EXAME Fórum Inovação: Soumitra Dutta é observado por Dyogo Oliveira, do BNDES; Robson Braga de Andrade, da CNI; o presidente Michel Temer; André Lahóz Mendonça de Barros, de EXAME; e o ex-ministro Henrique Meirelles (Fabio Rizzato / Biofoto/Exame)
Maurício Grego
Publicado em 18 de maio de 2018 às 19h03.
Última atualização em 18 de maio de 2018 às 19h12.
São Paulo — À primeira vista, a situação do Brasil em relação à inovação é desanimadora. O país ocupa um vergonhoso 69º lugar no Índice Global de Inovação, atrás de países muito menos expressivos economicamente, como Macedônia, Moldávia e Ilhas Maurício. As consequências disso são terríveis para a economia, já que, sem inovação, a indústria brasileira perde competitividade.
Mas, para Soumitra Dutta, um dos mais respeitados especialistas em inovação no mundo, o Brasil pode evoluir rapidamente e até queimar etapas nesse processo se adotar as políticas públicas certas. Ele é um dos responsáveis pelo Índice Global de Inovação. É ex-reitor e professor da Escola de Negócios SC Johnson, da universidade Cornell, no estado americano de Nova York.
Dutta foi um dos palestrantes do EXAME Fórum Inovação, que aconteceu nesta sexta-feira (18) em São Paulo. O evento, realizado por EXAME em parceria com a Confederação Nacional da Indústria (CNI), reuniu autoridades, especialistas e líderes empresariais para discutir o futuro da indústria no Brasil.
Em sua palestra, Dutta destacou as dificuldades que o Brasil precisa vencer para deixar de ser um mau exemplo em inovação e os caminhos para superar essas barreiras. Para ele, mesmo perdendo a corrida até agora, o Brasil ainda tem uma boa oportunidade. Os avanços tecnológicos da chamada indústria 4.0, que emprega máquinas inteligentes e interconectadas, são um novo desafio para todos os países. É uma chance para reiniciar o jogo.
“Momentos de transformação como este são uma oportunidade para queimar etapas”, diz Dutta. “A indústria passa por uma revolução no mundo inteiro. Na maioria dos países, as empresas estão em situação parecida. As corporações brasileiras estão num nível comparável ao que vejo nos Estados Unidos e em outros lugares”, prossegue ele.
Dutta observa que há diversos países tentando dar essa arrancada: “A China tem focalizado muito intensamente a inteligência artificial. E a Índia está trabalhando numa estratégia nacional de inteligência artificial.” Ele cita, ainda, o curioso caso dos Emirados Árabes Unidos, que possuem, desde o ano passado, um Ministério da Inteligência Artificial. Esses são exemplos de países que buscam ganhar um lugar de destaque na corrida pelo avanço tecnológico. É algo que o Brasil pode fazer também, afirma Dutta.
A fala de Dutta foi acompanhada de perto pelo presidente Michel Temer, pelo ex-ministro da Fazenda Henrique Meilrelles e pelo presidente do BNDES, Dyogo Oliveira – todos presentes no palco durante a apresentação do especialista no EXAME Fórum Inovação, ao lado do presidente da CNI, Robson Braga de Andrade, e do diretor editorial de EXAME, André Lahóz Mendonça de Barros. Temer aproveitou para anunciar que terá um assessor para inovação junto a seu gabinete.
Para Dutta, o Brasil precisa vencer quatro barreiras para destravar a inovação. A primeira é o baixo valor da marca Brasil: “As pessoas gostam do Brasil, mas a marca não é associada à inovação.”
O segundo desafio é o capital humano: “O Brasil precisa investir mais em educação nas áreas de ciência e tecnologia. Não há motivo para um país com uma economia tão grande não ter nenhuma universidade entre as 100 melhores do mundo. Essas instituições são ímãs para o talento. É realmente importante construir esse tipo de excelência educacional.”
Uma terceira dificuldade é a inexistência de um ecossistema de inovação eficiente. Nas avaliações que compõem o Índice Global de Inovação, o Brasil tem notas baixas em itens como disponibilidade de insumos, eficiência em inovação e colaboração entre universidades. Uma quarta barreira é a insuficiência de competências digitais nas organizações.
Dutta recomenda que qualquer política de inovação que o Brasil adote seja pautada por três valores: estratégia clara e abrangente, simplicidade (“há muitas vitórias fáceis”, diz ele) e velocidade. A busca da inovação é uma corrida. China e outros países têm avançado rapidamente. Assim, se o Brasil quiser conquistar uma boa posição, não pode perder tempo.
Em termos práticos, Dutta dá sete sugestões para o governo brasileiro implantar uma política bem sucedida de inovação. A primeira é trabalhar numa visão nacional sobre inovação e, ao longo desse processo, fortalecer a marca Brasil.
“Não há, no Brasil, um senso de esforço coordenado em prol da inovação. O governo deve criar um Conselho Nacional de Inovação para coordenar as iniciativas”, diz Dutta. Outra maneira de fortalecer a marca, sugere ele, é apoiar empresas brasileiras reconhecidas globalmente e multinacionais que têm centros de pesquisa no Brasil.
A segunda sugestão é que o país escolha eixos estratégicos de modo a definir quais áreas são prioritárias para ações que promovam a inovação. Um terceiro passo é desenvolver o ecossistema, o que pode começar com a criação de polos de inovação em torno de universidades, como fizeram os americanos em torno de instituições como Stanford, Harvard e o MIT.
A existência de linhas de financiamento para inovação e as parcerias público-privadas nessa área também podem ajudar. Além disso, um ranking nacional de inovação ajudaria a valorizar as iniciativas mais bem sucedidas. “A Índia tem um índice nacional de inovação. É um país que celebra os estados e as empresas mais inovadores. O Brasil pode fazer o mesmo”, diz Dutta.
A quarta recomendação de Dutta é que o Brasil faça o possível para simplificar a burocracia associada aos negócios. Em rankings globais de facilidade em fazer negócios, o país aparece na 125ª posição. Esse número quase assustador reflete a imensa burocracia presente no processo de abrir ou fechar uma empresa e no dia a dia dessas organizações.
O quinto passo para o Brasil, segundo Dutta, é construir uma indústria de capital de risco forte e vibrante, além de difundir atitudes empreendedoras: “Vocês devem ensinar pensamento crítico e empreendedorismo nas escolas. Devem encorajar empreendedores bem sucedidos a interagir com estudantes de modo a estimulá-los”.
Um sexto item é inovar no próprio Governo. Para Dutta, as tecnologias de informação e comunicação devem ser uma prioridade de governo: “É preciso simplificar processos e coloca-los online, ao alcance do cidadão.”
Sua sétima e última recomendação é que o país facilite ao máximo o acesso à internet em banda larga para a população. Isso teria um impacto positivo imediato na economia. “Um estudo do Banco Mundial mostrou que elevar em 10% a penetração da banda larga acarreta um aumento de 1,38% no PIB”, afirma ele.