Próteses de silicone: escassez ameaça uma mania nacional (Spencer Platt/Getty Images/AFP)
João Pedro Caleiro
Publicado em 17 de setembro de 2014 às 13h59.
São Paulo - Além dos governos socialistas, outra marca da Venezuela mundialmente reconhecida é a vaidade de suas mulheres.
Nenhum país tem tantos títulos Miss Universo (sete) e o implante nos seios é um hit entre a população: foram 85 mil operações no ano passado, de acordo com a Sociedade Internacional de Cirurgia Plástica Estética.
Isso coloca o país no 5º lugar no ranking mundial, atrás apenas de Estados Unidos, Brasil, México e Alemanha - todos com populações muito maiores.
"É como um rito de passagem, nossa versão do bar mitzvah", diz Daniela Holmes, nativa de Caracas, para o Daily Beast.
Esta mania nacional, no entanto, já está sendo afetada pela escassez crônica de produtos, a pior da história da Venezuela e que fez sumir das prateleiras dos supermercados de remédios a pão e papel higiênico.
De acordo com a Associated Press, cirurgiões plásticos afirmam que o ritmo de operações caiu radicalmente e que tem sido muito difícil conseguir os implantes aprovados pela agência americana FDA.
A alternativa tem sido o uso do mercado negro ou de próteses chineses, menos testadas porém mais baratas e mais fáceis de encontrar, já que a China é maior parceiro comercial da Venezuela e sofre menos restrições do governo.
O ex-presidente falecido Hugo Chavez considerava a obsessão nacional pelo aumento de seios uma coisa "monstruosa", posição hoje ecoada por muitos venezuelanos nas redes sociais.
Cenário
A escassez generalizada é resultado da falta de recursos para comprar importados, consequência dos controles de capitais para segurar a queda do bolívar. A Venezuela tem uma das maiores taxas de inflação do mundo, combatida com políticas de controle de preços.
Na semana passada, o economista e ex-ministro venezuelano Ricardo Hausman classificou como falha moral a decisão do país de continuar pagando seus títulos estrangeiros ao mesmo tempo que a escassez atinge níveis alarmantes.
O presidente Nicolas Maduro chamou Hausmann de "bandido" e ameaçou tomar medidas legais contra ele. A última medida de Maduro para enfrentar a escassez foi um sistema biométrico para controlar a compra de produtos básicos em supermercados.