China X EUA: país asiático concentrou medidas de represália na carne suína americana (Jewel Samad/AFP)
AFP
Publicado em 2 de abril de 2018 às 18h54.
Estados Unidos e China travaram uma queda de braço comercial que, por ora, ainda não levou a um conflito aberto, já que as medidas adotadas pelas potências são até agora limitadas.
Nesta segunda-feira (2), a China anunciou medidas de represália contra 128 produtos americanos, em resposta à decisão do governo de Donald Trump, no começo deste mês, de impor tarifas de 25% às importações de aço e de 10% às de alumínio.
Washington excluiu temporariamente um grupo países de países das taxas. A medida beneficiou México, Brasil, Argentina, os membros da União Europeia, Canadá e Austrália, mas não a China.
Contudo, a China tem um peso quase marginal nas importações americanas de aço. O gigante asiático representa menos de 3% do mercado.
Em sua resposta, a China se concentrou em medidas de represália contra a carne suína proveniente dos Estados Unidos. Por enquanto, deixou a salvo produtos estratégicos, como a soja, no setor agropecuário, ou os aviões da Boeing, no setor industrial.
Para Edward Alden, especialista em Comércio Internacional para o Conselho de Relações Exteriores, as medidas anunciadas "enviam uma mensagem clara de que a China responderá rapidamente a qualquer ação comercial americana".
Impor tarifas às frutas, à carne suína ou ao vinho americanos "é simbólico. (Os chineses) Não tomaram medidas contra o sorgo ou a soja", apontou Monica de Bolle, especialista do Instituto Peterson sobre Economia Internacional.
Assim, a reação deve ser vista rigorosamente como resposta às tarifas ao aço e ao alumínio, e não às ameaças de represálias por até 60 bilhões de dólares às importações provenientes da China que Trump anunciou em 23 de março e que deveria ser anunciada nesta semana.
De acordo com a Casa Branca, as represálias bilionárias seriam referentes ao roubo de propriedade intelectual americana por parte de Pequim.
Já Alden afirmou que a resposta da China é "significativa" porque é o primeiro país a responder a Washington.
"Isto mostra que os chineses vão contra-atacar" se houver novas medidas americanas, indicou.
Por enquanto, a União Europeia deixou em suspenso suas ameaças de represálias aos Estados Unidosl enquanto a Coreia do Sul preferiu negociar um acordo comercial diretamente com Washington.
Para Alden, os "Estados Unidos constituem o maior mercado do mundo, e Trump considera que os outros países devem fazer concessões para preservar o acesso a esse mercado".
De Bolle apontou que a "China não é a Coreia do Sul", e o gigante tem alternativas para importar carne suína (como Brasil e Argentina) se abastecer de produtos agrícolas.
Em suma, disse De Bolle, a "China pode causar muito mais danos aos Estados Unidos que o contrário".
Trump insiste em acusar o governo chinês de impor práticas comerciais desleais e afirma que empresas americanas são forçadas a repasssar patentes e propiedade intelectual aos chineses para poder operar neste mercado.
Para De Bolle, "estamos perto de uma guerra comercial, mas isso não quer dizer que haverá uma guerra comercial". Segundo a especialista, os dois países vão manter suas negociações comerciais, apesar da retórica agressiva utilizada.
Além disso, no plano interno já se torna evidente a pressão sobre o governo diante de uma alta já sensível dos preços de aço e alumínio, apesar do otimismo declarado pelo secretário americano de Comércio, Wilbur Ross.