Economia

FMI integra iuane chinês à cesta de grandes moedas

Na prática, a mudança não deve afetar o mercado de câmbio mundial, onde o dólar continua sendo de longe o mais usado


	Iuane: o renminbi, o outro nome da divisa chinesa, deve se beneficiar com a continuidade de sua nascente internacionalização
 (Getty Images)

Iuane: o renminbi, o outro nome da divisa chinesa, deve se beneficiar com a continuidade de sua nascente internacionalização (Getty Images)

DR

Da Redação

Publicado em 30 de setembro de 2016 às 16h36.

O iuane chinês faz sua estreia no grupo das grandes divisas de referência, junto ao dólar e ao euro, selando uma importante vitória das autoridades de Pequim em sua luta pelo reconhecimento na cena econômica mundial.

A partir de sábado (1º), a moeda chinesa passa a integrar, oficialmente, a unidade contábil do Fundo Monetário Internacional (FMI), denominada "Direitos Especiais de Saque" (DEG), junto às divisas americana e europeia, a libra britânica e o iene japonês.

Na prática, a mudança não deve afetar o mercado de câmbio mundial, onde o dólar continua sendo de longe o mais usado (41% das transações mundiais), à frente do euro (30,8%), ou da libra (8,7%), segundo a firma financeira Swift.

O renminbi, o outro nome da divisa chinesa, deve se beneficiar com a continuidade de sua nascente internacionalização e pode aterrissar, no futuro, no tesouro dos países que dispõem de assistência financeira do FMI.

O significado simbólico da decisão é muito mais importante. Há vários anos, Pequim busca consolidar sua posição como segunda potência econômica mundial e não poupa esforços para tornar o iuane uma moeda de reserva internacional no contexto de uma abertura gradual de seu mercado.

Esse interesse levou as autoridades chinesas a apelaram ao FMI para que a instituição admitisse o renminbi em sua cesta de moedas.

Após uma avaliação detalhada, o órgão de direção do Fundo, que representa seus 189 Estados-membros, deu seu aval em novembro de 2015, afirmando que o iuane cumpre dois grandes requisitos: estar muito presente nas transações internacionais e ser "livremente utilizável".

A instituição se deu quase um ano de prazo, até o sábado, para garantir uma transição tranquila. A última modificação de sua cesta de divisas data de 2000, quando o euro substituiu o franco e o marco alemão.

O aval do FMI levantou preocupações, dado que alguns viam a decisão como sendo política, destinada a atender a Pequim, que se queixa de estar sub-representado nas instâncias econômicas e começou a criar suas próprias instituições financeiras junto a outros países emergentes.

No final de 2015, o Banco Central Chinês (PBOC) comemorou a decisão do FMI, que considerou "o resultado do desenvolvimento econômico e das reformas de abertura da China", afirmando que isso iria "melhorar o sistema monetário internacional", tornando o DEG "mais representativo".

Acusações de manipulação

O Fundo sempre negou ter cedido a pressões ao outorgar o título de nobreza ao renminbi.

"Não há nenhuma maquiagem dos indicadores", declarou, recentemente, um dos dirigentes do Fundo, Siddharth Tiwari.

"É um processo incrivelmente transparente", afirmou.

A evolução do iuane se mantém estritamente controlada pelas autoridades chinesas, e a ideia de que seja reconhecida como "livremente utilizável" não tem unanimidade.

O candidato republicano à Casa Branca, Donald Trump, não perde a chance de acusar os chineses de "manipular" sua divisa para estimular suas exportações.

"Eles desvalorizam sua moeda, e não há nada no governo (dos EUA) para enfrentá-los", denunciou ele na segunda-feira no primeiro debate televisivo com sua oponente, a democrata Hillary Clinton.

O FMI espera, pelo contrário, que reconhecimento acordado ao iuane estimule as autoridades chinesas a continuar o incipiente movimento de flexibilização de sua moeda. Hoje, o renminbi pode flutuar livremente dentro de uma banda de 2%, acima ou abaixo de uma cotação fixada diariamente.

O Banco Central Chinês atua, realizando intervenções no mercado de câmbio para desvalorizar sua moeda, principalmente em janeiro passado, em meio à desaceleração do crescimento do país.

No último ano, o renminbi registrou uma forte desvalorização. Em setembro de 2015, operava a 6,36 iuanes por dólar. Agora, caiu para 6,68, níveis não registrados há seis anos.

"Vimos medidas concretas (...) para reforçar o uso do renminbi em nível internacional, mas ainda falta para que o país abra realmente suas portas", resumiu o analista Mitul Kotech, da Barclays (Cingapura), em declaração à AFP.

Acompanhe tudo sobre:ÁsiaCâmbioChinaIuaneMoedas

Mais de Economia

Tebet avalia que café e carne devem ficar de fora do tarifaço de Trump 'por interesse deles'

Comissão do Senado aprova projeto que amplia isenção de IR para quem ganha até dois salários

Após tarifaço, déficit comercial dos EUA cai em junho com a queda das importações

Em meio ao tarifaço dos EUA, Haddad diz que governo dará atenção especial a setores vulneráveis