Pessoas usam máscaras protetoras em um mercado de Lima, no Peru, na sexta-feira, 17 de abril de 2020. (Angela Ponce/Bloomberg)
Bloomberg
Publicado em 19 de julho de 2020 às 08h01.
O Peru emerge da pandemia de coronavírus com uma das mais profundas recessões globais e o maior número de mortes per capita, apesar de ter recebido elogios da comunidade internacional pela maneira como enfrentou a crise de saúde.
O resultado é surpreendente, já que o país luta contra a pandemia com um plano antivírus seguindo o manual, incluindo uma rígida quarentena que paralisou a maioria dos setores por dois meses e um ambicioso plano de estímulo para enfrentar a retração econômica resultante.
No entanto, o vírus se propagou como um incêndio florestal, expondo alguns dos problemas profundamente arraigados do país que só foram ocultados por décadas de sucesso macroeconômico: uma enorme força de trabalho informal com acesso limitado ao sistema bancário, burocracia fraturada e ineficiente e um dos sistemas de saúde pública mais subfinanciados na região.
O resultado é um alerta para outros mercados emergentes: o país de quase 33 milhões de pessoas agora tenta contornar a crise econômica que impactou até os formuladores de políticas mais experientes.
“Continuamos em confinamento como se fôssemos um país de alta renda que poderia suportar uma quarentena prolongada”, disse Hugo Perea, economista-chefe do BBVA Peru, em entrevista. “O impacto econômico foi muito grave.”
O banco central prevê que a economia vai registrar queda de 31,9% no segundo trimestre em relação ao ano anterior, após a retração de quase 41% no auge da quarentena em abril.
“Nem em meus piores pesadelos eu poderia imaginar que a economia poderia cair 40% em um mês”, disse Julio Velarde, cujo mandato de 14 anos no comando da autoridade monetária do Peru o torna um dos presidentes de bancos centrais com mais tempo no cargo do mundo. Milhares de empresas fecharam as portas e o desemprego em massa pode elevar a taxa de pobreza ao nível mais alto em quase uma década, disse.
O Banco Mundial projeta retração de 12% para o Peru neste ano, a queda mais forte após Belize e Maldivas. Alguns analistas esperam queda de até 17%.
As mortes confirmadas pelo vírus no Peru ultrapassam 12 mil, embora números não oficiais sejam quase três vezes maiores. Com isso, o país tem uma das taxas de mortalidade per capita mais altas do mundo.
Embora o país andino tenha apresentado um pacote de estímulo em abril equivalente a 12% do PIB, sua implementação enfrentou dificuldades logísticas.
Seis em cada dez pessoas não têm conta bancária, o que atrasou a distribuição dos pagamentos, e o auxílio a empresas, como empréstimos baratos e isenção de impostos, beneficiou a minoria de companhias que operam na economia formal.