À medida que países em desenvolvimento implementam ações de estímulo para resistir à pandemia, o spread entre títulos nominais e títulos indexados à inflação aumenta (Marcello Casal jr/Agência Brasil)
Bloomberg
Publicado em 15 de setembro de 2020 às 19h01.
Última atualização em 15 de setembro de 2020 às 20h08.
Enquanto os mercados precificam a aceleração da inflação no mundo em desenvolvimento, um estrategista veterano diz que isso deve se tornar um conceito do passado para alguns países.
Charles Robertson, economista-chefe global da Renaissance Capital, projeta avanço da inflação até o segundo trimestre de 2021 na África do Sul, Brasil e Rússia, com desaceleração nos anos seguintes.
Mesmo no México, onde a última leitura dos índices de preços ao consumidor ficou acima do limite superior do intervalo da meta do banco central, o aumento não será mais do que “algo passageiro” estimulado por instabilidades nos preços dos alimentos, disse o economista que trabalha em Londres.
É por isso que Robertson recomenda que clientes comprem títulos em algumas das moedas com pior desempenho do mundo: o rand da África do Sul, o real e o rublo da Rússia, todas com baixa de mais de 10% em relação ao dólar neste ano.
“Eles estão precificando a inflação que chegará ao país nos próximos cinco a dez anos”, disse. “Isso significa que, se você conseguir obter rendimentos de títulos em moeda local de dez anos a 1% — digamos que a inflação será de 1% ou 2% nos próximos dez anos —, terá retornos enormes.”
À medida que países em desenvolvimento implementam ações de estímulo para resistir à pandemia, o spread entre títulos nominais e títulos indexados à inflação aumenta, sinalizando preocupação de investidores com choques inflacionários. O chamado breakeven de dez anos da África do Sul subiu 42 pontos-base nos últimos três meses, enquanto o do Brasil avançou 68 pontos-base.
Robertson apostou com precisão nos títulos romenos, no final da década de 1990, e no rand da África do Sul, em 2016. Ele comparou a situação no Brasil, Rússia, África do Sul e México com o que alguns países asiáticos e da Europa Central fizeram após a crise financeira global. Embora a República Tcheca, a Coreia e Taiwan mantenham os juros baixos, por exemplo, isso não gerou um “boom inflacionário”.
“Quando falava sobre isso há 20 anos, havia vários países onde a inflação estava acima de 10%”, disse. “A história da inflação desacelerou enormemente nos últimos 25 anos. Cada vez que temos uma nova crise, ela desaparece em algum lugar.”
(Com a colaboração de Davison Santana).