Guerra Israel-Hamas: conflito pode impactar os preços no longo prazo (Peter Dazeley/Getty Images)
Repórter de Brasil e Economia
Publicado em 10 de outubro de 2023 às 18h47.
Última atualização em 10 de outubro de 2023 às 19h32.
A extensão da guerra entre Israel e Hamas e a entrada de outros países no conflito pode trazer consequências para o bolso do brasileiro, com impacto nos preços dos combustíveis. Na segunda-feira, 9, o petróleo Brent subiu 4,22% em clara reação ao conflito no Oriente Médio. A commodity, que vinha em queda nas últimas semanas, chegou a US$ 88. Nesta terça-feira, o Brent recuou 0,57%, a US$ 87,65.
Apesar de Israel e da Palestina não produzirem petróleo, a preocupação do mercado é com a escalada do conflito. Segundo especialistas em combustíveis ouvidos pela EXAME, esse movimento inicial de volatilidade é normal e não deve impactar os preços da gasolina e diesel no curto prazo, mas a preocupação é com cenário de longo prazo.
Para Amance Boutin, especialista em combustíveis da Argus, passada a apreensão inicial, os preços do petróleo devem voltar ao patamar anterior, assim como ocorreu após o início da guerra entra Rússia e Ucrânia, e por isso será difícil que qualquer alta seja repassada ao consumidor. "Importadores e produtores que atuam no ambiente doméstico enfrentaram situação similar no ano passado, com o conflito entre Rússia e Ucrânia, e devem evitar repasses de preços imediatos ao varejo. Repasses de alta costumam ser mais lentos que os de baixa, na visão de importadores", disse.
Na mesma linha, Sérgio Araujo, presidente da Associação Brasileira dos Importadores de Combustíveis (Abicom), afirmou que os preços do petróleo e derivados são muito sensíveis aos movimentos geopolíticos. "Na minha visão são movimentos especulativos, uma vez que o conflito não impacta diretamente a cadeia de suprimentos dos combustíveis. O risco de maior impacto poderá surgir caso seja confirmado o envolvimento do Irã e, com isto, houver impacto na sanção aplicada àquele país", explicou.
A preocupação dos especialistas é com o suposto envolvimento do Irã — um grande produtor de petróleo — no conflito. Segundo reportagem do Wall Street Journal, o país teria participado da organização dos ataques em Israel ao lado do Hamas. O Irã negou participação na operação do grupo terrorista.
Igor Lucena, economista e doutor em Relações Internacionais na Universidade de Lisboa, explica que a entrada do Irã no conflito, somada a outros fatores como a diminuição da produção da commodity e a guerra na Ucrânia, pode resultar em um aumento do preço do barril do petróleo para mais de US$ 90. "Não há dúvida de que existem fatores geoeconômicos e macropolíticos que podem pressionar o preço do barril do petróleo", disse.
Lucena avalia ainda que a intensidade e o tempo de conflito vai definir qual será o impacto nos preços do petróleo e, consequentemente, no valor do combustível aos brasileiros. "Se o conflito aumentar de intensidade e tiver outros players dentro da região, vamos ver um aumento realmente considerável de petróleo e gás. No final, a Petrobras não vai conseguir segurar os preços e vai precisar repassar", explicou.
Em entrevista coletiva para comentar o relatório Panorama Econômico Mundial, divulgado nesta terça-feira pelo Fundo Monetário Internacional (FMI), o economista-chefe do Fundo Monetário Internacional (FMI), Pierre-Olivier Gourinchas, afirmou que a guerra pode elevar o preço do petróleo e reduzir o crescimento global. Segundo cálculos do economista-chefe do FMI, um aumento de 10% nos preços do petróleo reduziria o crescimento do produto interno bruto (PIB) mundial em 0,15% e elevaria a inflação global em 0,4%.
Na segunda, 9, o presidente da Petrobras, Jean Paul Prates, afirmou que o mercado ficará mais volátil com o conflito, principalmente o diesel, que já vinha pressionado. A fala do executivo se justifica pelo fato de o diesel ter parte de seu suprimento importado.
Boutin, da Argus, explica que a extensão da guerra pode provocar um efeito dominó noviço e, como consequência, pressionar um aumento no Brasil. Ele explica que parte do suprimento do diesel da Europa é importado da Índia. O país asiático utiliza o porto de Ashkelon, em Israel, como parada para descarregar navios de diesel de grande porte e distribuir o produto em navios menores direcionados para países europeus. O porto de Ashkelon está temporariamente fechado por conta da guerra, impedindo o frete de navios para a Europa. O especialista da Argus acredita que isso pode fazer com que os europeus busquem o combustível nos Estados Unidos.
"Embora os Estados Unidos agora tenham uma participação menor nas importações de diesel do Brasil, a alta de preços no mercado americano pode sustentar as ofertas de venda do atual principal fornecedor do Brasil: a Rússia. Mas, de novo, ainda é cedo para determinarmos uma alta de preços iminente, pois pode haver uma acomodação do mercado em relação aos conflitos", explicou.