contraproducentes para nações muito endividadas, explicou Mobius, acrescentando que os governos precisam colocar as finanças em ordem para restaurar a confiança dos investidores.
Apesar do pessimismo, o investidor de 81 anos considera a queda uma oportunidade de compra e quer levantar recursos.
Segundo ele, os seguintes segmentos têm potencial de ganhos em uma guerra comercial: setor de manufatura na Índia, empresas de tecnologia da Coreia do Sul, setor agrícola do Brasil, soja na Argentina, setor de calçados do Vietnã e de vestuário de Bangladesh.