O presidente do governo espanhol, Mariano Rajoy: em seu balanço, Rajoy antecipou que não tem intenção de fazer uma nova reforma trabalhista após a já aprovada (Dominique Faget/AFP)
Da Redação
Publicado em 3 de agosto de 2012 às 15h33.
Madri - O Governo espanhol prevê um ajuste de 89 bilhões de euros (US$ 110 bilhões) nos próximos dois anos, número divulgado nesta sexta-feira depois que o presidente do Governo, Mariano Rajoy, fez um balanço de seus primeiros sete meses centrados na crise.
O Conselho de Ministros aprovou o plano orçamentário para 2013 e 2014, que prevê um ajuste de 38,956 milhões de euros no próximo ano e de 50,075 bilhões em 2014, um total de 89,031 bilhões.
Somado aos 13,118 bilhões de euros neste ano, a Espanha prevê um ajuste total em três anos de 102,149 bilhões de euros.
Este plano orçamentário será enviado à Comissão Europeia, que deve dar seu sinal verde, e que concedeu à Espanha um ano de prorrogação, de 2013 para 2014, para deixar o déficit público abaixo de 3% do PIB, após fechar 2011 em 8,9%.
O programa foi anunciado hoje após a reunião semanal do Conselho de Ministros e depois de Rajoy ter falado com a imprensa para fazer balanço de seus sete primeiros meses de Governo.
A grave crise econômica que o país atravessa e sua tradução nos números do desemprego, déficit público e dívida, tomaram o primeiro balanço do chefe do Executivo, que reconheceu que a situação do país é "difícil", mas se mostrou convencido de vai ser superada.
"Não prometemos milagres porque sabíamos que não iam acontecer, mas quando as coisas são bem feitas, quando os problemas são conhecidos e se atua com serenidade, constância e perseverança, os resultados chegam", assegurou Rajoy, acreditando que isso acontecerá "mais em breve do que tarde".
O presidente do Governo e líder do Partido Popular (PP, centro-direita) reconheceu que seu "maior motivo de preocupação" é o desemprego, "os mais de cinco milhões e meio de pessoas que querem trabalhar e não podem", muitos deles jovens, se referindo à taxa de 24,6% da população desempregada.
Explicou que as causas de o país estar em uma situação que requereu fortes ajustes, com cortes de gastos e altas de impostos impopulares, é que "vivemos com crédito demais e agora é preciso refinanciá-lo", o que é difícil já que os "juros são muito elevados".
Por isso, reiterou que seu Governo vai continuar com a via empreendida para reduzir o déficit público e para aumentar a competitividade da economia do país, através de reformas.
Neste contexto, lembrou que no ano passado, o conjunto das administrações do Estado espanhol gastaram 91,344 bilhões de euros mais do que recolheram, "quantidade que é preciso pedir emprestado", o que elevou a dívida externa do país para 900 bilhões de euros.
Por isso, Rajoy insistiu que a Espanha tem que reduzir o déficit e evitar esses níveis de endividamento, e antecipou que o próximo ano terá que enfrentar o pagamento de 8 bilhões de euros mais do que o previsto para abonar os juros da dívida emitida.
A Espanha está submetida a fortes pressões dos mercados que exigem o pagamento de altos juros em troca da compra de sua dívida.
Por essa razão, da mesma forma que a Itália, quer que o Banco Central Europeu (BCE), o organismo criado para velar pelo euro, intervenha diretamente nos mercados secundários e compre dívida dos países com dificuldades.
O presidente do BCE, Mario Draghi, abriu essa possibilidade, mas a condicionou a que os países com dificuldades recorram previamente aos fundos de resgate europeus.
Sobre essa eventualidade, Rajoy disse que ainda não tomou uma decisão sobre se a Espanha vai recorrer ao fundo de resgate europeu, para o que assegurou precisa conhecer antes os detalhes das novas medidas de política monetária que prepara o BCE.
"O que quero é conhecer quais são essas medidas, o que significam, o que pretendem e se são adequadas, e então à vista das circunstâncias tomaremos uma ou outra decisão", assinalou na entrevista coletiva para as perguntas sobre esse assunto.
Em todo caso, ressaltou, decidirá "o que mais convenha aos interesses dos espanhóis".
O chefe do Executivo espanhol negou que tenha recebido indicações por parte do BCE ou do Governo da Alemanha para recorrer a tal fundo. "Ninguém me pediu nada", assegurou.
Em seu balanço, Rajoy antecipou que não tem intenção de fazer uma nova reforma trabalhista após a já aprovada, muito contestada pelos sindicatos, nem de baixar as pensões no próximo ano.