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Da Redação
Publicado em 10 de outubro de 2010 às 03h43.
São Paulo - O crescimento de 0,4% no nível de atividade da indústria paulista demonstra que o setor permanece em uma trajetória de recuperação. A avaliação é do diretor do Departamento de Pesquisas e Estudos Econômicos da Federação da Indústria de São Paulo (Fiesp), Paulo Francini. "O resultado é bom e não nos traz nenhuma surpresa. No fechamento do ano, a indústria estará crescendo a dois dígitos, algo entre 13% e 14%", afirmou.
Francini destacou que o Nível de Utilização da Capacidade Instalada (Nuci) está em um patamar "bastante folgado". Em janeiro, o Nuci ficou em 81,7%, com ajuste sazonal, e em 79,6%, sem ajuste. "Pode-se dizer que a indústria está aquecida quando o Nuci oscila entre 84% e 86%. Ou seja, não há nenhum motivo para preocupação", considerou.
Todos os indicadores conjunturais da indústria registraram queda em janeiro na comparação com dezembro: horas pagas (baixa de 2,6%), horas trabalhadas (queda de 0,9%), salários nominais (recuo de 4,2%), salários reais (baixa de 5,5%), vendas nominais (queda de 19,4%) e vendas reais (baixa de 21,2%). Francini explicou que o desempenho foi considerado normal para o mês de janeiro.
Entre os setores que chamaram a atenção por seu desempenho em janeiro está o de Alimentos e Bebidas, com queda de 0,4% no nível de atividade de janeiro ante dezembro, com ajuste. As vendas reais do segmento registraram queda de 20,1%, e as horas trabalhadas na produção tiveram redução de 5,7%.
De acordo com Francini, o resultado está relacionado às fortes chuvas que atingiram o Estado de São Paulo em janeiro. "As chuvas paralisam o corte e o transporte de cana de açúcar e a produção de açúcar e álcool. As usinas registraram queda de 30% no faturamento em janeiro", disse.
Já os destaques positivos foram os setores de Metalurgia Básica, com crescimento de 2,2% no nível de atividade de janeiro na comparação com dezembro, com ajuste sazonal, e o de Máquinas e Equipamentos, com alta de 2%. Ambos bem acima do 0,4% que a indústria como um todo registrou. Os dois setores foram também um dos mais afetados pelos efeitos da crise no País. "O Nuci de metalurgia básica ficou em 83,9% em janeiro, ainda baixo para um setor que opera acima de 90%", disse Francini.
O desempenho da indústria de bens de capital, por sua vez, foi beneficiado pelas linhas de financiamento do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) para o setor. No quarto trimestre de 2009, os desembolsos pela linha Finame atingiram R$ 7,1 bilhões, um crescimento de 28,2% em relação à media de 2008 - bem acima dos R$ 4,8 bilhões desembolsados no terceiro trimestre do ano passado. "Podemos dizer que a indústria foi às compras para modernizar e aumentar seu parque produtivo", disse Francini. O Nuci do setor ficou em 73,4% no mês de janeiro.
Compulsórios
Francini disse hoje esperar que as mudanças no compulsório anunciadas ontem pelo Banco Central (BC) sejam suficientes para evitar a elevação da taxa básica de juros este ano. "Espero que essa decisão elimine a alternativa de elevação da Selic", afirmou. A maioria dos analistas de mercado prevê que o Comitê de Política Monetária (Copom) poderá aumentar a Selic, que hoje é de 8,75% ao ano, para 11,25% até o fim de 2010. As medidas anunciadas ontem reduzem a liquidez do mercado e a oferta de crédito pelos bancos.
"Já éramos contra o aumento da Selic antes da retomada das alíquotas pré-crise de recolhimento do compulsório. Agora somos duplamente contra", disse Francini. "A Fiesp tem uma posição muito clara contra a alta da Selic porque considera que a capacidade produtiva da indústria não está ameaçada. Existe folga dentro da estrutura industrial para alicerçar o crescimento do País."
O diretor evitou fazer críticas às mudanças no compulsório e ponderou que todos os países que adotaram ações de estímulo econômico durante a crise reavaliam até quando elas serão mantidas. "A percepção do governo é de que aquilo que deveria ter sido feito foi feito e demandava um esforço fiscal grande, mas temporário", afirmou. Para Francini, a redução da oferta de crédito resultará em aumento do custo dos financiamentos. "Os efeitos serão semelhantes ao aumento da Selic para empresas e consumidores, mas sem impactar as contas públicas."