Economia

Guedes: Bolsonaro já apoiou 98% da agenda liberal, agora está apoiando 65%

O ministro da Economia, Paulo Guedes, afirmou que a reforma tributária e administrativa serão aprovadas este ano, bem como projetos que permitem o avanço de mais privatizações

Guedes: “Pretendo ajudá-lo a cumprir esse compromisso. Enquanto isso estiver funcionando, está tudo certo" (Andressa Anholete/Bloomberg)

Guedes: “Pretendo ajudá-lo a cumprir esse compromisso. Enquanto isso estiver funcionando, está tudo certo" (Andressa Anholete/Bloomberg)

B

Bloomberg

Publicado em 14 de maio de 2021 às 08h07.

Última atualização em 14 de maio de 2021 às 08h22.

O comandante da equipe econômica faz uma avaliação franca de seu relacionamento de dois anos e meio com o presidente Jair Bolsonaro: os dois confiam um no outro e continuam a trabalhar por reformas estruturais importantes, mas o apoio do presidente à agenda pró-mercado diminuiu.

O ministro da Economia, Paulo Guedes, disse à Bloomberg News na quinta-feira que propostas para reformar o sistema tributário do país e reduzir gastos com funcionalismo serão aprovadas este ano, bem como projetos que permitem o avanço de mais privatizações. Os desafios, no entanto, são abundantes, considerando que há uma CPI que investiga como o governo está lidando com a pandemia e consome a energia do Legislativo.

Além disso, em poucos meses, a atenção dos parlamentares se voltará para a eleição presidencial do próximo ano, enquanto Bolsonaro está cada vez mais forçado a ceder às demandas dos partidos de centrão em troca de apoio no Congresso.

“Bolsonaro já apoiou 98% da agenda liberal e agora está apoiando 65% dela”, disse Guedes.

“Pretendo ajudá-lo a cumprir esse compromisso. Enquanto isso estiver funcionando, está tudo certo.”, disse durante entrevista em seu gabinete em Brasília.

O próprio Guedes encara 2022 com uma atitude aberta, deixando sobre a mesa a possibilidade de apoiar um candidato que subscreva integralmente as suas propostas que agradam ao mercado. “Se um brasileiro Reagan ou Thatcher aparecer, disposto a privatizar tudo? Eu diria a ele (Bolsonaro): você se importaria se eu os ajudasse?”

Real fortalecido

Guedes estima que o real deve se fortalecer à medida que privatizações, investimentos e reformas estruturais transformarem a recuperação cíclica do Brasil em uma recuperação sustentada.

“À medida que as reformas vão seguindo, todo mundo vai ver que câmbio está fora do lugar, que ele vai descer”, disse ele. “Eu acho que já fez um overshooting e vai recuar para um câmbio de equilibrio. Se vai ser R$ 5,00, R$ 4,80, R$ 3,00, eu tenho meu palpite, mas não vou falar”.

A moeda brasileira perdeu cerca de um quarto de seu valor em 2020 em meio a preocupações dos investidores com o excesso de gastos públicos durante a pandemia. Um recente aumento nos preços das commodities, juntamente com aumentos agressivos nas taxas de juros pelo Banco Central e uma melhor perspectiva fiscal, ajudaram a sustentar o real nas últimas semanas. Agora está em cerca de 5,8% desde o final de março, a moeda principal com melhor desempenho do mundo.

Guedes prevê que o Brasil, depois de sofrer uma recessão menos dolorosa que seus vizinhos no ano passado, surpreenderá novamente em 2021 com a criação de 1 milhão de empregos nos primeiros quatro meses do ano.

“Muitos países ainda estão no chão, mas o Brasil está de pé e começou a andar depressa”, disse.

O desempenho melhor do que o esperado se deve, em parte, aos programas do governo para ajudar os vulneráveis e proteger empregos durante a pandemia, segundo Guedes. Juntos, esses programas abriram um buraco no orçamento do Brasil, mas o que importa é que o governo conseguiu manter as despesas recorrentes sob controle, disse ele.

Assine a EXAME e acesse as notícias mais importantes em tempo real.

Acompanhe tudo sobre:Jair BolsonaroPaulo GuedesPrivatizaçãoReforma AdministrativaReforma da Previdência

Mais de Economia

Haddad: pacote de corte de gastos será divulgado após reunião de segunda com Lula

“Estamos estudando outra forma de financiar o mercado imobiliário”, diz diretor do Banco Central

Reunião de Lula e Haddad será com atacado e varejo e não deve tratar de pacote de corte de gastos

Arrecadação federal soma R$ 248 bilhões em outubro e bate recorde para o mês