Economia

G20 se compromete a 'cooperar' para taxar grandes fortunas

Brasil havia colocado a criação de um imposto coordenado sobre as grandes fortunas como uma de suas prioridades na liderança do bloco

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e a secretária do Tesouro americana, Janet Yellen, durante reunião do G20 no Rio de Janeiro (AFP)

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e a secretária do Tesouro americana, Janet Yellen, durante reunião do G20 no Rio de Janeiro (AFP)

AFP
AFP

Agência de notícias

Publicado em 27 de julho de 2024 às 14h15.

Tudo sobreG20
Saiba mais

O G20 se comprometeu a "cooperar" para taxar as grandes fortunas, embora sem chegar a um acordo sobre a criação de um imposto global, indica a declaração final do encontro do grupo, divulgada nesta sexta-feira, 26, no Rio de Janeiro.

"Respeitando plenamente a soberania fiscal, vamos nos esforçar para cooperar a fim de garantir que as pessoas super-ricas sejam efetivamente tributadas", diz o texto, assinado após dois dias de reuniões.

O Brasil havia colocado a criação de um imposto coordenado sobre as grandes fortunas como uma de suas prioridades na liderança do bloco, mas as maiores economias do mundo mais a União Europeia e União Africana não concordaram com esse objetivo. França, África do Sul, Espanha e União Africana, além do Brasil, apoiaram a ideia do imposto.

Os Estados Unidos rejeitaram a ideia de negociações internacionais sobre o tema, embora tenham defendido que cada país tenha um sistema tributário "justo e progressivo". Antes da reunião, a Alemanha expressou que considerava a iniciativa "pouco pertinente".

"Somente o fato de ela constar em uma declaração do G20 é uma coisa que eu garanto que poucos aqui nesta sala imaginavam possível", disse o ministro da Fazenda, Fernando Haddad. "Do ponto de vista moral, é muita coisa as 20 nações mais ricas considerarem que temos um problema, que é a tributação ser progressiva sobre os pobres, e não sobre os ricos", acrescentou, após a reunião.

A declaração final afirma que "as desigualdades de riqueza e renda prejudicam o crescimento econômico e a coesão social e agravam as vulnerabilidades sociais". Também destaca a importância de "promover políticas fiscais eficazes, justas e progressivas".

O texto cita o intercâmbio de boas práticas e a criação de mecanismos para combater a evasão fiscal como possíveis formas de colocar em prática a cooperação internacional, que deve ser discutida no Rio de Janeiro em novembro, durante a reunião de cúpula dos chefes de Estado e governo do G20.

Elogios

A diretora-gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI), Kristalina Georgieva, elogiou a posição do G20: "A visão compartilhada dos ministros do grupo sobre a tributação progressiva é oportuna e bem-vinda, pois a necessidade de reconstruir reservas fiscais e, ao mesmo tempo, atender às necessidades sociais e de desenvolvimento envolve decisões difíceis em muitos países. Promover a justiça fiscal ajuda a garantir a aceitação social dessas decisões."

O economista francês Gabriel Zucman, entusiasta da iniciativa e autor de um relatório sobre o tema a pedido do Brasil, comemorou que, "pela primeira vez na História, os países do G20 concordam em dizer que a forma como tributamos os bilionários precisa ser modificada".

As desigualdades continuaram aumentando nos últimos anos, segundo estudo da ONG Oxfam: o 1% mais rico do mundo viu seu patrimônio crescer mais de 40 trilhões de dólares (226 trilhões de reais), mas sua tributação é "historicamente baixa".

A declaração representa "um avanço global importante. Os bilionários finalmente estão ouvindo que não podem manipular o sistema tributário ou evitar pagar a sua parte", ressaltou Susana Ruiz, chefe de política fiscal da ONG. "Na reunião de novembro, os líderes precisam ir mais longe."

O americano Joseph Stiglitz, vencedor do Nobel de Economia, saudou hoje que se discuta "seriamente o sistema de privilégios de um punhado de bilionários", e afirmou que "é o momento de ir além", pedindo que os chefes de Estado e governo avancem em normas mínimas coordenadas até novembro.

O Greenpeace também elogiou o que chamou de "apoio histórico" do G20 à iniciativa. "É um marco importante para o grupo reconhecer pela primeira vez a necessidade de tributar os super-ricos e combater a injustiça e a desigualdade. É um sinal forte de mudança", afirmou sua estrategista de campanhas, Marilia Monteiro Silva.

O Brasil, que sediará a COP30 do clima no próximo ano, e os Estados Unidos anunciaram hoje, paralelamente às reuniões do G20, a assinatura de um novo compromisso de cooperação em matéria climática.

Três documentos

As divisões internacionais causadas pelas guerras na Ucrânia e Faixa de Gaza haviam impedido nos últimos encontros do bloco declarações finais conjuntas. Desta vez, três textos foram divulgados após a reunião: uma "declaração" específica sobre a cooperação internacional em matéria fiscal, um comunicado final sobre todos os temas discutidos e um comunicado que evoca separadamente as crises geopolíticas, assinado apenas pela presidência brasileira do bloco.

A divulgação de declarações conjuntas do G20 representa "uma vitória do Brasil e da comunidade internacional", ressaltou Haddad. "A cooperação internacional é o antídoto contra a escalada de conflitos."

No comunicado geral, os ministros saudaram o consenso entre os membros do G20 para a criação da Aliança Global contra a Fome e a Pobreza, um mecanismo promovido pelo Brasil e que será lançado oficialmente na reunião de novembro. Também ressaltaram que é crucial enfrentar a crise climática e realizar "ações ambiciosas e eficazes" para combater esse desafio planetário.

Acompanhe tudo sobre:G20Fernando HaddadFMI

Mais de Economia

Número de pessoas que pediram demissão em 2024 bate recorde, diz FGV

Inflação de outubro acelera e fica em 0,56%; IPCA acumulado de 12 meses sobe para 4,76%

Reforma Tributária: empresas de saneamento fazem abaixo-assinado contra alta de imposto

Dívida com precatórios dobra em 17 dos 26 estados e no Distrito Federal em 9 anos, diz estudo