Economia

Governo vende otimismo econômico; analistas pregam cautela

Animado com os recentes dados econômicos, o governo reforçou nesta sexta-feira o tom otimista sobre a recuperação da atividade econômica


	Presidente Dilma Rousseff: Dilma e Mantega reforçaram estar em curso uma a reação "mais significativa" da economia às medidas de estímulo.
 (Roberto Stuckert Filho/Presidência da República)

Presidente Dilma Rousseff: Dilma e Mantega reforçaram estar em curso uma a reação "mais significativa" da economia às medidas de estímulo. (Roberto Stuckert Filho/Presidência da República)

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Da Redação

Publicado em 17 de agosto de 2012 às 18h47.

Brasília - Animado com os recentes dados econômicos, o governo reforçou nesta sexta-feira o tom otimista sobre a recuperação da atividade econômica, apesar de analistas do mercado financeiro estarem ainda céticos sobre o ritmo de crescimento.

O tom otimista partiu da presidente Dilma Rousseff, do ministro da Fazenda, Guido Mantega, e do presidente do Banco Central, Alexandre Tombini.

Coube a Tombini o recado mais importante. Ele afirmou que o crescimento do Produto Interno Bruto vai se acelerar nos próximos trimestres, com preços sob controle.

"Os efeitos dos estímulos já introduzidos ainda não se manifestaram plenamente sobre a atividade. Mas a economia já vem parcialmente respondendo a eles; e essa resposta tende a se aprofundar", disse o presidente do BC em congresso da Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave).

Já Dilma e Mantega reforçaram estar em curso uma a reação "mais significativa" da economia às medidas de estímulo.


O titular da Fazenda disse que a recuperação está cada vez mais nítida, mas que o governo continuará fazendo desonerações e adotando medidas de estímulo.

"Passamos o cabo da Boa Esperança e, no segundo semestre, estaremos com economia crescendo mais do que no primeiro semestre", afirmou o ministro, após participar de evento com superintendentes do Banco do Brasil em São Paulo.

O Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br), considerado uma espécie de sinalizador do Produto Interno Bruto (PIB), subiu 0,75 por cento em junho frente a maio, segundo dados dessazonalizados. É a maior variação mensal desde março de 2011, quando a expansão ficou em 1,47 por cento.

Além do IBC-Br, o governo se escora em dois outros dados divulgados nesta semana para sublinhar os sinais de recuperação: as vendas no varejo, que cresceram 1,5 por cento em junho ante maio, e a geração de 142,5 mil postos de trabalho com carteira assinada em julho.

"Agora começamos a colher resultados de várias ações empreeendidas pelo governo desde a metade do ano passado... (Há) vários dados dizendo: 'Olha, realmente a economia voltou a aquecer, mas acho que temos de continuar tomando medidas'", acrescentou Mantega, referindo-se às desonerações.

O governo tem tentado aquecer a economia por meio de incentivos ao consumo, com reduções tributárias para a linha branca e para automóveis, e ao investimento. Lançou um programa de 133 bilhões de reais de concessões de rodovias e ferrovias. Serão anunciados ainda programas para os aeroportos e portos.

Novas quedas?

Um dos estímulos que tem contribuído para o aumento da atividade é o ciclo de afrouxamento monetário que começou em agosto do ano passado e já reduziu a Selic em 4,5 pontos percentuais, para 8 por cento ao ano.


Os analistas leram o recado de Tombini de que a economia está recuperando o fôlego sem pressão inflacionária como um sinal de que a Selic continuará em queda. O fechamento em queda dos contratos de juros futuros nesta sexta-feira, segundo analistas, foi influenciado em parte pela tranquilidade de Tombini em relação à aceleração da inflação.

Conforme o último relatório Focus, os analistas apostam que a Selic será reduzida novamente em 0,50 ponto, para 7,5 por cento, na reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) neste mês. A dúvida é em relação ao fim desse ciclo. Os economistas consultados pelo BC na semana passada veem espaço para mais um corte, já que apostam que a taxa básica vai terminar o ano em 7,25 por cento.

O presidente do BC sustentou não haver risco inflacionário para o crescimento econômico, mas sublinhou que o BC aguarda informações adicionais para fazer uma avaliação mais precisa da intensidade e duração do choque da oferta sobre os preços, sobretudo no setor de alimentos.

Em julho, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) acelerou para 0,43 por cento devido a problemas climáticos que pressionaram os preços dos alimentos "in natura".

O mercado acredita que a inflação medida pelo IPCA vai terminar o ano em 5,11 por cento. O governo tem como centro da meta 4,5 por cento, com tolerância de dois pontos percentuais para cima ou para baixo.

Cautela

O economista-chefe da WestLB, Luciano Rostagno, concorda com o governo de que há um sinal de que as medidas estão fazendo efeito, mas buscou conter a animação. "É um primeiro sinal de que as medidas de estímulo estão começando a fazer efeito. Mas precisamos de mais sinais para ver se isso se mantém", afirmou.

Para os analistas, o dado do IBC-Br, apesar de forte, mostra que a atividade registrou crescimento pífio no segundo trimestre. "O PIB do segundo trimestre deve ficar entre 0,20 e 0,30 por cento. Os indicadores antecedentes sinalizam que o terceiro trimestre será melhor que o segundo, mas só esperamos que a economia vá crescer a um ritmo de 4 por cento no último trimestre", afirmou o economista-chefe da PlannerProsper, Eduardo Velho.

Tombini buscou minimizar a fragilidade da atividade econômica, que cresceu 0,20 por cento no primeiro trimestre, dizendo que o Brasil segue um curso natural de um ciclo econômico, o que significa que os próximos trimestres o crescimento virá mais forte.

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