Economia

Fernández escolhe jovem heterodoxo para chefiar economia da Argentina

Presidente eleito começa a montar equipe dias antes de tomar posse para enfrentar uma economia estagnada, dívida crescente e forte inflação

Fernández: o peronista, que substituirá Mauricio Macri, toma posse na próxima terça-feira (Agustin Marcarian/Reuters)

Fernández: o peronista, que substituirá Mauricio Macri, toma posse na próxima terça-feira (Agustin Marcarian/Reuters)

R

Reuters

Publicado em 6 de dezembro de 2019 às 19h31.

Última atualização em 7 de dezembro de 2019 às 10h55.

Buenos Aires — O presidente eleito da Argentina, Alberto Fernández, anunciou seu ministério na noite desta sexta-feira, delineando o núcleo de sua equipe dias antes de tomar posse para enfrentar uma economia estagnada, temores crescentes com a dívida e uma dolorosa inflação.

Fernández nomeou Martín Guzmán, 37 anos, como ministro da Economia, e o novo titular da pasta terá pela frente a tarefa de negociar a reestruturação da dívida de cerca de 100 bilhões de dólares com credores internacionais e com o Fundo Monetário Internacional (FMI).

Alguns dos ministros já tinham sido antecipados pela Frente de Todos, coalizão liderada por Fernández. Felipe Solá, ex-governador da província de Buenos Aires, foi confirmado ontem como titular do Ministério das Relações Exteriores. Já o Ministério da Defesa será comandado por Agustín Rossi.

Faltava saber, porém, quem receberia a missão de consertar os rumos da economia, fragilizada desde a crise cambial que começou em 2018, e de começar a renegociar com credores internacionais o pagamento da grande dívida pública da Argentina.

Sobre Guzmán, Fernández disse que conhece o indicado para o cargo há muito tempo e tem "grande confiança" no trabalho que ele pode fazer.

"É um homem jovem muito preparado, que conhece muito bem o conflito da dívida e o conflito macroeconômico da Argentina. Estamos há várias semanas trabalhando juntos nesses problemas para tirar o país da debilidade em que está", afirmou o presidente eleito.

Fernández destacou a trajetória de Guzmán como pesquisador e professor da Universidade de Columbia, em Nova York.

"É alguém a quem consultei muito nos últimos tempos sobre os problemas que a Argentina tem em matéria de dívida. É uma grande alegria que Martín tenha aceitado o desafio de deixar Nova York e voltar a Buenos Aires para assumir o Ministério da Economia", afirmou o peronista.

O presidente eleito também revelou que o economista Miguel Ángel Pesce, de 57 anos, será o novo comandante do Banco Central da Argentina.

O economista discreto, que recentemente presidiu o banco provincial Tierra del Fuego, indicou que procurará desviar a política monetária da postura mais ortodoxa que a autoridade monetária seguiu sob o presidente conservador, Mauricio Macri, que entrega o poder em 10 de dezembro.

Pesce apoiou a redução das taxas de juros e estabeleceu um "pacto social" para ajudar a reduzir os preços em alta. O economista assumirá o comando do banco central em um momento em que a Argentina enfrenta uma inflação anual de mais de 50%, com taxas de juros de 60% para conter a desvalorização da moeda e uma economia em contração, com vencimentos milionários de dívida previstos para 2020.

O peronista Fernández, que substituirá Macri, tendo como vice a ex-presidente Cristina Kirchner, toma posse na próxima terça-feira.

 

Jovem heterodoxo

Colaborador em Nova York do Prêmio Nobel de Economia Joseph Stiglitz, o novo ministro da Fazenda é especialista em dívidas soberanas e defende adiar - por dois anos - o pagamento dos juros da dívida, por meio de um acordo com os credores, e ampliar os prazos para o principal.

O FMI concedeu à Argentina um crédito de 57 bilhões de dólares a três anos, mas Fernández desistiu de receber a última parcela, em troca de que "deixem o país crescer" e sair da recessão.

Combate à fome

Entre as prioridades confirmadas por Fernández estão o combate à fome e à pobreza, que ficará a cargo do ministro de Desenvolvimento Social, Daniel Arroyo, 53 anos, de vasta experiência no tema.

Após anunciar que promoverá novamente no Congresso o debate sobre o aborto, Fernández nomeou o sanitarista Ginés González García para a Saúde, cargo que já ocupou durante o governo de Néstor Kirchner (2003-2007).

O presidente do clube San Lorenzo e ex-candidato a prefeito de Buenos Aires, Matías Lammens, ocupará o ministério do Turismo e Esporte; e o doutor em Bioquímica Roberto Salvarezza, ficará com Ciência e Tecnologia.

O ministério da Cultura será entregue ao cineasta e documentarista Tristán Bauer.

Economia argentina

O Produto Interno Bruto (PIB) do país deve encolher 3% este ano e mais 1,5% ano que vem, segundo as previsões mais recentes.

Na semana passada, Fernández declarou em um conferência industrial que só vai pagar o que deve quando o país voltar a crescer. Na mesma conferência, afirmou que não vai deixar o país “de portas fechadas”, mas que não vai importar “camisas da China” ou “sapatos do Brasil” para que os produtores do país sigam quebrando.

Equilibrar as demandas da indústria local e dos trabalhadores a medidas que impulsionem a economia do país será o maior desafio do novo governo.

Acompanhe tudo sobre:Alberto FernándezArgentina

Mais de Economia

Queda estrutural de juros depende de ‘choques positivos’ na política fiscal, afirma Campos Neto

Redução da jornada de trabalho para 4x3 pode custar R$ 115 bilhões ao ano à indústria, diz estudo

Brasil será menos impactado por políticas do Trump, diz Campos Neto

OPINIÃO: Fim da linha