Economia

Garantir terra a índios da Amazônia gera bilhões, diz estudo

Segundo o informe, a rentabilidade de assegurar aos indígenas seus territórios no Brasil oscila entre 523 bilhões e 1,165 trilhão de dólares


	Indígenas: as comunidades indígenas de todo o mundo têm a posse segura de apenas 10% de suas terras
 (Valter Campanato/Agência Brasil)

Indígenas: as comunidades indígenas de todo o mundo têm a posse segura de apenas 10% de suas terras (Valter Campanato/Agência Brasil)

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Da Redação

Publicado em 6 de outubro de 2016 às 22h24.

Assegurar aos indígenas da Amazônia de Brasil, Bolívia e Colômbia a posse de suas terras rende lucros econômicos e climáticos que podem superar um trilhão de dólares, segundo estudo ao qual a AFP teve acesso nesta quinta-feira.

"As terras indígenas com posse assegurada podem reduzir o desmatamento e absorver o carbono, reduzindo assim as emissões de gases de efeito estufa e ajudando a frear as mudanças climáticas", informou a ONG World Resources Institute (WRI).

Segundo o informe, a rentabilidade de assegurar aos indígenas seus territórios no Brasil oscila entre 523 bilhões e 1,165 trilhão de dólares nas próximas duas décadas, "levando em conta os benefícios globais do carbono e a conservação do ecossistema", como água limpa, conservação do solo, polinização, biodiversidade e controle de inundações.

Na Bolívia, flutua entre 54 e 119 bilhões de dólares e na Colômbia, entre 123 e 277 bilhões de dólares nos próximos anos, acrescentou o documento, intitulado "Benefícios para o clima, custos da posse: argumentos econômicos para assegurar os direitos das terras indígenas".

"Há uma clara motivação econômica em assegurar que os povos indígenas tenham direitos seguros sobre suas terras. Garantir a posse da terra não só é o correto, é uma das estratégias de mitigação das mudanças climáticas mais rentáveis do mundo", disse o presidente do WRI, Andrew Steer, citado em um comunicado.

O texto avalia que, com a proteção da posse dos territórios dos indígenas, em 20 anos seria possível evitar 31,76 toneladas de carbono anualmente no Brasil, o equivalente a "retirar mais de 6,7 milhões de automóveis das estradas ao ano".

Na Bolívia, seriam 8,04 toneladas e na Colômbia, 3,01 toneladas ao ano. "Caso os povos indígenas destes países não mantivessem a posse de suas terras, as emissões de CO2 de cada país seriam maiores, ao redor de 9% a mais por ano na Bolívia e 3% a mais por ano no Brasil e na Colômbia", advertiu.

"Uso razoável de recursos"

Os benefícios foram calculados a partir de uma "descoberta" da organização internacional: quando as comunidades indígenas têm assegurados seus direitos sobre a terra, as taxas de desmatamento e as emissões de carbono nestes territórios "com frequência caem significativamente".

Nos três países, a taxa de desmatamento anual média foi "significativamente" menor em bosques indígenas com posse segura do que em locais sem posse segura. No território brasileiro foi 40% menor, no boliviano, 35% menor, e no colombiano, 50% menor.

"As comunidades indígenas e locais têm uma longa história no uso razoável dos recursos naturais, assim como na adaptação às mudanças climáticas de forma integral e sustentável", explicou Naoko Ishii, diretor executivo e presidente do Fundo Mundial para o Meio Ambiente (GEF), citado no comunicado.

Os custos para fixar os direitos sobre os territórios indígenas na Amazônia representam menos de 1% dos ganhos econômicos totais, destaca o documento.

Apesar da rentabilidade, as comunidades indígenas de todo o mundo têm a posse segura de apenas 10% de suas terras, afirma.

O estudo sustenta que os países do mundo "podem frear o desmatamento e reduzir as emissões, fazendo investimentos de baixo custo e com grandes lucros para assegurar os direitos da terra dos povos indígenas e as comunidades locais".

"Os governos nacionais devem tomar nota - e agir com rapidez - para assegurar as terras indígenas e incorporar os direitos à terra em suas estratégias e compromissos relativos às mudanças climáticas no Acordo de Paris", disse Steer.

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