Economia

Guedes estima que gastos do governo em possível segunda onda serão menores

Segundo ministro, no caso de uma segunda onda o governo voltará a prover assistência, mas a valores menores

Guedes: "estamos prontos para avançar caso a doença volte, mas não vamos nos mover se ela for embora. As pessoas entendem isso" (Marcelo Camargo/Agência Brasil)

Guedes: "estamos prontos para avançar caso a doença volte, mas não vamos nos mover se ela for embora. As pessoas entendem isso" (Marcelo Camargo/Agência Brasil)

AM

André Martins

Publicado em 10 de novembro de 2020 às 13h34.

Caso uma segunda onda de Covid-19 atinja o país, a perspectiva é gastar metade do que foi empregado no enfrentamento ao surto em 2020, disse nesta terça-feira o ministro da Economia, Paulo Guedes, justificando que agora há experiência para limar os excessos.

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"Se uma segunda onda vier para o Brasil já temos os mecanismos. Digitalizamos 64 milhões de brasileiros. Então sabemos quem eles são, onde estão, o que precisam para sobreviver", disse o ministro, ao participar de fórum virtual promovido pela Bloomberg.

Segundo Guedes, no caso de uma segunda onda o governo voltará a prover assistência, mas a valores menores. "Em vez de 8% do PIB, provavelmente desta vez metade disso porque sabemos que podemos filtrar agora os excessos aqui e ali. E certamente usaríamos valores menores", afirmou.

Em apresentação recente, o Ministério da Economia estimou que as medidas de combate ao coronavírus chegarão a 8,6% do PIB neste ano. Só com o auxílio emergencial --a maior delas-- os gastos serão de 321,8 bilhões de reais, contemplando pagamentos mensais de 600 reais aos beneficiários entre abril e agosto, e de 300 reais de setembro até o fim do ano.

"Quem pode pegar emprestado 8% (do PIB) a mais pode pegar 12%. Então poderíamos gastar um pouco mais, justamente porque as pessoas entendem que temos a resolução de voltar à situação anterior assim que a doença nos deixar", disse o ministro.

"Portanto, estamos prontos para avançar caso a doença volte, mas não vamos nos mover se ela for embora. As pessoas entendem isso."

Guedes tem defendido a inserção, na Proposta de Emenda à Constituição (PEC) do Pacto Federativo, de emenda que abra caminho para um orçamento de guerra em caso de nova emergência, a exemplo do que aconteceu neste ano por causa da pandemia de coronavírus.

A emenda constitucional do orçamento de guerra desobrigou o governo de cumprir uma série de regras fiscais, incluindo a meta de resultado primário, também permitindo que os gastos extraordinários, como os ligados à concessão do auxílio emergencial, não precisassem obedecer ao teto de gastos.

Em sua participação no fórum desta manhã, o ministro voltou a frisar que a avaliação hoje é de que não será necessário seguir com o auxílio, já que a percepção corrente é que a doença está retrocedendo e a economia está voltando "fortemente".

Essa retomada, reiterou ele, está ocorrendo num formato de V puro, e não num "V da Nike", como ele chegou a aventar anteriormente.

Apesar dos vultosos gastos públicos, o ministro disse ainda que o governo está rolando a dívida "sem problemas".

"Acho que não teremos problema à frente", acrescentou.

5G

O ministro da Economia disse que o Brasil ainda não tem uma decisão tomada sobre o veto ou a liberação de tecnologia chinesa nas redes de 5G, cujo leilão de espectro é esperado para 2021. Ele admitiu, porém, que o governo leva em consideração os alertas de países como os Estados Unidos e o Reino Unido, que barraram empresas como a Huawei na tecnologia de telefonia e internet móvel de quinta geração.

"O Reino Unido impediu os chineses no centro do sistema de 5G, mas permitiu que as empresas chinesas atuassem na periferia das redes. Estávamos indo nessa direção antes da pandemia. Não queremos perder revolução digital, mas há esses alertas geopolíticos. No momento o Brasil ainda estamos analisando e estudando essa questão", afirmou.

O governo do presidente Donald Trump chegou a fazer pressão direta sobre as autoridades brasileiras pela proibição total à participação dos chineses, alegando falhas na segurança de dados que poderia abrir portas a espionagem pelo país asiático, que nega essas acusações.

"Sempre dissemos que iríamos dançar com todo mundo. Os EUA e a China sempre dançaram juntos e agora brigaram. Eles podem brigar entre si, mas vamos dançar com todos", completou Guedes.

Eleições americanas

Embora o governo brasileiro até agora não tenha feito nenhum comentário oficial sobre a eleição de Joe Biden para a presidência dos Estados Unidos, o ministro da Economia, Paulo Guedes, disse nesta terça-feira, 10, não esperar problemas com o novo governo americano - ao ser questionado em evento internacional.

Após ser perguntado se a relação próxima entre o presidente Jair Bolsonaro e Donald Trump pode afetar as relações com o futuro governo Biden, Guedes lembrou que o Brasil e os EUA são duas democracias liberais e citou os quase 60 milhões de votos recebidos por Bolsonaro na eleição de 2018.

"As visões de Bolsonaro devem ser respeitadas assim como as de Biden. Se confirmada a eleição de Biden, não devemos ter problema algum. Não é uma personalidade aqui ou nos EUA que vai afetar a relação entre os países", respondeu, em participação virtual no Bloomberg Emerging + Frontier Forum 2020.

Mais uma vez questionado sobre a política ambiental do governo Bolsonaro e como ela pode ser atacada por um governo do partido Democrata nos EUA, Guedes repetiu o argumento de que os críticos da atuação brasileira estariam "desinformados".

"Quando falamos da Amazônia, falamos de soberania nacional. Há muito tráfico ilegal de drogas, armamentos e desmatamento ilegal e é claro que nós somos contra isso. Mas precisamos de ajuda para preservar a floresta adequadamente", reiterou ele.

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