Porto de Santos, um dos principais para o escoamento de produtos agrícolas (Germano Lüders/Exame)
Fabiane Stefano
Publicado em 3 de fevereiro de 2021 às 12h36.
Apesar do déficit de US$ 1,125 bilhão, os números da balança comercial brasileira em janeiro não preocupam o mercado. Somados à chegada das vacinas contra o coronavírus e ao aumento dos preços da soja, minério e petróleo, a expectativa é que o índice chegue ao final de 2021 com um superávit ainda maior que o recorde de 2017, quando a balança ficou positiva em US$ 67 bilhões.
Em janeiro, não só as exportações registraram uma alta de 12,4%, mas também as importações, que cresceram 22% no setor agropecuário, 7,6% na indústria extrativa e 6,5% na indústria de transformação. O movimento reflete a expectativa de reversão da deterioração econômica de 2020.
"As empresas estão investindo de olho na retomada da economia global", explica o advogado João Alfredo Lopes Nyegray, especialista em negócios Internacionais e coordenador do curso de Comércio Exterior na Universidade Positivo. "Para aproveitar esse momento, a indústria está se preparando para oferecer produtos melhores, ao mesmo tempo que reduz custos de produção. Trazer maquinário e insumos de fora é um grande trunfo nessa equação comercial."
China, Hong Kong e Macau foram os principais clientes brasileiros no período, com alta de 19,4% nas exportações brasileiras para o país. Outro destaque de janeiro é a vizinha Argentina, que não só comprou 41,1% mais produtos brasileiros em relação ao mesmo período do ano passado, mas também vendeu 30,1% a mais para os brasileiros.
"Quando importações e exportações sobem ao mesmo tempo, significa que a atividade econômica vai num clima muito positivo. Principalmente na Argentina, que é o principal destino dos nossos produtos manufaturados", explica José Augusto, presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil, que aposta na manutenção desse cenário. "Com a Argentina se recuperando da pandemia rapidamente e começando a resolver algumas questões estruturais, nós poderemos vender ainda mais para eles."
O otimismo com a retomada, entretanto, pode ser frustrado caso a agenda de reformas e as melhorias de infraestrutura não deslanchem como esperado. Sem esses elementos, explica Nyegray, o Brasil pode até continuar registrando superávits na balança comercial, mas com uma participação no comércio global muito aquém do seu potencial.
O advogado lembra que, na década de 50, o Brasil era responsável por 2% de todos os produtos transacionados no mundo, enquanto hoje "sofre" para manter o patamar de 1%, sendo apenas o 26% maior exportador do mundo - atrás de países muito menores em território e população, como Cingapura e Hong Kong.
"Esse é um tema que tem que ser urgentemente tratado, para que a gente deixe de pensar apenas em superávit e tenha um crescimento econômico que nos permita também trazer mais produtos de fora, aumentar a concorrência e a inovação no mercado interno", explica Nyegray.