Lapônia, na Finlândia: para onde vai um dos países mais ricos do mundo? (Creative Commons)
João Pedro Caleiro
Publicado em 28 de junho de 2016 às 19h17.
São Paulo - Em meados do século XIX, a expressão "homem doente da Europa" foi usada para se referir ao Império Otomano - e pegou.
Desde então, praticamente todo país europeu já recebeu o rótulo por algum motivo - inclusive economias hoje fortes, como o Reino Unido (nos anos 70) e a Alemanha (nos anos 90).
Hoje, o doente da Europa é a Finlândia, como admitiu seu próprio ministro das Finanças, Alexander Stubb, em setembro do ano passado.
O país teve três anos seguidos de recessão e só voltou a crescer em 2015, mas pouco (0,7%), e o PIB continua 5% menor do que antes da crise.
A porcentagem da dívida em relação ao PIB quase dobrou desde a recessão e o país perdeu nos últimos meses a cobiçada nota triplo A de risco de crédito pela Fitch e pela Moody's.
Houve uma tempestade perfeita de condições adversas. Uma delas é a decadência da Nokia, sua empresa-modelo, que respondeu por um quarto do crescimento do PIB entre 1997 e 2007.
Demissões em massa de finlandeses foram anunciadas no mês passado tanto no que restou da Nokia quanto na Microsoft, que comprou seu negócio de smartphones.
Presa ao euro, a Finlândia não pode contar com o enfraquecimento da sua moeda para impulsionar a competitividade das exportações (mesmo problema da Grécia).
"A Finlândia está diante de anos de estagnação econômica, e será uma das economias da zona do euro com pior performance em termos de crescimento. Reformas estruturais sendo implementadas pelo governo serão insuficientes para compensar o declínio da indústrias chave, uma base exportadora não competitiva e rigidez no mercado de trabalho", diz um relatório recente da BMI Research, empresa do grupo Fitch.
O país passou recentemente um pacote negociado com sindicatos (mas mal recebido pelos eleitores) de congelamento de salários, maiores porcentagens de contribuições sociais e alta nas horas trabalhadas.
Agora, vai ter que lidar com a surpresa da saída do Reino Unido da União Europeia, que balançou os mercados e colocou em questão a estabilidade do bloco.
Segundo o Danske Bank, pode ser o que faltava para Finlândia recair em uma recessão.
O país compartilha com outros europeus um problema estrutural de envelhecimento rápido. Em outras palavras: há cada vez menos pessoas em idade de trabalhar para bancar o custo de saúde e aposentadorias do número crescente de idosos.
Uma soluçao possível seria dar as boas vindas para mais imigrantes, mas isso esbarra na rejeição dos finlandeses e na plataforma de um dos partidos populistas de direita dentro da coalização governamental.
Uma boa notícia é que a Finlândia investe bastante em pesquisa e desenvolvimento (3,3% do PIB, contra 2% na média da União Europeia) e na infraestrutura do futuro que favorece negócios de ponta.
Combinado com uma das forças de trabalho mais qualificadas do mundo, isso pode significar inovação, aumento da produtividade e algum crescimento futuro.
De qualquer forma, ninguém espera que a Finlândia empobreça significativamente. O desemprego deve ser um pouco mais alto, a renda um pouco mais baixa e os serviços públicos um pouco piores - mas o país continuará sendo um dos mais prósperos e estáveis do mundo.