Carne Fraca: a UE ainda indicou que vai enviar ao Brasil uma missão para realizar uma auditoria na produção nacional de carne (Paulo Whitaker/Reuters)
Estadão Conteúdo
Publicado em 24 de março de 2017 às 15h38.
Genebra - A União Europeia ameaça impor novas barreiras contra a carne nacional se as autoridades brasileiras não adotarem "medidas decisivas" e anuncia que devolverá ao Brasil carregamentos das empresas envolvidas na fraude e que estejam em pleno oceano.
Num comunicado emitido nesta sexta-feira, 24, Bruxelas anunciou que vai examinar as amostras colhidas nos diferentes pontos de entrada da Europa para tomar uma decisão sobre uma ampliação do embargo contra os produtos nacionais.
A UE ainda indicou que vai enviar ao Brasil uma missão para realizar uma auditoria na produção nacional de carne.
A resposta dada pelas autoridades brasileiras não tem sido considerada como satisfatórias e, nos bastidores, diplomatas em Bruxelas não escondem a irritação diante da insistência do governo em minimizar o caso.
No início da semana, a Comissão Europeia havia anunciado que havia solicitado ao Brasil para que retirasse da lista de exportadores as empresas envolvidas na Operação Carne Fraca.
Das 21 suspeitas, quatro vendiam no mercado europeu. De acordo com o comunicado, porém, esse embargo não se limitaria a essas companhias, mas a "qualquer estabelecimento no Brasil que pudesse representar um risco" para os padrões europeus.
Agora, a decisão foi ampliada por parte do segundo maior comprador de carnes nacionais. "Todos os carregamentos de estabelecimentos implicados na fraude em rota para a Europa serão rejeitados e retornados ao Brasil", disse o porta-voz da Comissão Europeia, Enrico Brivio.
Conforme o jornal O Estado de S. Paulo antecipou em sua edição de quarta-feira, a Europa não descarta novas ações e barreiras. Uma delas será o envio de uma missão para realizar uma auditoria na produção brasileira. "Isso será feito assim que possível", indicou Brivio, que acredita que os resultados estariam concluídos até meados de maio.
Também nesta sexta-feira, os chefes de escritórios de Veterinária da Europa se reuniram e optaram por aumentar os controles em todas as fronteiras. Não se descarta ainda um embargo ainda maior.
Uma reunião entre a Comissão Europeia e estados-membros foi convocada para o dia 29 de março para examinar como esses novos controles foram implementados e "harmonizar" os padrões de verificação.
"Isso incluirá Estados, regiões e produtos, além de critérios microbiológicos e outros parâmetros relevantes que devem ser alvos", disse.
"À luz do resultado desses controles reforçados e da evolução da crise, e da resposta das autoridades brasileiras aos pedidos de medidas corretoras, a Comissão e os estados-membros vão concluir se futuras medidas são necessárias", afirmou Brivio.
Os veterinários, porém, alertaram que "contam com uma ação forte e decisiva por parte das autoridades brasileiras para atender suas obrigações". O recado foi interpretado como uma ameaça de que, se o comportamento do governo for mantido, novas barreiras serão estabelecidas.
"A importância dos controles sobre importações nos pontos de entrada da Europa é agora fundamental", disse Brivio.
Segundo ele, assim que foi revelada "as deficiências do licenciamento no Brasil, os estados-membros introduziram controles físicos reforçados para garantir a segurança das importações do Brasil, focando em exigências higiênicas", disse.