Economia

FHC diz que Levy "é um estranho no ninho"

Para o ex-presidente, o modelo de ajuste fiscal proposto pelo ministro não está dando certo porque falta sustentação política


	Levy: "política econômica é política. Não é simplesmente decisão tecnocrática", disse
 (Ueslei Marcelino/Reuters)

Levy: "política econômica é política. Não é simplesmente decisão tecnocrática", disse (Ueslei Marcelino/Reuters)

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Da Redação

Publicado em 18 de março de 2015 às 15h08.

Brasília - O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso afirmou em entrevista exclusiva ao jornal O Estado de S. Paulo que o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, "é um corpo estranho no ninho".

Para o oposicionista tucano, o modelo de ajuste fiscal proposto por Levy não está dando certo porque falta sustentação política para que seja implementado.

"Política econômica é política. Não é simplesmente decisão tecnocrática. Ainda que esteja correta tecnocraticamente, não está tendo condições políticas para a sua sustentação e, por isso, o Congresso reage", declarou.

O corte de gastos, a diminuição das políticas de crédito subsidiado para investidores e a restrição de desonerações fiscais para setores empresariais praticados agora por Levy foram em grande parte promessas para a área econômica feitas durante a campanha presidencial do senador Aécio Neves (PSDB-MG) para a Presidência, no ano passado.

Indagado se as medidas do atual ministro são próximas das ideias defendidas em 2014 pelo PSDB, FHC respondeu: "A dosagem, não sei se seria mesma. Seria diferente. O Armínio Fraga (pré-anunciado como ministro da Fazenda, no caso de vitória de Aécio) estava mais cuidadoso, falando em ações graduais. E a força política para justificar seria muito maior, porque teria legitimidade para ser implementada, porque havia sido dito de antemão exatamente o que iria ser feito. Então está um pouco torto o processo de agora", disse o ex-presidente.

Fernando Henrique, que foi ministro da Fazenda durante o governo do ex-presidente Itamar Franco na época da criação do plano Real, destacou que "ia ao Congresso incessantemente" e "ia ao rádio e à televisão quase que diariamente para vender o peixe".

Para ele, falta mais engajamento de Levy e do governo para conseguir convencer os parlamentares e a população sobre a necessidade dos ajustes.

"Havia um projeto que eu politicamente defendia, é o que está faltando. O Levy não é líder político. Não estou criticando, isso é uma condição, ele não é", declarou.

Apoio artificial

FHC acredita que o apoio aparentemente sólido para o governo do PT nos últimos anos passou a ser, em determinado momento, insustentável.

"Houve a formação de um bloco hegemônico no Brasil, com um conjunto de forças sociais que são amalgamadas politicamente e que têm sustentação em uma certa situação objetiva econômica, com a utilização dos recursos públicos para fortalecer o setor privado. Como ao lado disso havia outros programas que fortaleciam os setores populares, deu uma aura quase que de invencibilidade. Anos atrás, dava a impressão que isso aqui era uma maravilha e que havia uma sustentação muito sólida", definiu.

"Isso gerou uma base de poder político enorme. O governo era apoiado amplamente pelas camadas dirigentes da economia. A partir de certo momento, as bases desse apoio passaram a ser insustentáveis. Agora, esse modelo se esgotou, e parece que foi no governo Dilma, mas o início do processo veio do governo Lula. Porque ele acreditou que você podia encontrar a pedra mágica do crescimento contínuo, que era empréstimo e consumo. Isso estourou. Quando ela se quebrou, qual foi a reação das camadas economicamente dirigentes? O Lula é bom a Dilma é má", concluiu o ex-presidente.

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