Ferrovia Norte-Sul: segundo o estudo o sistema de transportes, a logística e a telecomunicações são insatisfatórios para o investimento estrangeiro (Manoel Marques/Veja)
Da Redação
Publicado em 25 de julho de 2012 às 09h38.
São Paulo - Os problemas de infraestrutura, o alto custo e a baixa qualificação da mão-de-obra, além da ausência de incentivos tributários, afastam os interessados em investir em produção no Brasil. Segundo o economista e administrador José Roberto Cunha Junior, em 2011, os estrangeiros investiram US$ 66 bilhões no País, mas para este ano a tendência é de uma redução de 20% a 25%, porque o crescimento do mercado interno deverá ser baixo, entre 2% e 2,25%. “O governo federal contribuirá para tornar a economia brasileira mais atraente se apresentar à comunidade internacional um ‘projeto de desenvolvimento’, que contemple políticas e metas de médio e longo prazo”, recomenda.
Cunha Junior é autor de uma pesquisa de doutorado apresentada na Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade (FEA) da USP que mostra que o mercado interno em expansão, os recursos naturais e a estabilidade política atraem os investidores, entre outros fatores. Mas revela também que os problemas afastam os interessados.
Para contornar estes obstáculos, o estudo recomenda investimentos do governo a longo prazo, especialmente em transporte, logística e educação, que possam manter toda a economia em crescimento. “Investimentos diretos em setores como infraestrutura, industriais estratégicas como a de tecnologia da informação (semi-condutores, por exemplo) e centros de pesquisa e desenvolvimento, em geral necessitam de um horizonte mais confiável e prazo mais longo, devido ao maior período de maturação e retorno”, afirma.
Os fatores que mais influenciam os investimentos foram obtidos a partir de questionários respondidos por executivos de empresas estrangeiras. “Os maiores fatores de atração, pela ordem, foram o mercado doméstico com elevada taxa de crescimento econômico, o grande porte do mercado, que vem sendo ampliado com a elevação da renda da população, a estabilidade política, econômica e social, os recursos naturais estratégicos e o clima amistoso com o estrangeiro”, conta o economista. “Em alguns países do Oriente Médio e da África, os conflitos internos causam insegurança em investir, muitos executivos levam a família quando vão trabalhar no exterior”.
A distância geográfica em relação aos países desenvolvidos é apontada como o principal fator que desfavorece o investimento no Brasil, em relação a outras nações emergentes, como China, Rússia, Índia, Turquia e Indonésia. “Mas os próprios executivos afirmam que o desenvolvimento das telecomunicações e da informática, somado às facilidades crescentes de transporte marítimo e aéreo tem reduzido este problema”, diz Cunha Junior. “No entanto, eles apontam outras dificuldades cuja solução depende somente da atuação do Brasil”.
Infraestrutura
Na avaliação dos estrangeiros, o sistema de infraestrutura, incluindo transportes, logística e telecomunicações, é insatisfatório, assim como a baixa qualificação da mão de obra para a produção, especialmente no caso de profissionais de nível técnico. “Outros fatores que afastam os investidores são o custo da mão-de-obra, devido aos impostos e encargos, e o sistema tributário, principalmente por causa da ausência de incentivos”, completa o economista. A pesquisa foi orientada pelo professor Fauze Nagib Mattar, da FEA.
Cunha Junior aponta que iniciativas políticas dos governos federal, dos estados e dos municípios podem tornar o País mais atrativo às empresas estrangeiras, como investimentos em infraestrutura. “Problemas como a morosidade do Porto de Santos, em que navios ficam até sete dias ancorados, e a pouca presença das ferrovias num país de grande extensão territorial, foram aspectos negativos muito lembrados”, ressalta. “Também foi sugerido um aumento da qualificação profissional, com a implantação de cursos técnicos profissionalizantes de nível médio, além da maior formação de pessoal de nível superior, em especial nas áreas de engenharia, química, física e biologia”.
A pesquisa procurou conhecer os fatores que levam empresas estrangeiras que não tem investimentos no Brasil a visitar o País com essa intenção. “Entre 2009 e 2011, o Brasil passou da oitava para a quarta posição entre os países que mais receberam investimentos estrangeiros produtivos”, aponta Cunha Júnior. “O estudo procurou saber dos empresários os motivos dessa decisão, num período marcado pelos efeitos da crise financeira internacional de 2008”. O economista foi diretor da Agência Paulista de Promoção de Investimentos e Competitividade (Investe São Paulo), que procura facilitar os investimentos estrangeiros no Estado de São Paulo.
A partir da bibliografia sobre investimento direto no exterior, o que inclui documentos produzidos por organismos internacionais, como a Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (UNCTAD), o Banco Mundial e o Fundo Monetário Internacional, além de artigos em publicações especializadas nos Estados Unidos, Europa é Ásia, Cunha Junior chegou a 46 variáveis que influenciam os investimentos. “O número foi reduzido para 20, número de itens do questionário enviado a 246 executivos de empresas estrangeiras, sendo que 81 foram respondidos”. O economista é professor da Fundação Instituto de Administração (FIA), entidade ligada à FEA, e presidente do Sindicato dos Economistas de São Paulo, além de atuar como Secretário Nacional de Economia da União Geral dos Trabalhadores (UGT).