Economia

Guedes aguarda pedido de demissão de Waldery, após crise do Renda Brasil

Secretário especial da Fazenda recebeu 'cartão vermelho' de Bolsonaro por defender congelamento de aposentadorias para financiar programa social

Waldery Rodrigues e Paulo Guedes (Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil)

Waldery Rodrigues e Paulo Guedes (Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil)

AO

Agência O Globo

Publicado em 16 de setembro de 2020 às 18h04.

Última atualização em 17 de setembro de 2020 às 15h41.

O ministro da Economia, Paulo Guedes, aguarda um pedido de demissão do secretário especial da Fazenda, Waldery Rodrigues, que desagradou o presidente Jair Bolsonaro ao defender publicamente o congelamento de aposentadorias e pensões para financiar o Renda Brasil.

Segundo fontes, a equipe econômica estaria tentando construir uma saída honrosa para Waldery, como um cargo em organismo internacional, por exemplo.

Guedes não costuma demitir seus auxiliares. Mas a avaliação interna é que o ministro não insistiria na permanência do secretário, em caso de pedido de demissão.

No domingo, em entrevista ao portal G1, Rodrigues defendeu a desindexação por dois anos de benefícios previdenciários: ou seja, os valores não seriam reajustados nem pela inflação.

Com a economia, seria possível destinar mais recursos do Orçamento do ano que vem para o novo programa social, desenhado para substituir ao mesmo tempo o Bolsa Família e o auxílio emergencial.

A declaração repercutiu mal dentro do governo. Na terça-feira, Bolsonaro gravou um vídeo desautorizando a equipe econômica a seguir com o plano, disse que o autor da ideia merecia um "cartão vermelho" e suspendeu as discussões sobre o Renda Brasil.

Críticas no governo e no Congresso

Waldery Rodrigues faz parte da equipe econômica desde o início do gverno.

O cargo que hoje ocupa é semelhante ao de ministro da Fazenda, antes da criação do superministério da Economia comandado por Guedes, criado no governo Bolsonaro.

O secretário é considerado bom formulador, mas centralizador e pouco efetivo, tendo feito inimizades dentro do próprio Ministério da Economia até de parte de servidores considerados de perfil liberal.

Ele também passou a colecionar inimigos na ala política do governo, que defende o aumento de gastos e até no Congresso.

O último entrevero diz respeito ao projeto de lei (PLN) que libera 6,3 bilhões de reais para ser repartidos entre os ministérios do Desenvolvimento Regional e o de Infraestrutura.

Do total, 3,3 bilhões de reais seriam destinados a parlamentares e o restante dividido entre as duas pastas.

Waldery está com o projeto parado na gaveta há pelo menos duas semanas e isso estaria gerando problemas com a base do governo no Congresso, de acordo com integrantes do governo.

Também há risco de paralisação de obras, algo que o presidente Jair Bolsonaro quer evitar, sobretudo no Nordeste. O atraso na liberação dos recursos pode suspender a operação de carros-pipa em municípios nordestinos.

Outras demissões

Caso a saída se confirme, será a terceira demissão de um auxiliar de Guedes causada por desentendimentos com o presidente.

No início do ano passado, Joaquim Levy foi demitido do comando do BNDES por não avançar na busca pela chamada "caixa preta" do banco estatal.

Em setembro, Marcos Cintra deixou a chefia da Receita Federal após defender em público a adoção de um imposto sobre pagamentos, semelhante à CPMF.

A demora no encaminhamento de reformas também já levou a baixas no time de Guedes.

Em julho, os secretários Paulo Uebel (Desburocratização e Gestão) e Salim Mattar (Desestatização) deixaram o governo por estarem insatisfeitos com resistências do governo em avançar em projetos de suas respectivas áreas.

Na ocasião, Guedes classificou o episódio como uma debandada na equipe econômica. Antes, o secretário do Tesouro Nacional, Mansueto Almeida, já tinha deixado o grupo, mas essa baixa já era esperada desde o ano passado.

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