Economia

Galípolo: debate sobre juros é normal; seria ingênuo achar que não existe no campo político

Diretor do BC afirmou que comunicação pelas redes sociais facilitou os debates sobre política monetária no país

Diretor de Política Monetária do Banco Central (BC), Gabriel Galípolo (Fabio Rodrigues-Pozzebom/Agência Brasil)

Diretor de Política Monetária do Banco Central (BC), Gabriel Galípolo (Fabio Rodrigues-Pozzebom/Agência Brasil)

Estadão Conteúdo
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Agência de notícias

Publicado em 1 de setembro de 2023 às 16h38.

O debate sobre juros é normal e seria ingênuo alguém achar que não se reproduzisse no campo político, disse nesta sexta-feira, 1º de setembro, o diretor de Política Monetária do Banco Central (BC), Gabriel Galípolo, ao participar do Expert XP 2023, evento sobre investimentos.

Galipolo fez esta afirmação ao ser perguntado como viu a reação da autoridade monetária às muitas críticas à sua política de juros, principalmente, as tecidas pelo presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva.

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Um dos vocalizadores das críticas do Planalto à política monetária do BC era o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, a quem Galípolo, agora diretor do BC, respondia, sendo o segundo da Fazenda como secretário-executivo. "Debate sobre juros é normal e seria ingênuo achar que não existe debate político", disse o diretor do BC.

Galípolo ponderou que com a facilidade de comunicação pelas redes sociais atualmente, os comunicados do BC, bem como a condução da política monetária, que eram restritos a grupos mais especializados, agora viraram objetos de debate por todo mundo. "A ata do Copom virou discussão da escalação da Seleção Brasileira e o fato de todo mundo discutir Copom é um forma de democratizar o debate. É saudável", disse o diretor de Política Monetária do BC.

Ele contou que durante o último Copom, quando estreou como diretor da autarquia, os diretores reiteravam o tempo todo que as críticas feitas ao BC pelo presidente da República eram legítimas.

Outro ponto destacado por Galípolo durante sua fala no evento da XP foi que, mesmo com entrada dos novos diretores - ele é um deles ao lado de Ailton Aquino -, os debates no âmbito do Copom permanecem técnicos.

Ao falar sobre as futuras trocas de mais dois diretores no board do BC, Galípolo disse que vai observar como eles vão se comportar, mas insistiu que os debates dentro do colegiado são e continuarão sendo pautados por critérios técnicos.

Ele aproveitou para agradecer todo o corpo técnico do BC e aos seus colegas diretores pela boa recepção dispensada principalmente a ele já que Aquino já era funcionário de carreira da autarquia.

Perfil técnico

Após a chegada à autarquia de diretores indicados pelo governo atual, o diretor de Política Monetária do Banco Central ressaltou que as decisões sobre os juros continuarão sendo técnicas. Durante a Expert, evento da XP Investimentos, Galípolo considerou "absolutamente normal" as preocupações no mercado após cada troca de diretor, mas observou que as atas do Copom atestam a "excelência técnica" da autoridade monetária.

Ao abordar as preocupações no mercado sobre a atuação do BC a partir de 2025, com a saída do atual presidente da autarquia, Roberto Campos Neto, Galípolo enfatizou que o perfil técnico garante a estabilidade do funcionamento da autoridade monetária.

Cotado para assumir o comando do BC quando terminar o mandato de Campos Neto, em dezembro de 2024, Galípolo garantiu que a autarquia seguirá perseguindo a meta de inflação, de 3%, fixada pelo Conselho Monetário Nacional (CMN).

Cenário externo e cenário fiscal interno

O diretor de Política Monetária também colocou nesta sexta em segundo plano as incertezas sobre o cumprimento da meta fiscal e apontou o ambiente internacional desafiador a mercados emergentes como o principal ponto de atenção da autarquia neste momento.

No evento da XP que reuniu nesta sexta-feira a comunidade financeira em um centro de exposições na zona sul da capital paulista, Galípolo considerou que o quadro fiscal no Brasil melhorou em relação tanto às previsões de início de ano quanto aos pares internacionais.

Por outro lado, ponderou, o cenário internacional, seja pelo aperto monetário em países ricos, seja pela desaceleração de suas economias, não é "tranquilo" para mercados emergentes, como o Brasil. "Tem que observar em quanto isso vai permitir ou restringir a política monetária", comentou o diretor do BC.

Para Galípolo, o ceticismo do mercado com a promessa do governo de zerar o déficit das contas primárias no ano que vem pode diminuir conforme o governo avançar em medidas de controle fiscal.

Nesse ponto, lembrou que, após o ceticismo inicial mostrado por investidores quando medidas de recomposição fiscal foram anunciadas em janeiro, as expectativas mudaram, com reflexos nos preços dos ativos, conforme o governo avançou em medidas como reoneração dos combustíveis e manutenção da meta de inflação.

"Não existe bala de prata", afirmou o diretor do BC, ao rechaçar a possibilidade de algum acontecimento específico melhorar as projeções do mercado às contas públicas.

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