Economia

Fed coloca bancos centrais da América Latina à prova

O Banco Central do Brasil já indicou que pode retomar, em janeiro, um ciclo de aperto que começou em abril de 2013 - elevando a taxa Selic de 7,25% para 14,25%


	Federal Reserve: a presidente Dilma Rousseff está lutando contra movimentos que tentam realizar seu impeachment
 (Mandel Ngan/AFP)

Federal Reserve: a presidente Dilma Rousseff está lutando contra movimentos que tentam realizar seu impeachment (Mandel Ngan/AFP)

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Da Redação

Publicado em 16 de dezembro de 2015 às 18h57.

Nova York - A decisão do Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos) de começar a elevar as taxas de juros coloca os bancos centrais dos países latino-americanos em uma situação difícil, à medida que eles decidem se seguem o exemplo para evitar que os investidores abandonem ativos locais em detrimento de investimentos de maior rendimento em dólar.

O Banco Central do Brasil já indicou que pode retomar, em janeiro, um ciclo de aperto que começou em abril de 2013 - elevando a taxa Selic de 7,25% para 14,25%.

Espera-se que a economia encolha 4% neste ano, e a inflação está acima dos 10%, enquanto o real se desvalorizou 30% contra o dólar no último ano.

A presidente Dilma Rousseff está lutando contra movimentos que tentam realizar seu impeachment.

Com tanta incerteza no País, alguns analistas afirmam que a política monetária do Fed é quase "um segundo pensamento".

"Nós sabemos que uma elevação dos juros está a caminho, mas não sabemos qual será nosso governo daqui seis meses", disse Paulo Nepomuceno, analista da Coinvalores, em São Paulo.

A decisão mais difícil deve ser a do Banco do México, que, diferente dos seus pares latino-americanos, tem sido capaz de manter as taxas de juros inalteradas a 3% graças a sua inflação baixa, apesar de uma queda de 14% no valor do peso mexicano contra o dólar no último ano.

O comitê do Banco do México vai se reunir na quinta-feira para decidir se, assim como o Fed, aumenta a taxa de juros.

O banco central do México afirmou que aumentaria os juros se o peso mais fraco começasse a alimentar a inflação, colocando sua meta de 3% em risco.

Mas isso não tem acontecido, e a inflação desacelerou para a mínima recorde de 2,2% em novembro.

Enquanto isso, a autoridade monetária do país vendeu dólares em resposta à depreciação cambial.

Para os bancos centrais do Chile, Peru, Colômbia, que, assim como o Brasil, já aumentaram as taxas de juros em resposta à inflação acima da meta, a escolha é se devem apertar ainda mais a política monetária.

O banco central do Chile também se reúne na quinta-feira, e, enquanto a maioria dos economistas consultados pela autoridade esperam que a taxa de juros seja mantida a 3,25% - com a inflação voltando à meta de 2% a 4% -, alguns esperam uma nova elevação.

"É muito provável que um aumento adicional será feito depois da elevação do Fed", disse o diretor da Econconsult em Santiago, José Ramón Valente.

O banco central do Peru aumentou as taxas de juros novamente na semana passada depois que a inflação atingiu o maior patamar em três anos, e pode apertar ainda mais, mesmo que a decisão tenha sido uma antecipação à decisão do Fed.

"Vemos a necessidade de pelo menos mais um aumento", disse João Ribeiro, economista do maior banco peruano, o Banco de Crédito, que espera que o banco central do país aumente os juros novamente em janeiro.

O banco central da Colômbia também já aumentou as taxas de juros em um ponto porcentual desde setembro para 5,5%, e se espera que haja uma nova elevação na sexta-feira, especialmente sob a luz da decisão do Fed.

O peso colombiano desvalorizou cerca de 28% no último ano, causando uma aceleração da inflação.

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