Economia

Escaldado, investidor da Argentina rejeita pânico pós-eleição

Veja alguns dos cenários que economistas, estrategistas e investidores consideram às vésperas da eleição de 27 de outubro

Imagem de Alberto Fernandez, candidato opositor, em evento do partido durante eleições primárias (Sarah Pabst/Bloomberg)

Imagem de Alberto Fernandez, candidato opositor, em evento do partido durante eleições primárias (Sarah Pabst/Bloomberg)

Ligia Tuon

Ligia Tuon

Publicado em 26 de outubro de 2019 às 08h23.

Última atualização em 26 de outubro de 2019 às 08h23.

Investidores e analistas que erraram ao prever que o presidente argentino, Mauricio Macri, venceria uma importante eleição primária em agosto agora dão como certa a vitória de seu oponente no domingo.

A única pergunta, segundo eles, é o tamanho da diferença — que indicará se o vitorioso terá espaço para suavizar a retórica populista usada durante a campanha.

Gestores de recursos e praticamente todas as análises e pesquisas fizeram previsões equivocadas antes de Alberto Fernández derrotar Macri em uma votação primária que praticamente garantiu ao desafiante uma vitória neste fim de semana.

Ações, títulos e o peso despencaram diante do luto com a campanha de Macri, do temor pela volta do peronismo e do risco de um nono calote da dívida argentina.

Com a aproximação da votação final, não há necessidade de pânico novamente, disse Carolina Gialdi, estrategista-sênior de renda fixa do BTG Pactual em Buenos Aires.

Fernández tem ampla vantagem e sua vitória ainda daria bastante tempo para os mercados digerirem seus planos antes de ele assumir o cargo, em dezembro.

“Uma vez eleito oficialmente, Fernández poderá começar a definir as coisas”, disse ela em entrevista. “Ele poderá anunciar a composição de sua equipe, poderá anunciar medidas, poderá se reunir com investidores.”

O mercado vem se preparando para esse resultado desde agosto, portanto a vitória dele está “já totalmente precificada” nos preços dos títulos, ações e taxa de câmbio, segundo a estrategista.

Os argentinos também vão eleger quase metade do Congresso e votar para governador em locais importantes, incluindo a província de Buenos Aires.

Estes são alguns dos cenários que economistas, estrategistas e investidores consideram às vésperas da eleição de 27 de outubro:

Vitória de Fernández

Fernández e sua companheira de chapa, a ex-presidente Cristina Kirchner, venceram Macri por 16 pontos, conquistando quase 48% dos votos na eleição primária obrigatória de agosto. Um discurso no domingo à noite seria acompanhado de perto e qualquer sinalização tranquilizadora para os investidores poderia colaborar para a alta dos preços dos ativos argentinos.

Os títulos soberanos, que estão sendo negociados na faixa de 40% do valor de face, provavelmente recuarão se a margem de vitória de Fernández for muito maior do que se espera “porque seu mandato de populismo seria mais forte e a composição do Congresso seria mais de esquerda”, explicou Gialdi.

Segundo turno

Embora improvável, é possível que Fernández não consiga 45% dos votos ou 40% com uma margem de 10 pontos sobre o segundo colocado. Isso obrigaria os argentinos a voltar às urnas em 24 de novembro.

Um segundo turno poderia levar a taxa de câmbio para o intervalo de 50 a 55 pesos por dólar, calcula Win Thin, estrategista-chefe global de câmbio da Brown Brothers Harriman em Nova York. Neste caso, haveria uma reação brusca com ganhos temporários dos ativos, segundo ele.

Outros dizem que um segundo turno pode sinalizar uma mudança grande o suficiente no sentimento dos eleitores para tirar Fernández do páreo.

Reeleição de Macri

Uma vitória de Macri já em outubro chocaria os mercados, provocando ampla valorização dos ativos, incluindo ações e moeda, segundo Benito Berber, economista-chefe para a América Latina do Natixis em Nova York. Por sua vez, Thin espera que o câmbio ultrapasse a marca de 50 pesos por dólar se Macri for escolhido para comandar o país por mais quatro anos.

“Mesmo que Macri ganhe, não vejo os títulos passando de 60% do valor de face”, disse Walter Stoepplewerth, diretor de investimentos da Portfolio Personal Inversiones em Buenos Aires. “Isso porque o próximo governo vai herdar uma situação difícil em termos de amortização da dívida, inflação e crescimento.”

(Com a colaboração de Andres Guerra Luz)

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