Economia

Frete para escoar safra recorde sobe menos com agendamento

Novas restrições na chegada de caminhões ao porto de Santos forçam um maior escalonamento dos carregamentos


	Soja: preços médios de frete no país subiram entre 4 e 6 por cento ante janeiro, segundo levantamento da Esalq Log
 (Getty Images)

Soja: preços médios de frete no país subiram entre 4 e 6 por cento ante janeiro, segundo levantamento da Esalq Log (Getty Images)

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Da Redação

Publicado em 2 de abril de 2014 às 15h05.

São Paulo - Os preços de frete entre as principais regiões produtoras de grãos e os portos brasileiros estão subindo menos este ano na comparação com o ano passado, com novas restrições na chegada de caminhões ao porto de Santos forçando um maior escalonamento dos carregamentos.

Em fevereiro, primeiro mês do escoamento da nova safra de soja, os preços médios de frete no país subiram entre 4 e 6 por cento ante janeiro, segundo levantamento da Esalq Log, grupo de pesquisa em logística agroindustrial da Universidade de São Paulo.

Entre janeiro e fevereiro de 2013, os preços de frete de grãos tinham subido 15 por cento.

"A safra está se prolongando um pouco mais, e soma-se a isso o agendamento", disse Neuto Reis, diretor técnico da NTC&Logística, associação que reúne mais de 3 mil transportadoras do país.

"Só mudou o lugar da fila. Ao invés de esperar carregados em Santos, estão fazendo fila na origem, descarregados, vazios." A desaceleração de preços de fretes verificada no início do escoamento da safra continuou no último mês. Os preços subiram entre 7 e 9 por cento de fevereiro para março deste ano, contra alta entre 11 e 14 por cento no mesmo período do ano passado.

O frete de caminhão, importante componente de custos do agronegócio no país que utiliza o modal rodoviário para escoar boa parte de sua safra, estava cotado a 311,25 reais por tonelada transportada na rota Campo Novo do Parecis (MT) a Santos, nesta quarta-feira, segundo dados da Esalq Log. O valor representa cerca de 30 por cento do preço da soja no porto.

Agendamento compulsório

Esta é a primeira safra em que os operadores de terminais no complexo portuário de Santos (SP) estão sendo obrigados a agendar a chegada de caminhões, dentro de um limite diário, numa tentativa das autoridades de evitar os grandes engarrafamentos verificados no ano passado.


No início deste ano, quando os efeitos do agendamento obrigatório em Santos não estavam claros, havia expectativa de que o frete da soja iria subir 10 por cento no pico da safra, após os recentes reajustes no preço do diesel.

"Os preços realmente, dependendo da região e do destino, estão um pouco abaixo do ano passado. Ano passado deu muita correria, teve empresa que não conseguiu entregar", disse o diretor de transportes da Transportes Botuverá, Santo Nicolau Bissoni, de Rondonópolis (MT).

Na avaliação do executivo, as empresas exportadoras --grandes tradings que têm armazéns no interior do país e terminais nos portos-- optaram por contratos mais escalonados.

No primeiro semestre de 2013, em meio a uma escassez de soja no mercado internacional após uma quebra de safra nos Estados Unidos, compradores correram para os portos brasileiros em busca da oleaginosa, provocando filas de navios e congestionamento de caminhões no entorno dos terminais.

Santos é o principal porto de embarques de grãos no país, com influência sobre a cadeia logística de todo o país.

O Brasil deverá colher um recorde de 85,4 milhões de toneladas da oleaginosa na atual temporada, segundo o Ministério da Agricultura, e exportar 44 milhões de toneladas do grão em 2014, também um volume inédito, de acordo com as indústrias.

Tempo seco e menos milho

O tempo seco e uma menor exportação de milho neste início de 2014 também estão contribuindo para maior agilidade nos embarques nos principais portos, aliviando um pouco a tensão no mercado de frete rodoviário, disseram especialistas.


"Tudo funcionou muito melhor este ano", disse João Birkhan, diretor da consultoria Sim Consult, de Cuiabá (MT), que monitora preços de frete em todo o país.

Ele destacou que "choveu menos neste verão", o que permitiu embarques mais ágeis em portos como Santos e Paranaguá (PR). Em geral, os porões dos navios são abertos apenas com tempo seco.

"Ano passado boa parte do problema foi devido à sobreposição de embarques de soja e milho", salientou o analista da Agroconsult, Marcos Rubin, lembrando que a presença de dois tipos de grãos atrasa a operação nos silos e nos equipamentos de embarque nos portos.

Pela projeção do Ministério da Agricultura, o Brasil deverá embarcar 64,8 milhões de toneladas de soja e milho combinados na atual temporada 2013/14, contra 69 milhões na temporada passada, devido a uma safra bem menor de milho este ano no país.

Com escritório às margens de uma rodovia em Sapezal (MT), José Rodrigues, coordenador de embarques em uma pequena transportadora que contrata caminhoneiros avulsos, tem sentido uma redução nos preços oferecidos pelas tradings, após os negociantes de grãos terem tido margens afetadas pelos fretes elevadíssimos em 2013: "A média da safra está mais baixa que no ano passado." Mas ele lembra que em sua região há dois outros fenômenos pressionando preços neste momento. Com a colheita de soja praticamente encerrada, os caminhões que antes faziam o frete entre lavoura e armazéns estão agora disponíveis para trajetos de longo curso.

Outro problema é a interdição dos portos fluviais em Rondônia, devido às cheias dos rios da região.

"Para Porto Velho, como (o porto) está parado lá, sobraram mil caminhões que faziam a rota", disse.

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