Economia

G20 busca nova governança mundial após chegada de Trump

O objetivo dos ministros das finanças dos países que compõe o bloco é tentar fazer com que os Estados Unidos não renunciem ao multilateralismo

Trump: desde a sua chegada, Trump quebrou tabus em temas como a migração, a guerra de divisas ou as políticas econômicas (Kevin Lamarque/Reuters)

Trump: desde a sua chegada, Trump quebrou tabus em temas como a migração, a guerra de divisas ou as políticas econômicas (Kevin Lamarque/Reuters)

A

AFP

Publicado em 15 de março de 2017 às 15h32.

Os ministros das finanças dos países do G20 se reúnem a partir desta sexta-feira em Baden Baden (Alemanha), para buscar um novo modelo de governança mundial, após a chegada de Donald Trump à Casa Branca, e para tentar que os Estados Unidos não renunciem ao multilateralismo.

Desde a sua chegada, Trump quebrou tabus em temas como a migração, a guerra de divisas ou as políticas econômicas, mas resta saber até onde está disposto a chegar.

"Esta reunião será sem dúvida uma das mais importantes dos últimos anos", garante o comissário europeu de Assuntos Econômicos Pierre Moscovici.

Mais moderado, o ministério alemão das Finanças reconheceu que "as políticas americanas terão um papel" na cúpula embora "não haja razões para ser pessimistas" sobre a relação com os Estados Unidos.

No entanto, uma fonte europeia se pergunta: "Os Estados Unidos continuam acreditando no G20?"

Trata-se da primeira vez que Steven Mnuchin, o secretário do Tesouro de Trump, participa em uma cúpula desse grupo que reúne as 19 principais economias mundiais (industrializadas e emergentes) mais a União Europeia.

"Estamos em uma fase um pouco especial, a direção americana é muito difícil de decifrar, há uma diferença entre as posições do presidente e o que acontece no nível ministerial", explica outra fonte próxima aos preparativos da cúpula.

A reunião dos ministros das Finanças mais governadores dos bancos centrais será fundamental para preparar a cúpula dos chefes de Estado e de governo do G20, prevista em julho em Hamburgo.

Segundo a pesquisadora Britanney Warren, do G20 Research Group da universidade de Toronto, "nenhuma das 20 prioridades do discurso inaugural [de Donald Trump] se ajusta totalmente" aos compromissos da cúpula anterior do G20, celebrada na China no ano passado.

Limar asperezas

Por isso, a declaração final do encontro deste final de semana será fundamental para ver a orientação do grupo. Segundo um rascunho ao qual a Bloomberg News teve acesso, desta vez não se falará de "rejeitar" ou "resistir" ao protecionismo, como nos últimos anos, para limar asperezas com a administração Trump.

Para Ivan Tselichtchev, professor de economia da Universidade de Gestão Niigata, no Japão, "isso daria à administração Trump liberdade para atacar o que considera um 'comércio desequilibrado'".

Já o presidente do Banco Central Europeu, Mario Draghi, lembrou na quinta-feira que há que manter os compromissos do G20, "un pilar da estabilidade que acompanha o crescimento econômico nos últimos 20 anos".

Uma fonte do governo americano garante que su país está "apegado a um comércio aberto e equitativo", onde as empresas e trabalhadores se beneficiem da igualdade no tratamento".

Mas a diretora-gerente do FMI, Christine Lagarde, alertou para as "medidas que poderão afetar gravemente o comércio, a migração, o fluxo de capitais e o compartilhamento de tecnologias".

O comissário europeu Moscovici pede por sua vez que todas as medidas sejam fiscalizadas de forma "justa e transparente", para garantir um "comércio justo e equitativo".

Steven Mnuchin, que foi banqueiro de Goldman Sachs, assegura que quer chegar a um compromisso entre os anseios dos membros do G20 e o que será defendido por Donald Trump na cúpula de Hamburgo em julho.

"É um desafio, mas como o presidente Trump não tem uma posição definitiva em muitos temas, a parte do comércio e de abolir a lei Dodd-Frank [medidas de regulação financeira], há uma possibilidade razoável de chegar a um consenso", explica John Kirton, co-diretor do G20 Research Group.

A Alemanha, que preside o G20 neste ano, quer que também seja tratada na cúpula a situação da África, com um projeto para "melhorar as condições de investimento privado na África, a última grande região do mundo que ainda não se integrou à economia mundial".

Acompanhe tudo sobre:Donald TrumpEstados Unidos (EUA)G20

Mais de Economia

BNDES vai repassar R$ 25 bilhões ao Tesouro para contribuir com meta fiscal

Eleição de Trump elevou custo financeiro para países emergentes, afirma Galípolo

Estímulo da China impulsiona consumo doméstico antes do 'choque tarifário' prometido por Trump

'Quanto mais demorar o ajuste fiscal, maior é o choque', diz Campos Neto