EUA-China: o FEM se preocupa com a desaceleração da economia chinesa, com um crescimento de 6,6% em 2018 e de 5,8% previsto para 2022 (Jason Lee/Reuters)
EFE
Publicado em 16 de janeiro de 2019 às 12h00.
Londres - A deterioração da economia pelo aumento das tensões entre grandes potências como China e Estados Unidos representa a ameaça "mais urgente" para o bem-estar mundial este ano, segundo o relatório de Riscos Globais 2019 difundido nesta quarta-feira pelo Fórum Econômico Mundial (FEM).
Em uma apresentação em Londres, o FEM, que realiza anualmente pesquisas entre mil especialistas, também advertiu que "a maior tendência ao nacionalismo" na política "está enfraquecendo a resposta coletiva para os desafios globais".
"Em um contexto no qual o comércio global e o crescimento econômico estão em risco, é muito importante renovar a arquitetura da cooperação internacional", disse o presidente do FEM, o ex-ministro das Relações Exteriores da Noruega Boerge Brende, que apresentará o relatório na próxima reunião anual da organização em Davos, na Suíça.
Brende ressaltou que é essencial promover uma "ação coordenada para sustentar o crescimento e combater as graves ameaças" que o mundo enfrenta, que incluem, segundo o relatório, a mudança climática, os ataques cibernéticos, a piora do nível de vida dos cidadãos e os perigos dos patógenos biológicos.
O FEM alerta que "o aprofundamento das fissuras" que se produziram no sistema de cooperação internacional, com uma falta de consenso em organizações multilaterais como a ONU, "sugere a possibilidade do surgimento de riscos sistêmicos".
"Se acontecesse outra crise (econômica) global, teríamos os níveis necessários de cooperação e apoio disponíveis?", se perguntam os autores do documento divulgado hoje.
"A tensão entre a globalização da economia mundial e o crescente nacionalismo da política em nível internacional é um risco cada vez maior", assinalam os autores.
No campo econômico, preocupa a desaceleração da economia chinesa, com um crescimento de 6,6% em 2018 e de 5,8% previsto para 2022, assim como a carga da dívida global, que está em torno de 225% do Produto Interno Bruto (PIB).
Segundo o relatório, continuarão dominando em 2019 os riscos relacionados ao meio ambiente, e preocupam não só os efeitos da mudança climática em vários âmbitos, mas também "o fracasso dos governos em aplicar medidas que os mitiguem".
Os especialistas reivindicam um enfrentamento à "rápida perda de biodiversidade", de 60% desde 1970, e advertem que o impacto do clima somado ao aumento da população nas cidades faz com que "cada vez mais pessoas estejam vulneráveis ao aumento do nível do mar" em populações litorâneas.
A diretora de riscos do Zurich Insurance Group, Alison Martin, assinalou que, "para responder eficazmente à mudança climática, é necessário um aumento significativo dos investimentos em infraestrutura para se adaptar ao novo ambiente".
Além disso, os países devem aumentar as medidas para fazer a transição para uma economia "com baixas emissões de carbono", acrescentou Martin.
O Fórum Econômico Mundial prevê que, em 2040, haverá um déficit de investimento em infraestrutura global de US$ 18 bilhões, enquanto as necessidades previstas serão de US$ 97 bilhões.
O presidente da Marsh Global Risk and Digital, John Drizk, disse que a falta de financiamento em infraestruturas críticas dificulta o progresso econômico, o que expõe os países não só ao efeito do clima, mas também "aos ciberataques".
Aumentar o investimento, "em parte através de novos incentivos para as associações público-privadas", é vital "para construir e fortalecer as bases físicas e as redes digitais que permitirão que as sociedades cresçam e prosperem", declarou Drizk.
Os especialistas também alertam que as mudanças em nosso modo de vida aumentam o risco ligado aos patógenos "biológicos", por exemplo, que "se produza um surto devastador de forma natural", e advertem que "o mundo não está preparado nem para a mais modesta destas ameaças".
O relatório constata que os riscos do entorno têm um efeito direto "nos seres humanos", para quem "este é um mundo cada vez mais ansioso, solitário e infeliz".
Com cerca 700 milhões de pessoas com problemas de saúde mental no mundo, a deterioração do bem-estar psicológico e emocional é, por si só, um risco, especialmente para a política e a coesão social, afirmam no documento os especialistas.