Economia

Está ficando mais difícil encontrar boas ideias?

Enquanto Thomas Edison inventou a lâmpada sozinho em 1879, dezenas de pesquisadores foram necessários para criar o iPhone

Inspiração (Thinkstock/Thinkstock)

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João Pedro Caleiro

João Pedro Caleiro

Publicado em 3 de outubro de 2017 às 15h56.

Última atualização em 3 de outubro de 2017 às 19h33.

São Paulo – Gordon Moore, co-fundador da Intel, colocou seu nome na história ao afirmar em 1965 que a capacidade dos processadores dobraria a cada dois anos.

A profecia foi cumprida de forma impressionantemente constante, mas o número de pesquisadores necessários para satisfazer a “Lei de Moore” é hoje 18 vezes maior do que no início dos anos 70.

“Ideias, e em particular o crescimento exponencial que implicam, estão ficando cada vez mais difíceis de encontrar”, de acordo com um estudo recente publicado pelo Escritório Nacional de Pesquisa Econômica dos Estados Unidos.

Os autores são Michael Webb, Charles I. Jones e Nicholas Bloom, da escola de Economia da Universidade de Stanford, e John Van Reenen, do MIT (Massachusetts Institute of Technology).

Em um post no blog de Stanford, Bloom aponta que houve tantas invenções revolucionárias no pós-Segunda Guerra Mundial que ficou complicado para os cientistas manterem o ritmo.

O símbolo de uma boa ideia até hoje é uma lâmpada, inventada sozinha por Thomas Edison em 1879, enquanto dezenas de pesquisadores foram necessários para criar o iPhone.

Um trabalho do economista Ben Jones sobre grandes inventores e vencedores do Prêmio Nobel mostrou que a idade média de produção de inovações subiu 6 anos ao longo do século XX.

Seria natural, considerando que as pessoas vivem e estudam mais, mas o problema é que este atraso não é compensado por uma produção mais intensa em idades mais avançadas.

Os modelos usados por economistas supõem que o crescimento de longo prazo é fruto de boas ideias e que essas ideias são resultado direto do número de pesquisadores e o quanto eles produzem.

Mas o que os dados do estudo de Stanford mostram é que há cada vez mais pesquisadores na ativa, mas  produzindo cada vez menos em termos relativos.

Olhando de perto para setores como o de produtos agrícolas (como milho e trigo) e de inovações médicas de combate ao câncer, a produtividade da pesquisa cai 6,8% por ano.

Os pesquisadores levantam uma hipótese: e se toda a inovação estiver sendo concentrada na criação de novos mercados e variedades ao invés de melhora das já existentes? Mas não é o que mostram os números agregados.

A produtividade geral da pesquisa cai 5% por ano. Os Estados Unidos precisaram dobrar o seu esforço de pesquisa a cada 13 anos apenas para manter constante o crescimento do PIB per capita.

Os autores apontam que essa queda da produtividade da inovação foi mascarada por um aumento forte nos recursos - financeiros e humanos - aplicados nela.

O que nos obriga a olhar para a questão pelo outro lado: talvez a queda da produtividade dentro da Lei de Moore não seja um problema justamente porque a demanda por melhores processadores é tão alta que vale a pena gastar o que for para atingi-la.

Afinal, nada vale mais do que uma grande ideia - e isso não mudou.

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