Economia

Opep projeta alta de 16,5% na procura por barris até 2045

Mesmo com transição energética, especialistas explicam que demanda continuará impulsionada por setores de difícil descarbonização e por servir como insumo para outras indústrias

Agência o Globo
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Publicado em 30 de setembro de 2024 às 08h20.

Última atualização em 30 de setembro de 2024 às 08h20.

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Apesar de não haver consenso sobre o momento em que se dará o pico da demanda por petróleo, a commodity ainda terá uso crescente nos próximos anos. A Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep), em relatório de outubro de 2023, projeta procura por 116 milhões de barris diários até 2045, alta de 16,5% sobre 2022.

Já relatório divulgado pela Agência Internacional de Energia (AIE) em junho indica que os 102 milhões de barris por dia demandados em 2023 serão 106 milhões no final da década, com tendência à estagnação a partir de 2029.

O impacto econômico do petróleo na economia brasileira também tende a se elevar nos próximos anos. Dados da Empresa de Pesquisa Energética (EPE) indicam que, em 2030, a produção brasileira deve alcançar 5,3 milhões de barris por dia. A partir de 2034, a estimativa é de que o volume caia para 4,4 milhões de barris diários. Hoje, o país produz cerca de 4,3 milhões de barris de óleo equivalente por dia (boed, inclui gás).

Segundo o Instituto Brasileiro de Petróleo (IBP), o setor lidera o PIB industrial, com 17,2% do valor adicionado da indústria, empregando direta e indiretamente 1,6 milhão de pessoas. No ano passado, gerou arrecadação de R$ 91,6 bilhões, sendo a maior parte, R$ 53,6 bilhões, em royalties. Para o presidente do IBP, Roberto Ardenghy, a velocidade da transição energética depende de avanços tecnológicos, políticas públicas e dos mercados globais.

"Esse processo deve ocorrer de forma gradual, responsável e progressiva, para mitigar os impactos econômicos e sociais negativos da transição", observa o executivo.

Ele ressalta que o petróleo continuará sendo demandado no futuro porque, além de fonte de energia, serve como insumo para outras indústrias.

João Victor Marques Cardoso, Pesquisador da FGV Energia, lembra que hoje 80% da matriz energética mundial é atendida por hidrocarbonetos (petróleo, gás natural e carvão) e há setores que são de difícil descarbonização.

"O fim da transição energética, que é também econômica e social, é incerto. O processo é gradual e tende a adquirir peculiaridades conforme o país, região e setores que o estejam conduzindo", diz.

Planos de longo prazo

Para ele, os 11 estados e cerca de 1.100 municípios brasileiros que recebem royalties  e que lidam com a volatilidade dos preços  devem criar “planos estruturantes de longo prazo” para lidar com o declínio do petróleo e a transição energética. Um caminho, aponta Cardoso, é incentivar setores estratégicos visando diversificar a atividade econômica.

Nos EUA, um estudo da PwC, encomendado pelo American Petroleum Institute (API) e divulgado em 2023, mostra que o impacto direto do setor de óleo e gás (O&G) na economia em 2021 foi de US$ 774 bilhões (R$ 4,2 trilhões), chegando a US$ 1,8 trilhão (R$ 9,8 trilhões) com os efeitos indiretos e induzidos. O setor participou com 7,6% do PIB naquele ano, criando 2,3 milhões de empregos diretos e até 10,8 milhões indiretos. A produção foi de cerca de 12,9 milhões de barris por dia em 2023.

"As fontes renováveis não só não vão gerar os royalties, participações especiais e impostos do petróleo, como muitas vezes vão requerer subsídios para se viabilizar", observa Edmar Almeida, professor e pesquisador do Instituto de Energia da PUC-RJ.

Por isso, diz, é necessário planejar o processo de transição e, no caso brasileiro, incentivar a redução do consumo dos derivados de petróleo. O Brasil, observa, não necessariamente precisa reduzir a produção nos próximos anos.

"Podemos exportar o excedente e usar a renda do petróleo para financiar a transição", destaca Almeida.

Para Manuel Fernandes, sócio-líder do setor de energia e recursos naturais da KPMG no Brasil e na América do Sul, o momento atual requer planejamento muito cuidadoso para que as reservas existentes possam ser monetizadas enquanto a demanda ainda está em alta.

Ele destaca que os EUA, maior produtor do mundo em 2023, oferecem incentivos fiscais para estimular a descarbonização da economia. Outros, como os Emirados Árabes, diz ele, vêm investindo em entretenimento e turismo para ajudar a compensar a queda da demanda por petróleo.

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