Neste ano, a estimativa de colheita do feijão tem caído mês a mês, por conta da estiagem que compromete a lavoura na Região Nordeste, desde 2012 (Marcello Casal Jr./ABr)
Da Redação
Publicado em 27 de maio de 2013 às 19h59.
Rio de Janeiro - A escassez de produtos agrícolas, que podem funcionar como novas fontes de pressão sobre os preços e comprometer a meta de inflação, também tem merecido atenção especial do Banco Central (BC).
Neste ano, a estimativa de colheita do feijão, alimento tradicional na mesa das famílias brasileiras, tem caído mês a mês, por conta da estiagem que compromete a lavoura na Região Nordeste, desde 2012.
O último levantamento do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) revelou uma redução de 2,1% na projeção da colheita neste ano, em relação à estimativa do mês anterior. Na primeira safra, a estiagem provocou uma redução significativa em Pernambuco (-18,9%) e Ceará (-38,1%), destacou o instituto.
Como efeito, o feijão carioca, o mais consumido no País, ficou 34,44% mais caro de janeiro a abril deste ano, segundo o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), calculado pelo IBGE. Apenas no mês passado, última estatística divulgada, a alta foi de 9,44%. O feijão figura entre os produtos de maior peso no grupo de alimentos no domicílio, dentro do indicador oficial de inflação do governo.
O peso do feijão na estrutura do IPCA é de 0,31%, próximo do tomate, com 0,35%, que há poucos meses fez um estrago na meta de inflação da equipe econômica.
O feijão tem característica diferenciada em relação à maioria dos agrícolas, pois a lavoura pode ser refeita a cada três meses. Com uma melhora do clima, o estoque do produto pode ser refeito.
No entanto, a consultora Ignez Guatimosim Vidigal Lopes, do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre), da Fundação Getulio Vargas (FGV), ressalta que, ainda que o feijão pese sobre a inflação em um curto espaço de tempo, esse movimento seria suficiente para elevar o indicador a outro patamar e comprometer os planos do governo de controle dos preços.
Exatamente por isso, o BC tenta antecipar-se a focos de inflação e acompanha mais de perto os indicadores relativos à oferta de produtos, ressalta Rafael Coutinho Costa Lima, professor de Economia da Universidade de São Paulo (USP) e coordenador do Índice de Preços ao Consumidor (IPC), da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe), que calcula variações de preços no município de São Paulo.
"O BC está atento às estatísticas de preços agrícolas, da FGV, por exemplo, e aos índices compostos (de atacado e varejo)", salientou Lima. Segundo ele, a Fipe mantém contato formal com técnicos da autoridade financeira, para os quais envia rotineiramente informações detalhadas de cada indicador divulgado, com dados mais esmiuçados do que os liberados ao grande público.
Já o Ibre/FGV considera o calendário de realização das reuniões do Comitê de Política Monetária (Copom), na qual é definida a taxa básica de juros, na elaboração do seu próprio calendário de divulgação de indicadores ao longo do ano. A intenção é que as estatísticas auxiliem o mercado no entendimento da economia e tomada de decisões.