Economia

Grandes cidades tendem a atrair pessoas inteligentes, diz Fed

Pesquisa aborda questão frequente nos EUA: o que fazer com a crescente divisão entre cidades mais ricas e áreas menos prósperas?

São Francisco, Califórnia: economia dos EUA tem registrado crescente “polarização ocupacional e de habilidades” desde a década de 1980, diz o estudo (Marji Lang/LightRocket/Getty Images)

São Francisco, Califórnia: economia dos EUA tem registrado crescente “polarização ocupacional e de habilidades” desde a década de 1980, diz o estudo (Marji Lang/LightRocket/Getty Images)

Ligia Tuon

Ligia Tuon

Publicado em 3 de novembro de 2019 às 08h02.

Última atualização em 3 de novembro de 2019 às 09h03.

Enquanto os profissionais mais qualificados dos Estados Unidos migram para as grandes cidades, governos de outras partes do país tentam conter o fluxo diante do receio de que o movimento aumente a desigualdade.

No entanto, segundo um novo estudo de economistas da Universidade de Princeton e do Federal Reserve Bank de Richmond, essas iniciativas são equivocadas.

A pesquisa diz que profissionais “cognitivos não rotineiros”, definidos pela sigla CNR, são mais produtivos quando agrupados no mesmo local, geralmente em uma grande metrópole.

Eles são “valiosos demais” para serem distribuídos em cidades menores, o que equivaleria a um “desperdício de recursos”, escrevem os autores.

Os especialistas argumentam que qualquer desigualdade resultante é melhor resolvida por meio de impostos sobre trabalhadores urbanos com altos salários e subsídios para profissionais com salários mais baixos que não moram nas metrópoles - essencialmente uma versão da Renda Básica Universal para este último grupo.

Os autores calculam que, com uma transferência de cerca de US$ 17 mil por profissional altamente qualificado, todos podem avançar.

Polarização no espaço

Os pesquisadores abordam uma questão cada vez mais central das políticas dos EUA: o que fazer com a crescente divisão entre cidades mais ricas e áreas não metropolitanas menos prósperas.

Esse problema foi destaque na corrida presidencial de 2016. Os 472 condados onde a candidata democrata Hillary Clinton venceu, por exemplo, respondiam por 64% do PIB dos EUA, segundo análise de Will Wilkinson, do Niskanen Center. O presidente Donald Trump foi vencedor em 2.584 condados, que representam o terço restante da economia.

O artigo de Esteban Rossi-Hansberg, da Universidade de Princeton, e de Pierre-Daniel Sarte e Felipe Schwartzman, do Fed de Richmond, coincide com os esforços do presidente do Fed de Richmond, Thomas Barkin, de estudar como comunidades menores e não metropolitanas podem prosperar.

Ele visitou pessoalmente várias pequenas cidades do distrito, que incluem as Carolinas, Maryland, Virgínia, a maior parte da Virgínia Ocidental e o Distrito de Columbia.

A economia dos EUA tem registrado uma crescente “polarização ocupacional e de habilidades” desde a década de 1980, diz o estudo.

A tendência “motivou formuladores de políticas e governos das cidades a defenderem políticas destinadas a atrair trabalhadores CNR para cidades menores, a fim de reverter sua trajetória”, diz o documento.

O documento não aborda uma ampla gama de possíveis consequências de tais políticas, que vão além dos efeitos econômicos.

Estas incluem o risco de aumento da segregação racial, dada a maior escolaridade de brancos em relação a hispânicos e negros, ou uma maior polarização política. Também não discute o rompimento dos laços familiares e sociais que resultariam do incentivo para que trabalhadores de baixa renda migrem para cidades maiores.

O Fed de Richmond não quis comentar os dados da pesquisa.

(Com a colaboração de Alexandre Tanzi).

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