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Da Redação
Publicado em 9 de outubro de 2008 às 10h23.
Exportar, exportar, exportar. Que essa é a solução para muitos problemas brasileiros, ninguém duvida. Mas ainda falta muito para o Brasil atingir eficiência no setor. Apesar dos recentes incentivos do governo, as medidas têm sido consideradas insuficientes para os analistas estrangeiros. Na avaliação do Economist Intelligence Unit, braço de análises da revista britânica The Economist, o governo brasileiro tem de fazer mais do que liberar os 4 bilhões de dólares em linhas de crédito para os bancos e colocar o ministro da Fazenda, Pedro Malan, para conversar com banqueiros internacionais para tornar as exportações relevantes no PIB brasileiro e aproveitar o potencial exportador do país.
O incremento das exportações também é defendido pelo economista americano Albert Fishlow. Para o brasilianista, o Brasil precisa exportar mais bens e serviços e aumentar a poupança interna para evitar a dependência do capital estrangeiro. Isso, afirma Fishlow, viabilizaria um crescimento sustentável. Durante visita ao Brasil nesta semana, Fishlow elogiou a capacidade de crescimento do país mesmo em circunstâncias adversas, mas disse que ainda é preciso fazer um grande esforço comercial.
"O Brasil deveria investir na exportação de manufaturados para alcançar o padrão que outros países conseguiram", disse ele no seminário "Novos Rumos do Desenvolvimento no Mundo", promovido pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). O economista é diretor do centro de estudos brasileiros da Columbia University, nos Estados Unidos.
Outro ponto que Fishlow considera um "calcanhar-de-aquiles" é a falta de poupança interna no Brasil que, diz ele, hoje é a mesma do que em 1959. "Enquanto isso a poupança interna da Coréia do Sul pulou de 3% para 30% do PIB no mesmo período", exemplificou. Para o economista, só vencendo essas barreiras o Brasil poderá no futuro "enfrentar problemas como a pobreza, a desigualdade social, a falta de saúde e a carência de habitação".
A EIU também acredita que "a economia brasileira estava tranqüila quando foi atingida em julho por uma tempestade financeira". A balança comercial brasileira registrou um superávit de 1,575 bilhão de dólares em agosto, o maior do ano, diante de um saldo positivo de 1,197 bilhão de dólares em julho. Com o novo resultado positivo, o saldo acumulado no ano subiu para 5,378 bilhões de dólares. Mas os crescentes recordes da balança se devem à depreciação do real diante do dólar (25% desde o início do ano) que à competência exportadora nacional.
Para este ano, o governo estima um superávit de pelo menos 7 bilhões de dólares na balança comercial, metade em transações com os Estados Unidos. De acordo com pesquisas do Banco Central, em julho, a expectativa do mercado para o saldo da balança era de 4,6 bilhões de dólares. Uma pesquisa realizada na semana passada revelou que essa expectativa subiu para 6 bilhões de dólares. Isso também deve ajudar o país a precisar menos de crédito externo, avalia o EIU.
Apesar do crescimento constante das exportações, elas ainda representam uma pequena parte de do PIB _ cerca de 11% do total _ quando comparadas, por exemplo, ao peso das exportações na economia mexicana (25%). O México, por sinal, depois da quebra da Argentina, é um dos maiores clientes do Brasil na área automobilística. Para Fishlow, uma boa taxa de participação das exportações brasileiras no PIB ficaria entre 15% e 20%. "Não tiro o mérito do Brasil, que na década de 1990 tinha uma participação de apenas 3%, e, mesmo com tantas crises internas e externas conseguiu crescer, mas é preciso exportar mais, mesmo que tenha que importar mais para isso."
Apesar de a depreciação do câmbio beneficiar a indústria automobilística _ GM e VW esperam um aumento de 16% e 10%, respectivamente, nas exportações do país _, é ainda o agronegócio maior responsável pelo crescimento das exportações brasileiras. O saldo comercial do setor (exportações menos importações) cresceu 7,5 bilhões de dólares durante o primeiro semestre e deve subir mais no segundo semestre _ com o aumento no preço de alguns produtos, como a soja.
Ressalvas
Para o BBV Banco o resultado do superávit de agosto "pode ainda estar contaminado". Na verdade, diz o BBV, os dados apontaram para uma redução de 6,5% nas exportações e para uma queda de 18,8% nas importações acumuladas no ano, "o que também sugere que boa parte do saldo comercial tem sido resultado de uma combinação de câmbio mais depreciado com substituição de importações e arrefecimento do nível de atividade doméstica, afetando as importações".
Para o banco, é "importante salientar que, descontado o efeito da redução das vendas para a Argentina, cuja queda chega a 62% nos oito primeiros meses do ano, observamos uma redução muito pequena nas exportações brasileiras para o resto do mundo, de apenas 0,7%". Isso mostra que, "num cenário com o comércio mundial enfraquecido, as exportações brasileiras têm sido pouco afetadas, muito provavelmente pelo ganho de competitividade conseguido com a depreciação do câmbio real", afirma o banco.
No mês passado, do lado das importações, destaca-se o ainda reduzido nível de compras de matérias-primas e bens intermediários, que foram 16% inferiores ao mesmo mês do ano passado. "Essa continuada redução das importações de matérias primas nos parece incompatível com a pequena desaceleração observada na indústria doméstica (-0,1% de redução no primeiro semestre)", afirma o BBV. Deve estar ocorrendo uma combinação de um processo de substituição de importações com um adiamento das compras em função da depreciação cambial e dos estoques da indústria, cujos níveis são considerados elevados para o período.
Solução ou problema?
Como saída para incrementar as exportações, a EIU sugere a aprovação da Alca (mercado comum entre as Américas) como possível solução para o problema exportador brasileiro. A EIU afirma que as restrições dos Estados Unidos às exportações do país representam 2,2 bilhões de dólares por ano _ principalmente no suco de laranja, aço e açúcar. A posição do país em relação ao livre comércio também é vista com ressalvas devido ao cenário de incertezas na sucessão eleitoral. "De qualquer forma, o próximo presidente será pressionado para aumentar as exportações e reduzir a dependência do país em relação ao capital externo", afirma a EIU em seu relatório. "Isso será fundamental para que o Brasil consiga afastar dos investidores o medo de calote."