A diretora-gerente do FMI, Christine Lagarde: fundo revisou crescimento mundial para baixo (Mandel Ngan/AFP)
Da Redação
Publicado em 7 de outubro de 2014 às 16h46.
Washington - O Fundo Monetário Internacional (FMI) revisou levemente para baixo, nesta terça-feira, em sua previsão de crescimento econômico global para este ano, a 3,3%, em um contexto marcado pela continuidade de tensões geopolíticas, estagnação das economias desenvolvidas e desaceleração dos países emergentes.
Desta forma, o FMI, que nesta semana inicia suas tradicionais reuniões em Washington, revisou sua expectativa de crescimento global em leve baixa de 0,1% em relação às previsões divulgadas em julho (3,4%).
Para 2015, o FMI prevê um crescimento de 3,8%, 0,2% abaixo da expectativa de julho (4%).
A entidade justificou sua redução de expectativas pelo "agravamento de tensões geopolíticas (...), pela estagnação e pelo baixo potencial de crescimento em economias avançadas e por uma queda no crescimento potencial nos mercados emergentes".
Considerando esses fatores, o FMI afirma em seu relatório que "fortalecer o atual crescimento potencial deve permanecer como uma prioridade".
Nas chamadas economias desenvolvidas essa prioridade deve se traduzir em "apoio continuo à política monetária e aos ajustes fiscais". No caso das economias emergentes, destacam-se os fracos crescimentos previstos para Rússia e Brasil.
Crescimento menor do que o esperado
Em geral, apontou o FMI, o crescimento da economia global na primeira metade do ano experimentou uma desaceleração mais acentuada do que o previsto em abril, quando a entidade publicou uma revisão das suas previsões.
"Este crescimento menor do que o esperado reflete eventos nos Estados Unidos, na zona do euro, no Japão e em algumas grandes economias emergentes", indicou.
No caso dos Estados Unidos, o país teve um péssimo primeiro trimestre mas se recuperou no segundo, enquanto que na zona do euro "o crescimento se concentrou no segundo trimestre.
Em relação à zona do euro, o economista-chefe do FMI, Olivier Blanchard, disse que a região pode ser tornar o "principal problema" da economia global, caso não reverta o risco de deflação.
"Se isso ocorrer, será certamente o principal problema com o qual a economia se verá confrontada", declarou Blanchard, ao apresentar as novas projeções de crescimento econômico mundial. O economista esclareceu, contudo, que este não é o principal cenário considerado pela instituição.
As tensões geopolíticas continuam sendo um fator de constante preocupação para o FMI, que no ano passado concentrou suas atenções no conflito na Ucrânia, e que agora considera como grande fator problemático a intensificação das ações militares contra o grupo radical Estado Islâmico, no Iraque e na Síria.
"Por enquanto, os efeitos macroeconômicos parecem fundamentalmente restritos às regiões envolvidas, mas há riscos tangíveis de problemas mais generalizados", aponta o relatório.
Tanto as economias avançadas como os mercados emergentes, afirmou o FMI, passam pela "necessidade urgente de reformas estruturais para fortalecer o crescimento potencial ou para tornar o crescimento mais sustentável".
Economias em ajuste
Entre os países emergentes, o crescimento "declinou" em 2014 em todo o conjunto, "como reflexo de uma desaceleração da demanda externa".
Desse grupo, a Rússia se destaca por um crescimento muito modesto, de apenas 0,2% previsto para 2014, mas o FMI insere esse resultado no contexto de um "impacto das tensões geopolíticas nos investimentos externos e na produção doméstica".
O Brasil mereceu especial atenção. O país deve encerrar 2014 com um crescimento de apenas 0,3%, com o nível de investimentos afetado pela baixa competitividade e pelas condições financeiras.
Em geral, nos mercados emergentes a gama de necessidades varia de acordo com os países "mas o espaço é limitado em países com vulnerabilidades externas".
Esses mercados, afirma o relatório do FMI, estão "se ajustando a taxas de crescimento econômico menores do que as alcançadas durante a expansão antes da crise [de 2008] e na recuperação posterior à crise".
No entanto, a América Latina e o Caribe exibem números menores do que os esperados.
"As condições externas são desfavoráveis, já que as exportações não cumpriram as expectativas e os termos de comércio se deterioraram em vários países", apontou o FMI. "Em determinados mercados, as incertezas de política econômica afetaram a confiança e os investimentos".
Para o FMI, a região da América Latina terá neste ano um crescimento médio de 1,3%, a menor taxa desde 2009.
O relatório do FMI aponta uma "recuperação do crescimento, tanto para as economias avançadas como para os mercados emergentes, no que resta de 2014 e em 2015", mas a um ritmo inferior ao que havia sido estimado nas previsões de abril deste ano.