Economia

Fabricantes de eletroeletrônicos têm primeira queda de vendas em 4 anos

As fábricas venderam para o varejo 94,1 milhões de aparelhos, volume 7,2% menor do que o do ano anterior

Casas Bahia; Lar Center; máscara; Eletroeletônicos; Linha Branca, Fogão

Foto: Germano Lüders

08/07/2020 (Germano Lüders/Exame)

Casas Bahia; Lar Center; máscara; Eletroeletônicos; Linha Branca, Fogão Foto: Germano Lüders 08/07/2020 (Germano Lüders/Exame)

EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 22 de fevereiro de 2022 às 09h45.

Última atualização em 22 de fevereiro de 2022 às 09h46.

A indústria de eletroeletrônicos de consumo fechou 2021 com o primeiro resultado negativo em quatro anos. As fábricas venderam para o varejo 94,1 milhões de aparelhos, volume 7,2% menor do que o do ano anterior, segundo a Eletros, a associação que reúne os fabricantes do segmento.

A maior queda ocorreu nos televisores, de 15,8%, seguida pelos eletroportáteis (7%) e pelos eletrodomésticos da linha branca, como fogões, geladeiras e lavadoras, com retração de 4,9%. A única linha cujas vendas cresceram no ano passado foi a de aparelhos de ar condicionado, que avançou 7,2%, somando 4,45 milhões de unidades. Mesmo assim, houve uma freada no ritmo de alta. Em 2020, as vendas do produto tinham aumentado 30% sobre o ano anterior.

"Foi uma frustração. Nem no primeiro ano da pandemia tivemos números tão ruins", diz o presidente da Eletros, José Jorge do Nascimento Júnior. Em 2019 e 2020, o setor cresceu 5% a cada ano. E a expectativa era de avançar mais 5% em 2021 ou, numa perspectiva otimista, até 10%.

Esse prognóstico até parecia viável por conta do desempenho do primeiro semestre, que registrou avanço na casa de dois dígitos sobre o ano anterior. Mas o mercado virou no segundo semestre. Entre julho e setembro, as vendas caíram 16% em relação ao mesmo período de 2020. E um tombo de 28% veio no último trimestre, período que inclui Black Friday e Natal, as melhores datas de vendas para os eletroeletrônicos.

Sem Poder de Compra

A queda nas vendas tem a ver com a disparada da inflação, que corrói o poder aquisitivo dos consumidores, e a consequente alta dos juros. Como boa parte das vendas dos eletroeletrônicos é financiada, esse foi mais um obstáculo ao consumo a prazo. Fora isso, com o avanço da vacinação e a reabertura dos serviços, passou a haver uma disputa pelo bolso do consumidor por outros setores, como turismo, segundo o presidente da Eletros.

A forte pressão de custos de produção - com forte alta no preço do aço, aumento da tarifa de energia elétrica e a questão do câmbio - também deixou os eletroeletrônicos mais caros. Isso inibiu vendas.

Neste início de ano, o mercado continua fraco. "O varejo está bem estocado, e estamos numa situação bem complicada para vender nossos produtos", diz Nascimento Júnior. Segundo ele, houve indústrias da linha de áudio e vídeo que deram dez dias de férias coletivas em janeiro para enxugar a produção.

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Essa frustração das vendas aparece nos estoques acumulados. Conforme a Sondagem da Indústria de Transformação da Fundação Getúlio Vargas (FGV), o saldo de empresas do setor que declararam ter estoques excessivos em janeiro deste ano foi de 36,6%. É a maior marca desde dezembro de 2019 (37,7%) e também superior ao número de dezembro de 2021, de 31,4%.

Quando um setor está com um número maior de empresas com estoques elevados, o passo seguinte é a redução ou a estabilização da produção, explica Cláudia Perdigão, pesquisadora da FGV e responsável pelo estudo. De dezembro para janeiro, o nível de utilização da capacidade instalada das fábricas de eletroeletrônicos e itens de informática, por exemplo, caiu mais de quatro pontos porcentuais: de 74,4% para 70%, aponta a pesquisa. "Isso significa que o setor deu uma desacelerada na produção", afirma a economista.

Demissões na Zona Franca preocupam

O recuo do mercado de eletroeletrônicos tem reflexos no Polo Industrial de Manaus, que concentra indústrias desse segmento. Um levantamento do Sindicato dos Metalúrgicos do Amazonas mostra que empresas do polo dispensaram 7,5 mil trabalhadores entre dezembro de 2021 e a primeira quinzena de janeiro, número considerado pela entidade acima do normal. Dos demitidos no período, que representam quase 10% do total de empregados no polo, 6 mil eram efetivos e 1,5 mil, temporários.

Cerca de 70% dos cortes ocorreram, segundo o presidente do sindicato, Valdemir Santana, em indústrias do setor eletroeletrônico. "Geralmente, quando termina um contrato temporário, 40% dos trabalhadores são efetivados, mas neste ano não ficou nenhum temporário."

Só a Philco demitiu 800 trabalhadores no período, segundo o sindicato. A empresa confirmou os cortes e informou, por meio de nota, que todos os anos contrata trabalhadores para atender à sazonalidade do varejo e, nos últimos anos, conseguiu absorver as equipes após o período sazonal. "Em 2021, entretanto, a contratação para a produção específica de aparelhos de ar condicionado foi maior, e isso se refletiu na necessidade de desligamentos após a finalização da produção adicional", diz a nota.

A Multilaser, em nota, informa que dispensou 81 trabalhadores por desempenho nas fábricas de Extrema (MG), Manaus (AM) e na matriz em São Paulo. Segundo a empresa, "é um turnover considerado mínimo para uma empresa com mais de 4 mil funcionários". A companhia tem 171 vagas abertas em Extrema, Manaus e São Paulo para repor as saídas e reforçar os quadros, acrescenta em nota.

José Jorge do Nascimento Júnior, presidente da Eletros, que reúne as fabricantes do segmento, diz não ter conhecimento de demissões acima do normal no setor. Ele argumenta que as empresas estão segurando ao máximo a mão de obra na expectativa de que o mercado e o ambiente de negócios melhorem no segundo trimestre. A expectativa é de que o Dia das Mães e a Copa do Mundo impulsionem as vendas.

No entanto, se a conjuntura não melhorar, ele admite que "inevitavelmente" haverá demissões, retrações nos investimentos e reavaliação nas programações de produção. "É um cenário horrível, mas não é o que a gente vislumbra."

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