Economia

Estudo mostra barreiras de desenvolvimento na América Latina

Evolução dos países em desenvolvimento, especialmente da América Latina, foi freada por organismos internacionais, segundo professor de Harvard


	Mãe e filha pedem esmola na América Latina: para especialista, os países em desenvolvimento e os organismos internacionais precisam revisar suas políticas
 (©AFP / Noah Seelam)

Mãe e filha pedem esmola na América Latina: para especialista, os países em desenvolvimento e os organismos internacionais precisam revisar suas políticas (©AFP / Noah Seelam)

DR

Da Redação

Publicado em 26 de março de 2014 às 14h02.

Costa do Sauípe - A evolução dos países em desenvolvimento, especialmente da América Latina, foi freada por organismos internacionais que se negaram a aplicar as teorias do economista Joseph Schumpeter, segundo o professor de Harvard, Calestous Juma.

Professor de Desenvolvimento Internacional da Escola Kennedy, em Harvard, Juma considerou em um estudo divulgado nesta quarta-feira que os países em desenvolvimento e os organismos internacionais precisam revisar suas políticas e dar mais ênfase na inovação tecnológica, transformação industrial e no papel dos empreendedores.

Em entrevista à Agência Efe, Juma explicou que as teorias de Schumpeter, economista de origem austríaca e professor de Harvard que em 1911 publicou o influente livro "The Theory of Economic Development", foram a base do desenvolvimento econômico da América do Norte e da Europa, mas nunca aplicadas no resto do mundo.

"Foi um mistério por que os países em desenvolvimento nunca utilizaram esse livro como base para suas políticas. Simplesmente foi ignorado ou era desconhecido", disse Juma.

"O que pude estabelecer é que suas ideias foram expressamente rechaçadas como irrelevantes para os países em desenvolvimento pelos mentores das políticas econômicas de desenvolvimento", acrescentou.

A doutrina de Schumpeter é baseada em três pilares: o papel das inovações tecnológicas para avançar o desenvolvimento econômico, o papel fundamental dos empreendedores e o desenvolvimento industrial.

As ideias dos mentores econômicos eram de que os países em desenvolvimento só necessitavam tecnologias "antigas", que não requeriam empreendedores, mas um grande setor público. Além disso, acreditavam que era suficiente que estes países fossem exportadores de matérias-primas e consumidores de produtos elaborados.

O professor de Harvard explicou que embora intelectuais sul-americanos, com o economista argentino Raúl Prebish à frente, tenham se rebelado ao observar o desequilíbrio no comércio entre os países da periferia e a metrópole, a proximidade da região aos Estados Unidos foi determinante.


"Os países latino-americanos foram os primeiros que começaram a questionar esta relação, ao observar o crescente desequilíbrio em comércio com o Norte enquanto os países latino-americanos não cresciam".

Juma aplaudiu o novo enfoque do BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento), que começará amanhã na Costa do Sauípe, na Bahia, sua 55ª assembleia anual, focada no papel do setor privado no desenvolvimento e em projetos de inovação.

Mas acrescentou que os governos latino-americanos precisam apoiar políticas de fomento da inovação. "Para a América Latina é realmente necessário fortes estratégias de inovação. Mas a responsabilidade de um enfoque que permitam saltos tecnológicos é dos Estados-membros. É preciso trabalhar duro para recuperar o terreno perdido", disse.

Juma acrescentou que a América Latina precisa aprender da experiência de países como Coreia do Sul, que se industrializaram com grande rapidez em poucas décadas. A assembleia anual do BID, em 2015, será justamente realizada em Busan, na Coreia do Sul.

O professor, que realizou a investigação para seu doutorado no Brasil, sobre o programa de desenvolvimento do álcool como combustível, acrescentou que a principal exceção é este país e em menos escala o Chile.

"O Brasil enfrentou uma grande batalha com o Banco Mundial, que pensou que o programa de álcool como combustível era um investimento ruim para o país. Mas Brasil o estava fazendo isso mais por razões tecnológicas do que só para ser capaz de produzir um combustível. Queriam reafirmar seu papel como líder tecnológico na região", argumentou.

Na Ásia, a situação foi diferente porque os países do sudeste asiático tiveram um modelo diferente do americano: o Japão.

"Os mesmos problemas não se produziram na Ásia porque seu modelo era o Japão, que tinha abraçado ideias similares as de Schumpeter: se concentrar na transformação industrial, investimentos em infraestrutura após a Segunda Guerra Mundial e grandes investimentos no capital humano", explicou.

"Isso demonstra porque até certo ponto porque se industrializaram tão rapidamente enquanto os países latino-americanos, que não tiveram esse modelo, não fizeram isso", considerou.

Juma recomendou aos países latino-americanos assumirem a "liderança intelectual para definir eles mesmos suas estratégias de inovação, ao invés de que as estratégias sejam definidas de novo por organizações internacionais ou bancos que formularão seu apoio para favorecer programas de empréstimos". 

Acompanhe tudo sobre:América LatinaDesenvolvimento econômicoEnsino superiorFaculdades e universidadesHarvardPaíses emergentes

Mais de Economia

Presidente do Banco Central: fim da jornada 6x1 prejudica trabalhador e aumenta informalidade

Ministro do Trabalho defende fim da jornada 6x1 e diz que governo 'tem simpatia' pela proposta

Queda estrutural de juros depende de ‘choques positivos’ na política fiscal, afirma Campos Neto

Redução da jornada de trabalho para 4x3 pode custar R$ 115 bilhões ao ano à indústria, diz estudo