Economia

GE fecha fábrica e acelera declínio de cidade no Canadá

Após 126 anos, fábrica da GE deixará a cidade de Peterborough, em Ontário, e 6.000 empregos para trás

Peterborough: muita gente nesta cidade de 82 mil habitantes vê o fim do conglomerado apenas como a mais recente decepção gerada pelo livre comércio

Peterborough: muita gente nesta cidade de 82 mil habitantes vê o fim do conglomerado apenas como a mais recente decepção gerada pelo livre comércio

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Da Redação

Publicado em 7 de fevereiro de 2018 às 12h52.

Última atualização em 7 de fevereiro de 2018 às 13h45.

Peterborough, Canadá - Em sua tentativa de mudar drasticamente o Tratado Norte-Americano de Livre Comércio (NAFTA), ou acabar de vez com ele, o presidente Donald Trump frequentemente coloca os Estados Unidos na posição de vítima de um acordo que beneficia apenas o México e o Canadá.

Mas a ideia de que esse último prospera à custa dos Estados Unidos é difícil de vender em Peterborough, cidade a noroeste de Toronto.

Durante boa parte da história canadense, Peterborough fabricou a maioria dos produtos consumidos pelo país, incluindo serras, motores de popa, barcos, geladeiras, despertadores, cadeados, aveia processada, motores elétricos e geradores. A cidade era tão intimamente associada ao complexo de 32 hectares da General Electric que acabou sendo conhecida por “Electric City” (Cidade Elétrica).

Mas já não é mais assim. Este ano, a empresa, que empregava cerca de seis mil pessoas aqui em seu auge, vai se juntar à longa lista de fabricantes que deixaram a cidade. Esse fechamento, que a companhia justifica com a queda de 60 por cento da demanda dos produtos da fábrica nos últimos quatro anos, será o ponto final da história de 126 anos da corporação em Peterborough.

O encerramento das atividades da GE, assim como o de outras fábricas antes dela, tem várias causas, incluindo a queda geral nos negócios de geração de energia da empresa e problemas persistentes com sua subsidiária financeira.

Porém, muita gente nesta cidade de 82 mil habitantes vê o fim do conglomerado em Peterborough apenas como a mais recente decepção gerada pelo livre comércio.

Bill Corp, veterano de 35 anos da GE cujo pai e os avós também trabalharam na empresa, será o último presidente do sindicato local, o Unifor, que representa a maioria dos trabalhadores da fábrica. Em uma casa bem arrumada, convertida em um salão do sindicato, ele afirmou várias vezes que não era “uma pessoa muito política”.

Porém, comparava as promessas de prosperidade feitas em 1989, quando o Canadá assinou um acordo comercial com os Estados Unidos, que acabou se transformando no NAFTA, com o fechamento da GE e a taxa de desemprego em Peterborough, que subiu para 9,6 por cento em meados do ano passado, a mais alta do Canadá na época.

Sua opinião sobre o NAFTA é a mesma da dos líderes trabalhistas de comunidades industriais em declínio nos Estados Unidos.

O prefeito Daryl Bennett, de Peterborough, culpa o Nafta pelo declínio da cidade (Aaron Vincent Elkaim/The New York Times)

“Disseram que ia ser ótimo. Se o ótimo é isso, então talvez não haja nada melhor a se esperar”, disse Cope, que parece mais jovem do que seus 57 anos.

Peterborough não é um exemplo isolado entre as comunidades industriais em Ontário. O Instituto Mowat, organização de pesquisa focada principalmente na província, calcula que, entre 2000 e 2011, Ontário perdeu cerca de 300 mil empregos na indústria. Os restantes estão concentrados no processamento de alimentos – Peterborough tem fábricas da Quaker Oats e da Minute Maid – e na fabricação de carros e autopeças, setor que nunca foi dominante na cidade.

Porém, ela não se parece com os centros empobrecidos do Cinturão da Ferrugem americano; fica em meio a uma série de lagos que atraem visitantes de centros urbanos como Toronto. Um canal muito popular entre as embarcações recreativas atravessa a cidade e conta com um enorme elevador hidráulico, que eleva barcos a até 20 metros de altura e se tornou um marco local. Ao norte da cidade, o campus da Universidade Trent é considerado uma das mais importantes coleções da arquitetura de meados do século 20 do Canadá.

Apesar de seus problemas industriais, Peterborough está crescendo. Muitos dos recém-chegados estão em idade de se aposentar, ou já estão aposentados, e venderam suas casas no inflado mercado imobiliário de Toronto, substituindo-as por outras mais baratas, e às vezes melhores, aqui.

E as velhas fábricas permanecem como pontos de referência. A fábrica de relógios Westclox, convertida em condomínios e escritórios, ainda fica em uma colina acima do elevador hidráulico, mas o relógio da torre não funciona mais. Os restos da fábrica Outboard Marine Canada, onde serras elétricas e motores de barco eram produzidos, agora é um famoso museu de canoas.

O prefeito Daryl Bennett não é um dos que culpam o NAFTA pelas perdas industriais de Peterborough, e muitos economistas compartilham sua visão.

“Esta comunidade mudou imensamente dos anos 60 para cá. Dava para terminar o ensino médio e arrumar um emprego em qualquer uma das fábricas da cidade, fazer uma boa carreira, criar uma família e manter uma boa qualidade de vida”, disse Bennett, proprietário de vários negócios locais, entre eles um serviço de táxis.

No salão do sindicato, o ânimo de Corp estava mais para luto do que para raiva. Os últimos 350 funcionários sindicalizados da GE fazem motores elétricos e geradores tão grandes que, ao serem transportados, é preciso que a fiação elétrica da rua seja erguida para dar passagem aos caminhões imensos. Os motores produzidos em Peterborough fazem funcionar hélices de navios de cruzeiro, bombeiam petróleo, abastecem fábricas e minas com energia elétrica e geram eletricidade em todo o mundo. (A GE não divulgou qual de suas fábricas restantes vai ficar com o trabalho de Peterborough.)

“O cara que maneja um torno, o cara que trabalha com uma máquina CNC e o que opera grandes motores são especialistas, mas onde é que vão conseguir um emprego aqui na cidade? Não quer dizer que não sejam inteligentes o suficiente para isso, mas têm mais de 40, de 50 anos, e tiveram o mesmo ofício a vida inteira”, disse Corp.

Aqueles que conseguem encontrar algo, acrescentou, não terão um emprego que inclua os benefícios generosos da GE nem que pague os mesmos salários, que começam em cerca de CAD$30 por hora.

Alguns ícones da indústria de Peterborough sobrevivem. Antes do livre comércio, empresas canadenses de molduras geralmente tinham a Peterboro Matboards como principal fornecedora, mas quando os produtos de duas grandes fabricantes americanas se instalaram no mercado canadense após o tratado, a Peterboro não conseguiu diversificar seus produtos nem modernizar sua produção. Em 2001, a empresa era insolvente e tinha apenas sete funcionários. Então, Alan Yaffe, que fazia molduras em Toronto, entrou em cena, vendendo seu negócio no centro da cidade e hipotecando sua casa para comprar a empresa.

Desde então, a Peterboro se tornou uma história comercial de sucesso. Yaffe investiu na fábrica e expandiu o mercado de seus produtos não só nos Estados Unidos, mas também na Austrália e na Europa, particularmente na Rússia. Agora, a fábrica emprega 34 pessoas, incluindo dois que trabalham na Peterboro há 50 anos.

Porém, Yaffe acredita que os baixos salários do México levaram muitas empresas para o sul. Segundo ele, sempre que a Peterboro Matboards anuncia uma vaga de emprego, cerca de 100 pessoas se inscrevem em poucos dias.

“É desanimador, fico com pena deles. Peterborough tem uma boa força de trabalho, não tenho dúvida disso, mas não há vagas para todos. É uma loucura o que acontece aqui.”

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