Economia

"Estamos namorando", diz Bolsonaro sobre parceria com Paulo Guedes

"Na questão política, ele me ouve. Assim como eu o ouço na economia. Essa conjunção está dando certo", diz o candidato sobre seu conselheiro Paulo Guedes

Economia: o presidenciável propõe a redução de gastos e impostos, mas avisa que não aceita que Forças Armadas sofra contingenciamento (Adriano Machado/Reuters)

Economia: o presidenciável propõe a redução de gastos e impostos, mas avisa que não aceita que Forças Armadas sofra contingenciamento (Adriano Machado/Reuters)

EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 18 de junho de 2018 às 14h10.

Última atualização em 31 de agosto de 2018 às 10h37.

É uma difícil troca de gênero econômico. O deputado e pré-candidato ao Palácio do Planalto Jair Bolsonaro (PSL-RJ) tenta afastar-se da imagem de um polêmico sindicalista militar que defende políticas estatizantes e aderir a ideias ultraliberais do economista Paulo Guedes, destaca o jornal O Estado de S. Paulo.Nas últimas semanas, o presidenciável tem recorrido a um kit de bordões privatizantes e de enxugamento do Estado, sem concordar, no entanto, com a venda da Petrobrás, dos bancos federais e uma reforma imediata da Previdência. Propõe a redução de gastos e impostos, mas avisa que não aceita que o "bebê", como chama as Forças Armadas, sofra contingenciamento.

O ex-capitão do Exército chegou ao topo das pesquisas com um discurso radical em temas como segurança pública e sexualidade. Na economia, ele adianta que busca ajuda de especialistas com "humildade", numa estratégia de escapar de críticas. Não disfarça, porém, que é contra o extremismo econômico de seu conselheiro.

"Ele (Guedes) tem, às vezes, um excelente plano e bota na mesa. Mas eu digo: 'Doutor Paulo, nota dez. Mas isso passa na Câmara e no Senado? Se não cortar aqui, pode ser um excelente plano, mas não vai para a frente", diz o parlamentar. "Na questão política, ele me ouve. Assim como eu ouço ele na economia. Essa conjunção está dando certo. Estamos namorando."

Antes de Bolsonaro, Guedes elaborou o plano de governo de Guilherme Afif Domingos, candidato à Presidência em 1989 pelo Partido Liberal. No posto de principal assessor econômico do pré-candidato, ele atraiu holofotes na defesa de propostas que batem de frente com os discursos e a trajetória de quase três décadas de Bolsonaro na Câmara. As divergências ficam explícitas num dos debates mais acalorados do cenário econômico atual. O pré-candidato não compartilha com o economista a ideia de redução de subsídios. A proposta é um fantasma, por exemplo, para setores como o agronegócio, que em 2017 obteve renúncia fiscal que chegou a R$ 23,8 bilhões.

Em busca de apoio dos ruralistas, o pré-candidato ressalta que é contra a privatização do Banco do Brasil, órgão de fomento do setor. "Se privatizar, como fica o financiamento do setor produtivo rural? Alguns falam, não é só ele (Guedes): 'Vamos privatizar essas estatais que vão dar dezenas de bilhões'. Mas quem me garante que a dívida interna vai voltar ao patamar que estava?", questiona. "Se der um problema, ninguém vai culpar a equipe econômica, vai dar porrada no comandante", ressalta. "É preciso avaliar o paciente. Vai deixar o dedo e amputar o corpo?"

Como todo namoro, não há compromisso de casamento. Bolsonaro e Guedes têm mantido contatos quase semanais no Rio de Janeiro, telefonemas e mensagens diárias no WhatsApp. Procurado nas duas últimas semanas, o economista não retornou os contatos.

Influência

O pré-candidato do nanico PSL diz que pretende apresentar um "pacotão" de medidas para destravar a economia. A ideia é fazer uma varredura de projetos em tramitação há anos na Câmara e no Senado. Entre elas está a redução da estrutura do Ministério Público e da Justiça do Trabalho. "Não vou mostrar o pacotão agora para não levar pancada por aí", afirma. "Ninguém vai ser penalizado", afirma. "Geralmente, pacotão é aumento de imposto. O nosso é diferente."

O conjunto de medidas econômicas que a equipe de Bolsonaro prepara tem diretrizes liberais, mas o nome remete ao "Pacotão" do general Ernesto Geisel, que, em abril de 1977, fez mudanças nas regras eleitorais e fechou o Congresso por duas semanas. Para convencer o mercado, Bolsonaro diz que o discurso de fechar o Legislativo ficou no passado, quando era um deputado iniciante recém-saído do Exército.

Acostumado a disparar na presidente cassada Dilma Rousseff, o pré-candidato começou a ter lições sobre outra mulher da política. A ex-primeira ministra britânica Margaret Thatcher é um exemplo do modelo econômico de Guedes. "A Inglaterra acabou com as subjetividades e reduziu a carga tributária", diz Bolsonaro. Ele, no entanto, evita falar dos efeitos colaterais das mudanças de Thatcher, que fez cortes drásticos na área social e aumentou o desemprego.

"Economês"

Análises e ideias do economista começam a aparecer nas falas e nos discursos de Jair Bolsonaro. "O pessoal da economia que está comigo disse que vai ter que reduzir a carga tributária", afirma o pré-candidato. "A minha opinião de leigo é que você pode diminuir a sonegação e aumentar a arrecadação, porque nós ultrapassamos a Curva de Laffer há muito tempo. OK?", diz, debochando de um termo de alta complexidade para os leigos. A teoria mede o limite de crescimento da arrecadação em relação ao da carga tributária.

Bolsonaro diz que a queda de tributos e uma fiscalização mais eficiente garantem as receitas para implantar ações sociais. Ele é econômico ao falar de política monetária, limitando-se a dizer que o Banco Central deve ser "independente politicamente", como, aliás, propõe Guedes. "Não é fácil discutir esse assunto, cara. Não tem a fórmula mágica."

E emenda com relatos que sugerem aproximações por parte dos setores financeiro e empresarial à sua campanha: "Temos independência para trabalhar. É comum em reuniões que faço alguém falar: 'Vamos ajudar financeiramente a campanha'. Eu digo: 'Não aceito'", conta. "Tem cara que fatura mais de um bilhão por ano. Não quero dever nada para ninguém. Ou chego (ao poder) de forma independente ou não chego."

Bolsa

O pré-candidato afirma que não pretende cortar programas sociais como o Bolsa Família. "É combater a fraude, não é acabar. O que puder inserir esse pessoal no mercado de trabalho, vamos inserir. No meu entender, ficará 40%, que você deve bancar, porque os caras estão condenados a morrer de fome."

Acompanhe tudo sobre:Eleições 2018Jair BolsonaroPaulo Guedes

Mais de Economia

ONS recomenda adoção do horário de verão para 'desestressar' sistema

Yellen considera decisão do Fed de reduzir juros 'sinal muito positivo'

Arrecadação de agosto é recorde para o mês, tem crescimento real de 11,95% e chega a R$ 201,6 bi

Senado aprova 'Acredita', com crédito para CadÚnico e Desenrola para MEIs