Economia

Guedes começa a reconquistar investidores com melhora fiscal

"O pessimismo que colocou os títulos, moeda e bolsa de valores do país entre os de pior desempenho do mundo neste ano é exagero", disse o ministro

Paulo Guedes, ministro da Economia.  (Marcos Corrêa/PR/Flickr)

Paulo Guedes, ministro da Economia. (Marcos Corrêa/PR/Flickr)

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Bloomberg

Publicado em 15 de dezembro de 2021 às 11h42.

Última atualização em 15 de dezembro de 2021 às 11h44.

O ministro da Economia, Paulo Guedes, vem dizendo aos investidores que eles estão errados há meses.

Em discursos públicos e reuniões privadas, Guedes está constantemente tentando afastar preocupações com as perspectivas fiscais do Brasil. Dados e previsões recentes mostram os melhores números do orçamento em anos, mesmo com o aumento dos gastos sociais para diminuir os impactos da pandemia sobre mais pobres.

O pessimismo que colocou os títulos, moeda e bolsa de valores do país entre os de pior desempenho do mundo neste ano é exagero, diz o ministro.

“O nosso será o primeiro governo que vai sair gastando menos do que quando entramos”, disse Guedes, em 7 de dezembro, durante um evento online com investidores. “Esses são fatos concretos. Você ouve muito barulho sobre a sustentabilidade fiscal no Brasil, sobre como a política fiscal é frouxa, mas posso garantir que isso é barulho.”

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Há sinais de que parte do pessimismo começou a diminuir, mesmo com o real próximo ao menor nível em oito meses. O Ibovespa subiu cerca de 7% desde que atingiu a menor baixa de 13 meses em 1º de dezembro. O spread dos títulos externos caiu 40 pontos-base nas últimas semanas.

Guedes faz questão de divulgar previsões que mostram que o Brasil está a caminho de registrar o menor déficit em sete anos, os níveis de dívida bruta estão caindo e os gastos do governo devem ser os mais baixos como porcentagem do PIB desde 2014. Em uma era de espetaculares déficits em países desenvolvidos, como os EUA, e déficits em países como Chile e Colômbia que se prevêem ultrapassar o Brasil, o país parece um modelo de responsabilidade.

“Os números fiscais brasileiros estão superando maciçamente as expectativas”, disse Gustavo Medeiros, chefe de pesquisa do Ashmore Group em Londres. Embora ele reconheça que o arcabouço fiscal precisará ser reforçado nos próximos anos, acha que isso é inevitável e está otimista com os títulos públicos pré-fixados e os privados.

Para os céticos, o aumento dos gastos sociais vinculados à pandemia não foi reduzido o suficiente, e eles temem que haja mais pressão para estourar o teto de gastos num momento em que o presidente Jair Bolsonaro se prepara para tentar a reeleição.

Eles apontam para uma aceleração da inflação muito mais rápida no Brasil do que em outras nações em desenvolvimento, e para um histórico de gastos agressivos durante recessões - como aconteceu após a crise financeira de 2008.

Todo esse pessimismo tem sido doloroso para o mercado brasileiro, mesmo considerando a recuperação recente. O Ibovespa tem o segundo pior desempenho do mundo neste ano, atrás apenas do índice de Hong Kong. O real está caminhando para seu quinto ano consecutivo de queda. E os spreads dos títulos estrangeiros do Brasil aumentaram 10 vezes a média dos mercados emergentes.

“Quando você começa com populismo fiscal, o preço a pagar é muito alto”, disse Luis Stuhlberger, sócio fundador da Verde Asset Management, cujo fundo carro-chefe rendeu mais de 18.000% em moeda local desde 1997. Os ativos brasileiros estão precificando “um monte de coisas ruins”, disse ele em um evento no mês passado.

Outros investidores encontram motivos para estarem otimistas e dizem que veem oportunidades de compra enquanto os números do orçamento estão melhorando.

O déficit primário do Brasil - que exclui o pagamento da dívida - cairá para 0,4% do Produto Interno Bruto até o final de 2022, o mesmo nível de 2014, de acordo com o Ministério da Economia. Os gastos do governo também voltarão ao mesmo nível de 2014: 18% do PIB. A dívida bruta cairá para 80,6% do PIB em 2021, de 88,8% neste ano.

Tanto o JPMorgan quanto o HSBC avaliam que o mercado de ações chegou ao fundo do poço. O ETF iShares MSCI Brasil registrou ingressos superiores a US$ 280 milhões na semana passada, o maior em dois anos.

O ponto mais sensível para os investidores são as manobras que o governo fez para furar o teto de gastos. Quando a mudança foi anunciada em outubro, os mercados afundaram. Vários membros da equipe de Guedes saíram e os investidores especularam se ele também iria pedir demissão.

Em vez disso, o ministro minimizou a saída da equipe, dizendo que eram “bons jovens”, mas pouco dispostos a abrir os olhos para a necessidade de melhorar a vida dos mais pobres num momento de pós-pandemia.

“Parece razoável fazer um pouco pior fiscalmente, mas melhor política e socialmente”, disse o ministro em um evento em Brasília algumas semanas atrás, abordando as críticas sobre o governo estourando o limite de gastos. “Eu espero que os mercados compreendam isso. Vejo uma posição um pouco infantil de achar que ‘é o teto ou a morte’.”

A eleição, que provavelmente colocará Bolsonaro contra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, também é um fator de preocupação entre os investidores, temerosos de que isso leve o presidente a expandir gastos para se reeleger ou, se perder, o novo governo seja de gastança.

Há incertezas em relação ao futuro do arcabouço fiscal e de como o próximo presidente vai tratar do tema, disse o Ministério da Economia em resposta a perguntas da Bloomberg News. O Banco Central, por sua vez, disse na semana passada que as dúvidas sobre as perspectivas para os gastos têm potencial para aumentar as expectativas de inflação.

Mas para Trang Nguyen, estrategista de mercados emergentes do JPMorgan Securities em Nova York, os ativos do Brasil já refletem os riscos fiscais após o desempenho negativo deste ano. Ela adicionou títulos de dívida do país no exterior, dizendo que a queda foi longe demais.

“A liquidação dos spreads parece exagerada e provavelmente mais do que compensa o aumento do risco fiscal e político”, disse ela em entrevista.

Daniel Shaykevich, co-diretor de dívida soberana e de mercados emergentes do Vanguard Group, afirmou que os investidores estão preocupados com as perspectivas para os gastos do governo, dada a volatilidade política. Mas, no final das contas, os gastos atuais são razoáveis e o fato de o Brasil não precisar vender dívidas em dólares no próximo ano é reconfortante.

“O Brasil continua extremamente forte em métricas externas”, disse, em entrevista. “Os riscos fiscais estão sendo precificados no mercado local e os investidores estão sendo compensados por esses riscos.”

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