Economia: o impacto do retorno de Trump na presidência dos EUA sobre o Brasil (Diogo Zacarias/MF/Divulgação)
Agência de notícias
Publicado em 6 de novembro de 2024 às 22h01.
O Ministério da Fazenda está atento à formação do novo governo de Donald Trump para avaliar o impacto de seu retorno à Presidência dos Estados Unidos na economia brasileira. Trump venceu a atual vice-presidente do país, Kamala Harris, com folga no colégio eleitoral e obteve também a maioria dos votos populares — algo inédito em sua primeira eleição, em 2016. Além da presidência, o bilionário assegurou maioria no Congresso e na Suprema Corte.
O resultado das urnas aumentou as preocupações globais sobre as possíveis ações de Trump, uma vez que o republicano promete cumprir com rigor as promessas de campanha. Sua primeira gestão na Casa Branca já trouxe sinais de protecionismo, e a maioria no Congresso pode possibilitar medidas ainda mais radicais.
A equipe econômica brasileira quer, entretanto, observar as escolhas de Trump para compor o governo e, assim, avaliar os rumos da política americana. De modo geral, espera-se maior protecionismo nos EUA, e há temores de que a presidência de Trump se torne um possível palanque para o bolsonarismo.
Para o Ministério da Fazenda, a volta de Trump ao poder aumenta a necessidade de ações concretas que possam conter o crescimento das despesas públicas e elevar a sustentabilidade fiscal. Em recente declaração, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, destacou que o discurso de Trump após a vitória foi "mais moderado" em comparação com o tom de campanha, sinalizando que o governo brasileiro deve “cuidar da nossa casa”:
“Na campanha, foram ditas muitas coisas que causam apreensão o mundo inteiro. [...] Entre o que foi dito e o que será feito, sabemos que nem sempre as coisas se traduzem como foram anunciadas”, afirmou Haddad. “Temos que aguardar um pouco e focar nas finanças para reduzir os impactos externos."
Entre as principais preocupações do Ministério está o possível "tarifaço" que Trump pretende impor às importações, o que impactaria diretamente o Brasil, segundo maior parceiro comercial dos EUA, apenas atrás da China. Além disso, analistas internacionais projetam que políticas de corte de impostos e controle imigratório podem elevar a inflação nos EUA e comprometer a trajetória de corte de juros recentemente iniciada pelo Banco Central americano.
Essas políticas podem gerar um dólar mais valorizado globalmente, afetando os preços no Brasil e levando à necessidade de juros mais altos. Por essa razão, o Banco Central brasileiro deve elevar a taxa Selic em 0,50 ponto percentual nesta quarta-feira, para 11,25%, e o mercado já espera que a taxa alcance 12,50% até o fim do ciclo de alta.
Além disso, o cenário de incerteza sobre o estilo de governança de Trump gera preocupações quanto às expectativas de investimento no Brasil. No mandato anterior, o republicano comunicava decisões importantes por meio das redes sociais, o que deixava o mercado em alerta.
Outro ponto de atenção é a política de Trump em relação à China, maior parceiro comercial do Brasil. A expectativa é de que o presidente americano retome medidas para conter o avanço chinês no comércio internacional. A imposição de tarifas sobre produtos chineses, num momento de fragilidade econômica para o país asiático, pode reduzir a demanda por bens brasileiros, o que pressionaria ainda mais o real.
No cenário multilateral, especialistas temem que o retorno de Trump represente um retrocesso em temas globais como o aquecimento global, a taxação de grandes fortunas e o combate à fome e à pobreza. Durante o próximo encontro do G20 no Rio de Janeiro, o atual presidente americano, Joe Biden, deve reiterar essas pautas, mas sua posição pode perder força com a transição presidencial.