Economia

Fronteiras são "apartheid global", diz economista

"Por qual teoria moral é ok ameaçar pessoas com violência só porque elas procuram oportunidade econômica?", diz Alex Tabarrok, defensor de fronteiras abertas


	Refugiados sírios na Croácia: "a solução em busca de um problema"
 (Reuters)

Refugiados sírios na Croácia: "a solução em busca de um problema" (Reuters)

DR

Da Redação

Publicado em 21 de setembro de 2015 às 18h20.

São Paulo - O mundo vive hoje a maior crise de refugiados desde a Segunda Guerra Mundial.

Enquanto políticos fecham fronteiras e parte da população fica apreensiva, muitos economistas insistem que deixar eles entrarem é bom para a economia e para os trabalhadores locais.

"Nenhum economista notável acredita que imigração seja um enorme problema", diz o canadense Alex Tabarrok, PhD pela George Mason University, onde é professor.

Uma pesquisa da Universidade de Chicago com economistas consagrados confirma sua posição. Outro estudo, publicado em abril pelo Escritório Nacional de Pesquisa dos Estados Unidos, concluiu que no país, os imigrantes criam mais empregos do que tomam.

Na Europa, que enfrenta um problema sério de envelhecimento e queda de população, há quem diga que a imigração é a própria "solução em busca de um problema".

"Se conseguimos integrá-los rapidamente ao mercado de trabalho, ajudaremos os refugiados e nos ajudaremos também", afirma o presidente da poderosa federação de indústrias alemãs BDI, Ulrich Grillo, para a AFP.

Tabarrok vai mais longe e apoia o movimento Open Borders: "Por qual teoria moral é ok ameaçar pessoas com violência só porque elas procuram uma oportunidade econômica?", questiona.

Junto com Tyler Cowen, ele é autor do popular blog econômico Marginal Revolution e seus artigos já apareceram no The New York Times e no The Wall Street Journal, entre outros.

Por e-mail, ele respondeu a algumas perguntas de EXAME.com. Veja a seguir: 

EXAME.com - Você é do movimento Fronteiras Abertas e chama as remessas de estrangeiros para seus países de origem "o melhor programa anti-pobreza do mundo". Por que?

Alex Tabarrok - Quando um trabalhador se move de um país menos desenvolvido para um mais desenvolvido, seu salário dobra, triplica ou aumenta até 10 vezes. Nenhum outro programa anti-pobreza pode aumentar salários da noite pro dia e de forma permanente.

EXAME.com - Mas isso não coloca pressão sobre os gastos de bem-estar social?

Tabarrok - O que chamamos de bem-estar social são na verdade vários programas. Previdência, por exemplo, é basicamente um programa de economia forçada. Não existe problema algum porque a pessoa precisa trabalhar e contribuir para o programa para poder receber dinheiro dele. 

Para educação não há problema, porque mesmo se ela for gratuita para filhos de imigrantes, levará a salários mais altos no futuro que serão taxados. As crianças estão apenas recebendo um empréstimo que pagarão do seu bolso mais tarde.

A mesma coisa em saúde básica. Só faz algum sentido pensar em transferências excessivas no caso de doações puras ou saúde para os mais velhos. Mas estes benefícios não estão disponíveis para imigrantes, ou só depois de 5 anos ou algum período do tipo.

EXAME.com - Mais imigração é sempre positivo ou só para países que estão envelhecendo rápido ou perdendo população?

Tabarrok - Na média, imigração tende a aumentar os salários dos nativos. Ironicamente, são os países que mais aceitam imigrantes que geralmente se dão melhor.

Os imigrantes que conseguem empregos criam riqueza para o país, enquanto os imigrantes que não conseguem empregos por causa da discriminação não podem ajudá-lo.

EXAME.com - A imigração não puxa para baixo os salários dos nativos menos qualificados?

Tabarrok - Os menos qualificados estão mais sujeitos a riscos, mas mesmo para eles os efeitos tendem a ser pequenos e desaparecer no longo prazo.

Os imigrantes também trazem mais demanda, por exemplo, e com mais trabalhadores faz mais sentido abrir mais firmas, lojas e fábricas, o que significa que na medida em que a economia se ajusta, os salários não caem.

EXAME.com - Devemos diferenciar entre imigrantes com maior e menor nível de educação?

Tabarrok - Imigrantes bem educados são basicamente só benefício com zero custo, então há um argumento forte para deixar quantos quiserem entrarem, e inclusive incentivar que eles imigrem.

Mas os imigrantes não-educados não devem ser temidos e também ajudam os mais educados. Todos nos beneficiamos quando eles trabalham juntos. Um jardineiro que corta o gramado de um físico nuclear está ajudando a desvendar os segredos do universo.

EXAME.com - Qual é o nível de consenso dos economistas sobre os efeitos da imigração?

Tabarrok - É uma área onde eles concordam bastante. A maior parte dos economistas acha que a imigração é benéfica no balanço, e mesmo aqueles que veem um efeito de baixa de salários nos nativos menos qualificados concorda que este efeito é baixo no curto prazo e ainda menor no longo. Nenhum economista notável acredita que imigração seja um "enorme" problema.

EXAME.com - Seria natural que o capitalismo, depois de liberar o comércio, investimento e outros fatores de produção, promovesse também a mobilidade da força de trabalho. Mas a onda política vai muitas vezes contra isso. Como ficamos no balanço?

Tabarrok - Imigração é uma questão não só econômica, mas de justiça e direitos.

Por que deveríamos estar acorrentados ao lugar onde nascemos? Não deveríamos todos ter o direito de se mover pelo planeta? Por qual teoria moral é ok ameaçar pessoas com violência só porque elas procuram uma oportunidade econômica?

Quando olhamos a questão dessa forma, fica difícil negar que nossas fronteiras são um sistema de apartheid global. Quem consegue defender isso? No final das contas, acho que vamos evoluir para um ponto onde o direito de ir para onde quiser será considerado um direito humano universal.

Acompanhe tudo sobre:EuropaImigraçãoRefugiados

Mais de Economia

BNDES vai repassar R$ 25 bilhões ao Tesouro para contribuir com meta fiscal

Eleição de Trump elevou custo financeiro para países emergentes, afirma Galípolo

Estímulo da China impulsiona consumo doméstico antes do 'choque tarifário' prometido por Trump

'Quanto mais demorar o ajuste fiscal, maior é o choque', diz Campos Neto