Cana de açúcar: usinas brasileiras estão fazendo o que podem para manter o açúcar bruto fora do mercado global conforme a colheita de cana de açúcar do Brasil começa (lzf/Thinkstock)
Reuters
Publicado em 16 de março de 2018 às 18h51.
Ribeirão Preto - As usinas brasileiras estão fazendo o que podem para manter o açúcar bruto fora do mercado global conforme a colheita de cana de açúcar do Brasil começa, para evitar piorar o excesso que levou os preços à uma mínima de dois anos.
Com o contrato do açúcar bruto sendo negociado abaixo dos 13 centavos de dólar por libra-peso em Nova York e os custos de produção no centro-sul do Brasil variando entre 13,5 centavos de dólar a 15 centavos de dólar, diretores de companhias açucareiras estão ponderando ações para evitar margens negativas de lucro.
"Nós temos que cortar a oferta de açúcar para ajudar a reduzir o excesso de oferta global", disse Hugo Cagno, sócio junto com o grupo de açúcar francês Tereos na usina Vertente, na cidade de Guaraci, na principal região de produção de cana do Brasil.
Nesta semana, analistas da Datargo disseram que os produtores brasileiros deve cortar o volume de açúcar na safra 2018/19 do centro-sul para 31,6 milhões de toneladas, ante 36 milhões de toneladas um ano atrás.
O passo óbvio, para aqueles que podem, é transformar o máximo possível de cana em etanol, já que os preços e demanda doméstica para o biocombustível são fortes, pagando o equivalente do preço do açúcar bruto a 17 centavos de dólar por libra-peso, disseram donos de usinas.
Outros com acesso a capital estão procurando estocar açúcar até que os preços subam, possivelmente no período da entressafra no próximo ano.
Outra estratégia é aumentar a produção de açúcar branco para vender domesticamente para empresas de bebida e comida como PepsiCO Inc, Nestlé SA e AmBev SA.
Em alguns casos, produtores tem estado tão desesperados para evitar vendas deficitárias de açúcar que negociaram os chamados "washouts", negociações onde o produtor busca cancelar um contrato de exportação fechado anteriormente, arcando com um custo, mas se livrando de ter de produzir o produto.
Luiz Gustavo Junqueira Figueiredo, diretor comercial na usina Alta Mogiana, disse que os wahsouts não são comuns, mas um último recurso para aquelas usinas que não realizaram uma proteção de preço adequada (hedge). A Alta Mogiana não fez esse tipo de negociação.
"Estocar e carregar é uma estratégia muito mais interessante, se você tem o capital para construir ou alugar capacidade de armazenamento", ele contou à Reuters nos bastidores de uma conferência da indústria esta semana em Ribeirão Preto, onde usineiros discutiram prospectos para a nova safra de cana que começa oficialmente em abril.
Bernardo Biagi, dono de duas das usinas que moem aproximadamente 7 milhões de toneladas de cana anualmente na área de Ribeirão Preto, disse que começou o processamento em uma das usinas, mas apenas produzindo etanol até o momento.
"Nós tínhamos cana que sobrou na plantação do ano passado, então estamos processando ela agora, mas apenas para combustível. Nós ainda não começamos com o açúcar", ele disse.
Ele projeta que produzirá 435.000 toneladas de açúcar na nova safra, ante 495.000 toneladas na temporada passada, com a produção de etanol aumentando provavelmente para 314 milhões de litros, de 269 milhões litros um ano antes, ele disse.