Economia

Gastos de Natal: Brasileiro deve dar prioridade a comida e roupa e pagar dívidas

Apesar da alta de preços dos alimentos, a expectativa é este seja o Natal da comida, da bebida e das roupas, itens de menor valor e normalmente pagos à vista ou, no máximo, parcelado no cartão

Natal: Se as projeções se confirmarem, a grande fatia de alimentos e itens de vestuário nas vendas em dezembro será uma marca inédita (Douglas Daniel/Divulgação)

Natal: Se as projeções se confirmarem, a grande fatia de alimentos e itens de vestuário nas vendas em dezembro será uma marca inédita (Douglas Daniel/Divulgação)

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Estadão Conteúdo

Publicado em 22 de dezembro de 2022 às 08h53.

O elevado comprometimento da renda com dívidas e os altos juros dos financiamentos devem frear o consumo neste Natal de itens de maior valor, como eletrodomésticos e eletroeletrônicos, normalmente comprados a prazo.

Apesar da alta de preços dos alimentos, a expectativa é este seja o Natal da comida, da bebida e das roupas, itens de menor valor e normalmente pagos à vista ou, no máximo, parcelado no cartão. Também a volta das confraternizações em família deve dar um impulso extra às vendas dos básicos.

Mais de 70% do faturamento total do varejo neste final de ano, projetado em R$ 65,01 bilhões pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), deverão estar concentrados em comida, bebida e artigos de vestuário.

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Se as projeções se confirmarem, a grande fatia de alimentos e itens de vestuário nas vendas em dezembro será uma marca inédita. "Nos últimos anos, não lembro de uma concentração tão forte (72,5%) de vendas em alimentos, bebidas e vestuário", afirma o economista-chefe da CNC, Fabio Bentes.

A receita com bens duráveis de dezembro é um indicador antecedente importante para a economia como um todo, porque alavanca a atividade no início do ano.

Quando o resultado da comercialização desses itens em dezembro é favorável, a indústria começa janeiro com pé direito e a reposição de estoques puxa uma longa cadeia de produção, emprego e renda.

Para este ano, no entanto, a perspectiva é que o faturamento real (descontada a inflação) do Natal com duráveis recue para R$12,8 bilhões, ante R$ 13 bilhões em dezembro de 2021, e atinja o menor patamar de receita para o mês em 12 anos.

Um dos fatores para o fraco desempenho na venda de duráveis é o fato de o brasileiro chegar neste Natal com quase 30% da sua renda comprometida com pagamento de dívidas, aponta um estudo feito pelo economista da CNC, a pedido do Estadão, para avaliar o impacto do empenho da renda e da alta dos juros no consumo de final de ano.

Esse é o maior nível de comprometimento da renda para os meses de dezembro desde o início da série em 2010, segundo dados do Banco Central (BC).

Também o juro cobrado nos financiamentos de duráveis, excluindo veículos, que atingiu 31,7% ao ano em outubro, de acordo com o BC, pesa sobre o consumo a prazo.

Com a perspectiva de a taxa continuar pressionada, porque a inflação voltou a subir nos últimos meses, o juro ao consumidor para compra de bens duráveis deve encerrar 2022 no maior nível para dezembro desde do início da série, em 2011.

Levantamento da CNC mostra que, pelo segundo ano consecutivo, em 2022 o pagamento de dívidas será o principal destino da segunda parcela do 13º salário (37,8%), seguido pelos gastos com consumo de bens (33%). "Este será o Natal do consumo possível, acessível", frisa Bentes.

Diante desse cenário, lojas de eletroeletrônicos buscam alternativas para alavancar vendas e supermercados já se prepararam para o crescimento no volume de negócios na casa de dois dígitos.

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Casas Bahia faz campanha de 'parcelinha' de R$ 29,90

A Casas Bahia, por exemplo, uma das principais varejistas de eletroeletrônicos, começou no dia 9 deste mês uma campanha de Natal na qual a parcela mínima de produtos comprados a prazo no cartão da loja e de terceiros é de R$ 29,90.

A empresa informa que o objetivo dessa condição comercial para as compras na loja física, site e aplicativo, é tornar as compras acessíveis "a todos os bolsos". A estratégia envolve itens selecionados, como smartphones, games, brinquedos, por exemplo.

A varejista não detalha os motivos para fixar a parcela em R$ 29 90. Coincidência ou não, nesta semana um Chocottone Maxi, de 500 gramas, da marca Bauducco, era vendido na loja do Carrefour do Bairro do Limão (SP) por R$ 29,99.

A perspectiva mais favorável à venda de alimentos neste Natal em relação aos duráveis animou os supermercados. Pesquisa da Associação Brasileira de Supermercados (Abras) mostra que 66% das empresas projetam aumento de vendas de 11,2% nas quantidades de carnes natalinas, entre aves, suínos, frangos e bovinos. No caso das bebidas, que incluem cervejas, vinhos, espumantes, destilados e refrigerantes, a alta esperada é de 12,5% ante dezembro de 2021.

Em outros anos, o crescimento em dezembro girava em torno de 8%, lembra o vice-presidente da Abras, Marcio Milan. "Este ano a expectativa de crescimento de dois dígitos dos supermercados surpreendeu."

Ele lembra que hoje há mais dinheiro em circulação na economia e isso deve impulsionar as vendas neste fim de ano. De 2021 para 2022, por exemplo, são 3 milhões de empregados a mais com carteira assinada e recebendo o 13º salário.

Além disso, diz o executivo da Abras, hoje há um milhão a mais de beneficiários do auxílio do governo, que aumentou de R$ 400 para R$ 600. "No ano passado, não tinha auxílio caminhoneiro nem taxista."

Com a pandemia sob controle, também as festas de família devem aumentar este ano. E isso acaba sendo um empurrão extra nas vendas de alimentos e bebidas.

Inflação resiste

O aumento de dois dígitos nas vendas de alimentos e bebidas é esperado pelos supermercados, apesar do avanço nos preços. No início do mês, a Abras pesquisou o custo de dez itens muito consumidos no Natal e constatou que, na média do País, a cesta neste ano está 9,8% mais cara em relação a 2021.

A perspectiva, segundo Milan, é que os preços recuem com a proximidade das festas e o recebimento da segunda parcela do 13º salário.

O dirigente da Abras diz que a concorrência entre varejistas aumentou muito e que a perspectiva é de um volume maior de ofertas comparativamente a outros anos, fruto de negociações entre indústria e supermercados.

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