A balança comercial brasileira registrou déficit de 4 bilhões de dólares em janeiro (Marcos Santos/usp imagens)
Da Redação
Publicado em 14 de fevereiro de 2013 às 17h43.
Brasília - Grandes déficits na balança comercial afetarão as contas externas do país no primeiro trimestre, mas não abalam as expectativas de analistas de que as transações correntes sejam financiadas integralmente pelos investimentos produtivos ao longo do ano, ainda mais depois de o governo anunciar mudanças nas concessões públicas.
"A alteração nas regras das concessões cria melhores condições de atração de capital e isso para os investidores estrangeiros também", disse o economista chefe do Banco Espírito Santo (BES), Jankiel Santos.
Em janeiro, a balança comercial apresentou déficit recorde de 4 bilhões de dólares provocado pelo registro atrasado de gasolina comprada pela Petrobras no exterior ainda em 2012. O saldo negativo foi impactado também pelo fraco desempenho das exportações, que continuam sendo afetadas pelo baixo dinamismo do comércio internacional.
Como a contabilidade atrasada das importações de gasolina da Petrobras ocorrerá até março, o governo trabalha com a possibilidade de déficits comerciais também no segundo e terceiro meses do ano. No acumulado dos primeiros dez dias de fevereiro, o déficit era de 741 milhões de dólares.
No final do ano passado, antes dos dados da balança de janeiro, o Banco Central já previa um superávit comercial menor para este ano: 17 bilhões de dólares, ante os 19,4 bilhões de dólares de 2012. Previa também que as transações correntes teriam um rombo de 65 bilhões de dólares, que seria coberto por investimentos estrangeiros diretos na mesma proporção.
Mas se o déficit em transações correntes pode, eventualmente, ser reavaliado para cima em função dos fortes resultados negativos iniciais da balança comercial, o saldo final do investimento estrangeiro direto (IED) também deve aumentar em função das mudanças nas concessões.
O governo anunciou, no início de fevereiro, a ampliação do prazo da concessão de rodovias para 25 anos ante 20 anos.
E na semana passada o ministro da Fazenda, Guido Mantega, disse à Reuters que o governo garantirá aos investidores taxa de retorno real acima de 10 por cento para todas as concessões, e que se necessário alterará também as regras das concessões de portos, aeroportos e de ferrovias.
Santos, do BES, avalia que o setor de serviços continuará atraindo capital estrangeiro, com uma tendência agora de mais recursos também para a infraestrutura.
Com uma projeção inicial de 65 bilhões de dólares em IED, Santos disse que deve alterar essa previsão após análise dos resultados dos primeiros meses do ano --para as transações correntes, ele projetava déficit de 58 bilhões de dólares.
Especializado em contas públicas, Raul Velloso também vê com bons olhos as mudanças. "A taxa de retorno alta atrairá mais investimento produtivo para o país", avaliou. "Isso aumentará a demanda por importação de máquinas e equipamentos, mas por um fator positivo, o do investimento."
DE OLHO NOS INVESTIMENTOS
Impulsionar os investimentos é uma prioridade do governo e Mantega apresentará, nas próximas semanas, oportunidades de projetos em infraestrutura a empresários estrangeiros em Nova York, Londres e Tóquio.
No ano passado, IED somou 65,3 bilhões de dólares, abaixo do recorde de 66,7 bilhões de dólares em 2011. Ainda assim, foi suficiente para financiar, com folga, o déficit de 54,2 bilhões de dólares nas transações correntes.
Para o economista-chefe da Sulamérica, Newton Rosa, o Brasil reúne boas condições para atrair capitais e esse fluxo deverá aumentar em 2013 após as mudanças nas regras de concessão.
"Temos condições de atrair IED, há várias oportunidades de investimento e o governo começou a entender que precisa melhorar as condições das concessões. Em 2013, o IED deve empatar ou ficar próximo do déficit em transações correntes", disse ele, que trabalha com previsão de ingressos similar à do BC.
Por enquanto, segundo pesquisa Focus do BC, o mercado vê um saldo de 60 bilhões de dólares em investimento estrangeiro direto, déficit em conta corrente de 64 bilhões de dólares e superávit comercial de 15,5 bilhões de dólares, projeções que devem ser atualizadas conforme dados oficiais forem divulgados.
Mas existem visões menos otimistas sobre a entrada de investimentos estrangeiros no país, especialmente por conta da crise internacional, que ainda não terminou.
"Existe apetite por parte dos estrangeiros em investir no Brasil, existe nossa necessidade desse capital e o governo quer que as coisas aconteçam", disse o diretor-presidente da Sociedade Brasileira de Estudos de Empresas Transnacionais (Sobeet), Luis Afonso Lima.
"Mas há também condições restritivas nas matrizes e na oferta de capital externo e isso pode acomodar o investimento no mundo e no Brasil", acrescentou Lima, que projeta 50 bilhões de dólares em investimento estrangeiro direto no país este ano.