O Parthenon, na Grécia (.)
Da Redação
Publicado em 10 de outubro de 2010 às 04h10.
São Paulo - O agravamento das turbulências que afetam a economia grega e sua possível contaminação para outros países da zona do euro trazem consigo o risco de uma crise bancária na região. Não por acaso, hoje a agência de classificação de risco Moody's soltou um alerta de que os problemas de Atenas têm potencial para afetar sistemas bancários da Espanha, Irlanda, Itália, Portugal e Reino Unido.
Uma das formas de medir isso é a avaliação do quanto as grandes instituições financeiras européias possuem em títulos públicos e privados da dívida da Grécia. Segundo levantamento realizado no final de 2009 pelo Banco de Pagamentos Internacionais (BIS), esta exposição foi estimada em 141,8 bilhões de euros - nada menos que 80% do quanto todo o sistema bancário mundial possui de papéis do endividamento grego.
Os países 'mais expostos' a estes papéis são França (com 53 bilhões de euros e destaque para o Crédit Agricole, que responde por metade disso), Alemanha (40 a 45 bilhões de euros), Grã-Bretanha (11,2 bilhões de euros) e Holanda (8,95 bilhões de euros, sendo que um terço disso está nas mãos dos ING).
Os economistas explicam que uma primeira dificuldade é confiar na exatidão destes cálculos por conta dos endividamentos cruzados entre os países europeus. Isso se torna especialmente verdadeiro se a crise de confiança com títulos de dívida soberanos realmente se espalhar pelo continente. Neste caso, é bastante plausível supor, por exemplo, que um banco francês seria afetado por sua elevada exposição a papéis espanhóis tanto quanto uma grande instituição financeira espanhola seria prejudicada por deter grande quantidade de ativos franceses. Em resumo, o problema da exposição bancária pode ser muito maior do que se imagina.
Efeitos na economia real
Um cenário de deterioração do sistema bancário europeu traria sérias conseqüências à economia real do Velho Continente. Explica o estrategista-chefe do banco alemão WestLB, Roberto Padovani. "O contágio seria imediato. Numa situação de crise, haveria contração da liquidez. Tanto os bancos passariam a ser mais conservadores na hora de conceder crédito para pessoas e empresas, como ficariam com muito medo de emprestar uns para os outros - mesmo porque ninguém sabe ao certo que tem a carteira mais problemática".
<hr> <p class="pagina">Uma paralisação do mercado de crédito, o interbancário inclusive, implicaria menos dinheiro na economia e crédito mais caro. É tudo o que não poderia acontecer na Europa. "Os países em dificuldade já têm de fechar uma difícil equação: fazer ajustes fiscais agressivos, impondo sacrifícios à população, e ainda crescer para garantir arrecadação de tributos. Ora, menos crédito é claramente contracionista, o que vai na contramão disso tudo", acrescenta Padovani.<br> <br> O agravamento deste quadro levaria a Europa inevitavelmente para uma recessão. "Um quadro de acentuada contração seria visto em todo o continente. Seriam menos afetados aqueles países que têm uma economia mais dinâmica, como a Alemanha e França. O euro desvalorizado lhes ajudaria, pelo menos, a exportar mais, garantindo divisas", explica a economista-chefe do Banco Fibra, Maristella Ansanelli.<br> <br> Na avaliação dela, este é um quadro ainda distante. Tudo dependerá da velocidade com que as autoridades européias responderão às dificuldades atuais, tanto o Banco Central Europeu quanto os governos dos países. Apesar do descontentamento de sua população, Alemanha e França, acredita Maristella, vão se esforçar para evitar a deterioração deste quadro.<br> <br> Por fim, mesmo num cenário de crescimento negativo na Europa, o mundo ainda assim estaria à salvo de problemas sérios. "Quem impulsiona a economia mundial hoje são os Estados Unidos e as economias asiáticas, que vão muito bem. Uma crise européia acarretaria, no máximo, um ritmo de expansão menos acentuado do PIB global", afirma a economista.</p>